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Mundo

Declarações de Vicente Fox despertam onda de críticas no México

4 jun 2012 - 20h08
(atualizado às 21h10)
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O ex-presidente mexicano Vicente Fox recebeu duras críticas nesta segunda-feira pelas polêmicas declarações que fez e que chegaram a ser chamadas de "canalhice" e uma traição aos princípios democráticos que sempre defendeu.

Fox, que governou o México entre 2000 e 2006, despertou polêmica por suas palavras, na maioria dos casos por se distanciar do Partido Ação Nacional (PAN), que o levou ao poder, e poupar apoio à candidata presidencial da legenda, Josefina Vázquez Mota.

Neste domingo, o ex-governante foi além e pediu aos mexicanos "cerrar fileiras" com quem "desponta como ganhador" no pleito de 1º de julho, em alusão ao aspirante do Partido Revolucionário Institucional (PRI), Enrique Peña Nieto.

Suas declarações caíram como um balde de água fria na campanha eleitoral de Vázquez Mota, que tenta remontar uma série de desacertos políticos que a relegaram ao terceiro lugar nas pesquisas de opinião, precedida por Peña Nieto e pelo esquerdista Andrés Manuel López Obrador.

"Me parece que uma democracia precisa de democratas, e um democrata jamais poderia afirmar que o retorno do autoritarismo não danifica a democracia", assinalou nesta segunda-feira a candidata do PAN em declarações à emissora "Radio Fórmula".

Vázquez Mota, que foi secretária (ministra) de Desenvolvimento Social durante o governo Fox, se sentiu politicamente abalada porque o ex-presidente assumiu que o retorno do PRI ao poder não implica riscos para uma democracia instalada no início deste século.

A postulante do PAN afirmou que, se o PRI recuperar o poder, após ter governado durante o longo período entre 1929 e 2000, o país voltará a uma fase de autoritarismo, até pior, porque, em sua opinião, esse partido agora é "mais perigoso" que antes, já que o "poder presidencialista" que tinha outrora foi transferido aos governos locais, segundo ela disse à Agência Efe em maio.

"O que me parece incompreensível, se não inaceitável, é que quem lutou com tanto empenho e conseguiu o voto de milhões de mexicanos para fortalecer a democracia participativa hoje se atreve a dizer que um governo autoritário não danifica a democracia, quando é justamente o contrário", declarou Vázquez Mota nesta segunda-feira.

Esse critério não coincide com as opiniões do ex-presidente, que no domingo disse que o México vive uma "democracia consolidada" e não se deve ter medo do "retorno ao autoritarismo" com a possibilidade de o PRI recuperar o poder. "Essa é uma farsa que está sendo usada".

No dia 2 de maio passado, em reunião com correspondentes estrangeiros, Fox já havia deixado claro este princípio. Para ele, o México de hoje é um "México diferente", com uma democracia eleitoral estabelecida que busca se transformar em "participativa".

Ele também disse então que apoiava a campanha eleitoral de Vázquez Mota, mas não participaria dos comícios. "É uma perda de tempo, é inútil".

As críticas a Fox também vieram da esquerda mexicana, liderada por López Obrador, que começou sua militância política no PRI, mas que, em 1988, rompeu com esse grupo, da mesma forma que outros dirigentes de destaque, para depois formar o Partido da Revolução Democrática (PRD).

López Obrador, o mais veterano dos candidatos presidenciais atuais, considerou as declarações de Fox "uma canalhice", um "ato infame e vil". "Não é possível que peça o apoio a sua candidata, à candidata de seu partido, e que agora, de maneira oportunista, esteja apoiando Peña Nieto. É uma imoralidade", afirmou o postulante em entrevista coletiva.

Embora não tenha atualmente um cargo na estrutura do PAN, Fox cresceu politicamente nesse partido conservador, milita nele desde 1987 e chegou à Presidência em 2000 filiado a ele, inaugurando uma etapa de substituição no poder que marcou a história recente do México.

O presidente do PAN, Gustavo Madero, pediu a Fox que "não traia a democracia". "Que Fox não esqueça que, após décadas de autoritarismo e atraso econômico e político no México, ele desfraldou a mudança. Por isso, é incongruente, contraditório e absurdo que peça o voto por um partido contrário ao que o postulou em 2000 ".

EFE   
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