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América Latina

Cristina Kirchner comemora a "década K" cercada por escândalos de corrupção

24 mai 2013 - 16h13
(atualizado às 16h19)
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O governo argentino finaliza nesta sexta-feira os preparativos da comemoração marcada para amanhã dos dez anos do kirchnerismo no poder, uma "década vencida", segundo a presidente Cristina Kirchner, que enfrenta a data cercada por escândalos de corrupção.

No dia 25 de maio de 2003, o peronista Néstor Kirchner assumiu o poder com um apoio de apenas 22% dos votos, em uma Argentina devastada pela crise econômica, com a promessa de tirar o país do "inferno" e levá-lo, pelo menos, ao "purgatório".

Sem reservas monetárias, dívidas no valor de US$ 180 bilhões, um tecido produtivo destruído, com uma taxa de desemprego de 24% e um nível de pobreza que chegou a 57%, Kirchner negociou a dívida, incentivou o consumo e reativou a indústria local.

Sucedido por sua esposa, Cristina, em 2007, o modelo econômico se manteve até sua morte, em 2010, quando a presidente modificou a fórmula para frear o impacto da crise internacional e aumentar o gasto público.

O resultado: dez anos consecutivos de crescimento, algo inédito na Argentina, queda da pobreza em mais de 50 pontos e uma taxa de desemprego de 8%, mas ao custo de cair no déficit fiscal, restringir o uso de divisas, alimentar a inflação e arrastar um grave problema energético pendente.

No meio, polêmicas decisões como o conflito com os sindicatos agrários, a nacionalização dos fundos de previdência (2008) e as expropriações da Aerolíneas Argentinas (2009) e de 51% das ações da espanhola Repsol na petrolífera YPF (2012), e o enfrentamento com a imprensa, especialmente com o Clarín, maior grupo multimídia do país.

Além da economia, outro dos pilares do "modelo K" foi a política de direitos humanos e o empenho dos Kirchner em botar no banco dos réus os repressores da ditadura militar - como o recentemente falecido Jorge Videla - que tinham se beneficiado da anistia de Carlos Ménem.

Porém, além das semelhanças entre Néstor e Cristina - sua aversão à imprensa e seu costume de não convocar reuniões de Gabinete, por exemplo -, há grandes diferenças em suas formas de governar.

"A década começou com um governo Kirchner, depois um duplo comando e depois, Cristina. O componente mais ideológico e mais pragmático de Kirchner ficou de lado", afirmou à Agência Efe Alejandro Catteberg, da empresa de consultoria Poliarquia.

O analista Rosendo Fraga considera que "o kirchnerismo é uma versão do peronismo que, após a morte de Kirchner, se transformou em 'cristinismo'".

"Para Néstor a ideologia era um instrumento da política, enquanto para Cristina é o contrário, a política é um instrumento da ideologia", destacou.

Kirchner dava um espaço a governadores, prefeitos e dirigentes sindicais que Cristina fechou, distanciando-se da velha-guarda peronista e apoiando-se em jovens valores, como os que integram "La Cámpora", liderada por seu filho Máximo, que passaram a engrossar os altos cargos da Administração.

Esta "década vencida", como a batizou Cristina, é para a atomizada oposição argentina, uma "década perdida", com um alto nível de atrito político e uma estratégia de enfrentamento que prejudicou a sociedade.

"Voltou-se a uma dinâmica de confronto muito forte, como consequência de um estilo de governo que se sente cômodo no confronto político", opinou Catteberg.

O governo "está exercendo o poder em sua plenitude. Com um regime de hiperpresidencialismo sem antecedentes desde 1983", declarou Fraga, acrescentando que o kirchnerismo foi a versão argentina de um fenômeno de governos estáveis que, com independência das ideologias, se repetiu em vários países da região, como Brasil e Colômbia.

Agora, Cristina enfrenta o desafio de eleições provinciais no meio de seu mandato, no próximo mês de outubro, que serão decisivas para definir o rumo do "modelo K" e seu próprio futuro político.

Um modelo que o deputado governista Agustín Rossi define em três palavras: "equidade, justiça e igualdade", e que para o opositor Julián Obiglio se resume em "menos democracia e maior autoritarismo".

EFE   
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