PUBLICIDADE

América Latina

Colômbia: chefe e delegado de paz das Farc são mortos em ataque

27 mai 2015 - 21h12
Compartilhar
Exibir comentários

Dois chefes das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc), incluindo um membro de sua delegação de paz, estão entre os 40 rebeldes mortos nos recentes ataques militares no país - informou o grupo nesta quarta-feira, acrescentando que continuará a dialogar com o governo.

"Informamos ao país e ao mundo que o companheiro Jairo Martínez, integrante da delegação de paz das Farc em Havana, que estava em missão de pedagogia de paz nessa Frente (rebelde atacada em Cauca na última quinta), encontra-se entre os guerrilheiros assassinados", declarou o comandante Pastor Alape à imprensa, em Havana.

Alape também confirmou o falecimento, em outro ataque no fim de semana, do comandante Román Ruíz, membro do Estado-Maior Central das Farc.

Embora a guerrilha tenha completado, nesta quarta-feira, 51 anos de existência sob pressão militar do governo colombiano, nenhuma das partes ameaçou abandonar o diálogo.

Assim como outros delegados de paz da guerrilha, Martínez, de 63 anos, cujo nome verdadeiro era Pedro Nel Daza Martínez, havia retornado à Colômbia para explicar aos combatentes das Farc o alcance dos acordos parciais obtidos nas negociações.

O objetivo das discussões em andamento é conseguir pôr fim a um conflito armado que já dura mais de meio século.

Ele já havia integrado a delegação de paz das Farc em Cuba em fevereiro de 2014, mas nunca foi um de seus negociadores com plenos poderes.

Cerca de 40 guerrilheiros das Farc morreram em três incursões militares em Cauca (sudoeste), Antioquia (norte) e Chocó (sudoeste), semanas depois de 11 militares terem morrido em uma emboscada rebelde em meio a uma trégua unilateral da guerrilha.

Esses ataques militares foram lançados depois de o presidente colombiano, Juan Manuel Santos, ter retomado os bombardeios contra as Farc, após a emboscada a soldados. A ofensiva levou a guerrilha a suspender na quinta-feira sua trégua unilateral, em vigor desde dezembro.

"Entramos em uma espiral de violência que parece que será fora de controle nas próximas semanas (...) O risco para o processo de paz é muito alto", disse à AFP o especialista Ariel Ávila, da Fundação Paz e Reconciliação da Colômbia, que monitora o conflito.

"Em um processo de paz tão avançado quanto esse, embora seja lento, é possível jogar tudo por terra com ações como essa", acrescentou.

A União Europeia pediu a ambas as partes que "se mantenham comprometidas com continuar as negociações" e disse que "devem ser adotadas medidas concretas para uma desescalada da situação no terreno".

Alape pediu que os corpos dos guerrilheiros mortos "sejam analisados por legistas nacionais e internacionais, sob o olhar neutro do Comitê Internacional da Cruz Vermelha", após denunciar que "vários (rebeldes) feridos foram executados com tiros de misericórdia pela tropa oficial" em Cauca.

Ele também pediu ao governo que "restabeleça a confiança" e tente "concretizar as medidas de desescalada do conflito, as quais estávamos analisando" antes do agravamento das hostilidades.

Desde que começaram, em novembro de 2012, as negociações em Cuba se desenrolam em meio aos conflitos na Colômbia, mas a trégua das Farc e a suspensão dos bombardeios do governo haviam reduzido os combates e as baixas. Agora, as tensões voltaram a aumentar.

Ao justificar o bombardeio contra as Farc, Santos disse, na última sexta, que "esta é uma ação legítima do Estado". No sábado, porém, declarou-se disposto a "acelerar as negociações" de paz.

O conflito colombiano já deixou mais de 220 mil mortos e seis milhões de deslocados, segundo números oficiais. Trata-se do último combate armado na América.

Até o momento, os envolvidos chegaram a um acordo sobre três dos seis pontos da agenda, além de um plano para a retirada de minas, que está paralisado devido ao recrudescimento das hostilidades.

AFP Todos os direitos de reprodução e representação reservados. 
Compartilhar
Publicidade
Publicidade