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América Latina

Autoridades mexicanas e "El Chapo": um jogo de gato e rato

8 jan 2016 - 23h11
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Manuel Soberanes Cobo.

Cidade do México, 8 jan (++EFaE++).- "Missão cumprida": está foi a mensagem que o presidente Enrique Peña Nieto escreveu triunfante nesta sexta-feira para anunciar a recaptura de Joaquín Guzmán Loera, colocando a anotação final ao mais recente capítulo do inverossímil jogo de gato e rato que o governo mexicano e o traficante protagonizaram por décadas.

A mensagem, divulgada através do Twitter, pretendeu lavar a "afronta para o Estado mexicano" que o próprio presidente reconheceu após a última fuga do líder do Cartel de Sinaloa de uma prisão de segurança máxima, ocorrida em 11 de julho do ano passado. Mas, mais do que a culminação de uma história de sucesso inequívoco do governo, a captura parece o epílogo de uma saga salpicada de audazes ações do traficante, triunfos parciais, fracassos, frustrações e golpes de sorte.

Nascido em 4 de abril de 1957 no município de Badiraguato, no estado de Sinaloa, no seio de uma família de agricultores, Joaquín Guzmán Loera começou sua carreira no crime como braço direito de Miguel Ángel Félix Gallardo, chefe do Cartel de Guadalajara, no anos 80.

Em 1989, Gallardo foi detido e seu cartel se dividiu. Guzmán, então, foi a Culiacán, capital de Sinaloa, para fundar sua própria quadrilha, se consolidando como o líder do tráfico de drogas no México.

Desde o começo da década de 90, o Cartel de Sinaloa, ou do Pacífico, transportou a droga procedente da Colômbia por túneis através da fronteira com os Estados Unidos, e a organização estendeu seus tentáculos até Europa e Ásia. Em várias ocasiões, ele também usou suas sofisticadas passagens subterrâneas para escapar, o que lhe valeu o título de "O Senhor dos Túneis".

Contudo, em junho de 1991, ele foi detido na capital mexicana pela Polícia Judiciária, mas conseguiu escapar depois de subornar com US$ 1mil o então chefe da polícia da capital mexicana, Santiago Tapia Aceves.

Em 1993, o cardeal mexicano Juan Jesús Posadas foi assassinado a tiros no Aeroporto de Guadalajara por homens do Cartel de Tijuana, dos irmãos Rafael e Benjamín Arellano Félix, e inimigos de Guzmán, que confundiram o clérigo com seu rival.

Nesse mesmo ano, "El Chapo" foi capturado na Guatemala e entregue ao México, onde foi condenado a 12 anos de prisão por suborno. Começou a cumprir a pena no presídio de segurança máxima de Almoloya de Juárez, a 90 quilômetros da capital do país, mas em 1995 foi transferido à penitenciária de Puente Grande, nos arredores de Guadalajara, e em 1997 recebeu uma nova condenação de 21 anos de prisão.

Em 19 de janeiro de 2001, "El Chapo" fugiu de Puente Grande escondido em um carrinho de lavanderia, de acordo com a versão oficial, que foi questionada por especialistas. Depois de permanecer como fugitivo da Justiça durante mais de 13 anos, Guzmán foi recapturado em 22 de fevereiro de 2014 em um condomínio de Mazatán, em uma ação das Forças Armadas que foi qualificada como o maior golpe ao narcotráfico no México em uma década, e novamente preso no presídio de Almoloya de Juárez.

Lá permaneceu até 11 de julho do ano passado quando, fazendo jus à sua reputação, fugiu através de um túnel de um quilômetro e meio de extensão que ligava sua cela a uma casa nas imediações da prisão. A ação evidenciou não só os serviços de segurança, que supostamente não perceberam a construção do sofisticado túnel nem da ausência do réu durante quase 30 minutos, mas o próprio Peña Nieto, que tinha garantido que uma segunda fuga seria "imperdoável".

Desde então, as forças de segurança se focaram em sua recaptura, centrando as buscas na região conhecida como "Triângulo Dourado", formada pelos estados de Sinaloa, Durango e Chihuahua e considerada a área de maior produção de papoula e maconha do México.

Em 16 de outubro do ano passado, o governo mexicano informou que o narcotraficante tinha sido ferido dias antes ao realizar "uma fuga precipitada, que de acordo com a informação obtida, lhe causou lesões em uma perna e no rosto".

Finalmente, "El Chapo" foi detido outra vez nesta sexta-feira em um motel nos arredores de Los Mochis, onde estava escondido após fugir pelo sistema de águas e esgoto de uma casa para escapar de uma operação das Forças Armadas iniciada após uma denúncia.

Nesta novela, resta saber se "El Chapo" será preso novamente em uma penitenciária mexicana para acabar de cumprir suas condenações ou se será extraditado aos Estados Unidos, que o reivindica por narcotráfico, para evitar que volte a escapar.

EFE   
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