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América Latina

As apostas de Cristina para manter o legado do kirchnerismo

Viúva de Néstor Kirchner, que chegou à presidência da Argentina em 2003, Cristina vai passar a faixa ao sucessor no dia 10 de dezembro

28 jun 2015 - 19h36
(atualizado às 20h58)
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Scioli (em pé), governador de Buenos Aires, e ministro Kicillof estão entre apostas da presidente para manter kirchnerismo no poder
Scioli (em pé), governador de Buenos Aires, e ministro Kicillof estão entre apostas da presidente para manter kirchnerismo no poder
Foto: Reuters

Doze anos após a chegada do seu marido e ex-presidente Néstor Kirchner à Presidência da Argentina, em 2003, a presidente reeleita Cristina Kirchner tenta manter o legado do kirchnerismo em um momento delicado da economia do país.

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Viúva de Kirchner, que morreu em 2010, ela passará a faixa ao sucessor no dia 10 de dezembro, após as eleições presidenciais de outubro – ou de novembro, caso seja realizado um segundo turno. Cristina definiu a chapa presidencial, mesmo antes das eleições primárias de agosto, e escolheu os principais candidatos governistas ao Congresso Nacional, segundo a imprensa local.

Nas listas de candidatos a deputado estão, por exemplo, o ministro da Economia, Axel Kicillof, o secretário-geral da Presidência, Eduardo "Wado" de Pedro, e o filho da presidente, Máximo Kirchner – aos 38 anos e sem ter ocupado cargos no Executivo, ele pela primeira vez disputa uma cadeira política.

Apesar do mau momento econômico e das implicações politicas da morte do promotor Alberto Nisman, em janeiro, Cristina recuperou popularidade nesta reta final de governo, segundo diferentes pesquisas de opinião, registrando em torno de 35% a 40% de aprovação.

Seu futuro é, porém, uma incógnita já que ela não será candidata a uma cadeira no Parlamento do Mercosul (Parlasul) ou ao Congresso.

"Cristina preferiu seguir exemplo (do ex-presidente brasileiro) Lula e da (presidente chilena) Michelet Bachelet e não quis buscar um cargo de menor hierarquia após ter sido presidente", escreveu o colunista Carlos Pagni, do jornal .

Analistas dizem que o destino do kirchnerismo dependerá, principalmente, de a chapa governista conseguir sair vencedora do pleito de outubro, já que opositores questionam as medidas econômicas atuais, como as duvidosas estatísticas de inflação.

No entanto, a oposição teria maior dificuldades no Congresso, de acordo com cálculos preliminalres dos especialistas.

Outros analistas especulam que Cristina espera realizar informalmente a articulação política do governo servindo de conselheira a políticos kirchneristas.

Sem primárias

Quanto aos candidatos kirchneristas, o ministro Kicillof é hoje apontado nos bastidores das conversas dos negociadores brasileiros como "responsável pelas maiores dores de cabeça na relação bilateral". "Com ele não tem diálogo e é difícil chegar a um acordo, não importa o tema", disse um deles.

Nesta semana, em meio a rumores de que poderia continuar como ministro, mesmo que seja eleito deputado, Kicillof disse ao Canal CN23: "Meu mandato (de ministro da pasta) termina em dezembro, junto com o da presidente".

Política da Frente Para a Vitória (FPV), Cristina chamou a atenção dos políticos opositores, dos analistas, de setores da imprensa, críticos do governo, e de eleitores nas redes sociais quando definiu a chapa presidencial – antes das primárias.

Máximo Kirchner, filho de Néstor e Cristina, pela primeira vez disputa uma cadeira política
Máximo Kirchner, filho de Néstor e Cristina, pela primeira vez disputa uma cadeira política
Foto: AFP

Carlos Zanninni, auxiliar de longa data do kirchnerismo, foi convocado para ser vice na chapa presidencial. Pouco conhecido do público, Zannini é atualmente secretário legal e técnico da Presidência, esteve preso na ditadura (1976-1983) e foi deputado e presidente do Tribunal de Justiça da província de Santa Cruz, na Patagônia, o berço político do kirchnerismo.

A escolha de Zannini pode ter sido, segundo o jornal , o motivo para o aumento do dólar paralelo nesta semana - a moeda foi cotada acima dos 13,40 pesos, maior alta em cinco meses.

"Estamos diante do efeito Cristina e não do efeito Zannini. A presidente definiu sua tropa para o Congresso Nacional para complicar a vida do próximo governo, seja quem for o eleito", disse o economista e opositor Alfonso Prat-Gay, ex-presidente do Banco Central na gestão kirchnerista, em entrevista à rádio Mitre, de Buenos Aires.

O economista Fausto Spotorno, da consultoria Ferreres e Associados, atribuiu a alta à "incerteza eleitoral" e à "falta de definições sobre problemas da economia, como a inflação" – estimada em cerca de 15% anual pelo governo e em 30% por consultorias econômicas.

Nesta semana, o candidato presidencial Daniel Scioli, governador da província de Buenos Aires, disse que "Zannini é um homem inteligente, que conhece o Estado e garante governabilidade e institucionalidade" do país.

As declarações foram feitas no primeiro ato de campanha dos dois candidatos, realizado, na noite quarta-feira, na província de Córdoba, onde Zannini nasceu. "Scioli não era visto como kirchnerista puro, mas sua popularidade levou a presidente a definir sua candidatura", disse à BBC Brasil a analista política Mariel Fornoni, da consultoria Managment&Fit.

Surpresa

Segundo ela, causou surpresa a escolha de Zannini como representante do kirchnerismo na chapa presidencial, já que ele não é conhecido popularmente. Em uma palestra em um seminário da Universidade Tres de Febrero, de Buenos Aires, o analista Eduardo Fidanza, da consultoria Poliarquía, disse que uma das incógnitas, caso vença a chapa governista, é: "Como fará Scioli para governar com um vice que é de Cristina?".

O analista político Jorge Giacobbe afirmou à rádio La Red que a escolha de Zannini é para manter "Scioli sob controle" do kirchnerismo. Em seu discurso de campanha, Scioli citou as "realizações" dos três governos kirchneristas – 2003 a 2015 -, como a geração de empregos, a criação de planos sociais e políticas de direitos humanos "reconhecidas internacionalmente".

Cristina Kirchner comemora 12 anos de kirchnerismo em ato:

Na última quinta, o jornal informou na primeira página que "Zannini estreou como candidato que garante o atual modelo (político) e como representante dos Kirchner". No mesmo dia, a presidente discursou em rede nacional de rádio e de televisão acompanhada por Scioli e Zannini e elogiou o candidato a vice.

"Hoje tem uma pessoa aqui que pode me entender, Zannini. Ele nos acompanha desde tempos provinciais (província de Santa Cruz)", disse a presidente. Os apoiadores, com bandeira da agremiação La Cámpora, que tem o filho de Cristina entre os fundadores, aplaudiram.

A presidente citou também o filho. "Uma vez, meu filho Máximo me disse quando entravamos (num lugar de um ato político) que sentia uma força muito grande, uma energia positiva, que nos levantava. Eu senti também. E é o que sinto agora aqui", disse na localidade de Santa Rosa, na província de La Pampa. Ela afirmou ainda que o país ressurgiu após a chegada do kirchnerismo e citou, entre outras medidas, a estatização da Aerolíneas Argentinas.

Seus apoiadores gritaram: "Vamos, vamos Argentina, somos 'soldaditos' (soldadinhos) de Cristina".

Foi a 26ª aparição em rede nacional realizada pela presidente neste ano, de acordo com cálculos da imprensa local. Cristina sugeriu criticar candidatos adversários como o pré-candidato opositor à Presidência Mauricio Macri, prefeito da cidade de Buenos Aires, e principal competidor de Scioli, segundo pesquisas de opinião.

Em seus sites, os jornais locais informaram: "Cristina é contra Macri ao dizer que não se governa com 'chamuyo' (blá, blá, blá, em tradução livre) e globos' (enfeite que caracteriza as festas eleitorais do macrismo).

Para Rosendo Fraga, do Centro de Estudos Nova Maioria, Cristina "aposta em reter o poder para voltar em 2019". As garantia para isso seriam a La Cámpora e Zannini e não Scioli.

"Ela teve que aceitá-lo para ter chance de chegar à Presidência e para que o kirchnerismo ficasse no poder", diz Fraga à BBC Brasil.

Ele lembrou ainda que no seu único discurso, em setembro de 2015, Máximo Kircner disse que, se perdessem a eleição, "entregariam o governo, mas não o poder".

Kirchner nomeia líder peronista como novo chefe de gabinete:
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