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América Latina

De Cristina a Messi, Argentina se une contra o feminicídio

Milhares de pessoas pedem o fim da violência contra as mulheres em ato nesta quarta-feira, em Buenos Aires

3 jun 2015 - 16h57
(atualizado às 20h31)
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Da presidente Cristina Kirchner ao astro do futebol Lionel Messi, os argentinos aderiram ao slogan "Nem uma a menos" (Ni una a menos, em espanhol), para dar um basta ao feminicídio na Argentina, onde uma onda recente de crimes contra mulheres, praticados por companheiros ou ex-companheiros, chocou a sociedade.

Marcha contra o feminicídio percorre ruas de Buenos Aires nesta quarta-feira
Marcha contra o feminicídio percorre ruas de Buenos Aires nesta quarta-feira
Foto: Marcos Brindicci / Reuters

A mobilização se concentrará em frente ao Congresso da Nação, em Buenos Aires, a partir das 17h (locais e em Brasília) e terá marchas similares em 24 províncias, além de Chile e Uruguai.

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No centro de Santiago, uma centena de manifestantes - a maioria, mulheres - se concentravam desde o início da tarde em frente à sede do governo, exibindo cartazes com dizeres, como "Com luto e com raiva", em repúdio à violência de gênero.

"Chega de feminicídios. Hoje, todos os argentinos nos unimos para gritar bem alto, #NiUnaMenos", postou o craque Lio Messi no Facebook.

A presidente Kirchner advertiu para o que considera "uma cultura devastadora do feminino, qualquer que seja o seu lugar", em um comentário publicado nas redes sociais.

Kirchner questionou, inclusive, outras formas de "violência", como "a cantada grosseira, vil, baixa" e os programas de televisão que mostram "a mulher coisificada, peitos (seios) e bundas tocados em público e medidas pelo Ibope", empresa que mensura a audiência da TV.

"A mulher transformada em objeto: e se, então, é apenas uma coisa, sempre haverá alguém que pensa que pode quebrá-la se não a tiver", acrescentou Kirchner.

A argentina Teresa Ponce carrega foto da filha Brenda, que foi queimada pelo marido, em marcha contra o feminicídio em Buenos Aires
A argentina Teresa Ponce carrega foto da filha Brenda, que foi queimada pelo marido, em marcha contra o feminicídio em Buenos Aires
Foto: Marcos Brindicci / Reuters

A marcha deve ter uma participação maciça e contará com o apoio de organizações humanitárias, estudantis, judiciais, todos os partidos políticos e, inclusive, da Igreja Católica, culto majoritário na Argentina.

"Chega de violência contra a mulher! Nem uma a menos! Valorizemos e respeitemos a vida sempre, de ponta a ponta!", expressou a Ação Católica Argentina, uma organização laica, subordinada à Igreja, para convocar a marcha.

Lei

A reivindicação principal é que se aplique a lei de proteção integral contra a violência de gênero, aprovada em 2009, mas até agora sem uma regulamentação efetiva para proteger as mulheres vítimas de violência doméstica.

"Esta mobilização ocorre porque houve três feminicídios emblemáticos recentemente", explicou à AFP Fabiana Túñez, da ONG Casa do Encontro, que divulga cifras sobre feminicídios em um país sem estatísticas oficiais sobre o tema.

Casos

Os casos que Túñez menciona são os de duas mulheres - uma esfaqueada em um jardim da infância na frente de seus alunos bebês, outra apunhalada em um bar da capital argentina em plena luz do dia - e o de uma menina de 14 anos, grávida, cujo namorado queria obrigá-la a abortar.

Segundo a investigação, Chiara Páez, assassinada a pancadas pelo namorado de 16 anos - com a ajuda da família dele e enterrada no quintal da casa - desatou no mês passado a campanha #NiUnaMenos nas redes sociais. "Isso marcou um ponto de inflexão social e político", disse Túñez.

Segundo esta ONG, em 2014, foram registrados na Argentina 277 feminicídios, deixando 330 crianças sem mãe. Isso significa que uma mulher morreu a cada 31 horas.

Nas redes sociais também foram divulgadas capas de veículos de comunicação que retrataram Kirchner, caricaturizando-a com um tapa na cara ou uma pistola, acompanhando o título, "Isso também é violência de gênero".

Desde 2012 a Argentina conta com uma lei que pune com a prisão perpétua o homem "que mate uma mulher ou uma pessoa que se perceba com identidade de gênero feminino".

Os organizadores consideram que só a lei não é capaz de conter esse flagelo e exigem a aplicação de um plano de erradicação da violência e a elaboração de estatísticas oficiais.

Além disso, pedem uma reforma educacional para instruir, em todos os níveis, a problemática da violência de gênero e capacitar as pessoas a acompanhar as mulheres vítimas de violência, especialmente as que denunciam e são ameaçadas por isso.

Uma pesquisa, divulgada na terça-feira pelo ministério de Desenvolvimento Social da prefeitura de Buenos Aires revelou que seis em cada dez mulheres disseram ter sido vítimas de violência psicológica e duas em cada dez denunciam ter sido agredidas.

A justiça conta com instrumentos para defender uma mulher ameaçada, mas agora tudo foi insuficiente. Segundo Túñez, o debate sobre a aprovação da lei ajudou para a "conscientização da sociedade sobre o impacto que a violência de gênero tem. Antes se falava em crimes passionais. Agora, é violência de gênero", lembrou.

AFP Todos os direitos de reprodução e representação reservados. 
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