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América Latina

Alpinista quer completar maratona de 117 picos mais altos dos Andes

Sozinho e com ajuda de uma moto adaptada, Maximo Kausch já escalou 59 das montanhas de mais de 6 mil metros na cordilheira

30 set 2013 - 08h28
(atualizado às 08h29)
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Depois de escalar 59 montanhas com 6 mil metros de altitude nos Andes, o montanhista Maximo Kausch poderia se dar por satisfeito: de acordo com os registros que mantém, ele já seria a pessoa que mais escalou montanhas com mais de 5,5 mil metros em todo o mundo. Porém, o projeto pessoal do alpinista é mais ambicioso. Ele pretende escalar todas as 117 montanhas com mais de 6 mil metros da cordilheira sul-americana.

Ele subiu os 59 picos, do Equador até a região central do Chile, em dois anos - e espera concluir as escaladas restantes em outros dois. A tarefa parece impossível para um montanhista ocasional, mas é diversão pura para alguém que passa oito meses por ano nas montanhas. "Ninguém vai na maioria desses lugares há anos ou décadas. Estou montando um banco de dados que vai ficar disponível para qualquer montanhista que queira escalá-las", diz ele.

Deserto

Maximo nasceu na Argentina e se mudou para o Brasil com a família quando tinha oito anos. Ele trabalha como guia de montanha e já escalou em mais de 25 países, como China, Arábia Saudita, Tadjiquistão, Nepal e Paquistão.

Ele começou a escalar com 15 anos, e aos 17 subiu sua primeira montanha acima de 5,5 mil metros. Aos 23 já estava guiando clientes em montanhas com mais de 8 mil metros no Himalaia. Em 2012, depois de escalar pela quinta vez o Cho Oyu (montanha no Himalaia com 8.201 metros), Maximo teve a ideia de escalar todos os picos com mais de 6 mil metros dos Andes.

"No início, achei que seriam cerca de 50 picos. Passei 3 anos mapeando as possíveis rotas e como me aproximar das montanhas." Muitas delas sequer têm nome ou são conhecidas por quatro ou cinco nomes diferentes.

"Não sabemos quase nada sobre os Andes. As pessoas conhecem o Aconcágua (a montanha mais alta das Américas, com 6.962 metros) ou o Siula Grande (6.344 metros), por causa do livro Tocando o Vazio (publicado no Brasil em 2004). Mas além desses (picos de) 6 mil (metros) há pelo menos 115 outros picos menos explorados, e muitos nunca foram escalados por ninguém antes", diz Maximo.

Uma quantidade considerável desses cumes está em regiões desérticas, a centenas de quilômetros de vilas e povoados. "Havia épocas em que eu ficava até 15 dias completamente sozinho sem ver nenhum tipo de sinal humano, nem trilha ou mesmo pegadas. Durante a noite, eu via aviões voando a 10 mil metros de altitude, e era o único vestígio humano com que eu tinha contato."

O método usado por ele para explorar os picos é pouco convencional. Lugares como o Aconcágua normalmente levam cerca de 20 dias para serem escalados, com equipe e estrutura de apoio. Maximo vai sozinho, sem nenhuma equipe de apoio, levando equipamento e suprimentos em uma moto adaptada para funcionar em altitude.

O projeto tem sido realizado nas brechas entre suas expedições comerciais. Na primeira fase, ele fez os primeiros 30 cumes, entre setembro e outubro de 2012. "Eu fazia três ou quatro cumes em alguns dias, às vezes dois no mesmo dia, e descia para a cidade mais próxima para me abastecer e partir para a próxima sequência", lembra Kausch.

Imprevistos

Além da paciência para concluir um projeto dessa magnitude, ele afirma que é preciso gostar de adrenalina e ter sangue frio para lidar com mudanças de rota e riscos não previstos.

"Na região do vulcão Salín, no norte do Chile, tive que desviar de minas terrestres antitanque, colocadas em 1978 pelos militares. Foi um erro de planejamento que me colocou ali. Mas quando descobri, já era tarde, e percorri os últimos cem metros praticamente em pânico."

Outro risco é de os equipamentos falharem. No norte argentino, numa região desértica perto do vulcão Veladero, ele se deu conta de que o óleo de motor da moto havia queimado totalmente. "Para não deixar o motor fundir coloquei o único óleo que eu tinha, de cozinha, que queimou na hora. A moto ficou cheirando a fritura no resto da viagem."

Para rodar 15 mil quilômetros por estradas precárias e encostas não frequentadas, o "curso" foi prático. "Eu nunca tinha subido numa moto. No primeiro quilômetro de terra, a moto caiu pelo menos sete vezes. No mesmo dia consegui dobrar a estrutura externa e capotar duas vezes. Essa foi a minha autoescola."

Ao longo do projeto, Maximo Kausch se deparou com diversos achados arqueológicos. Ele afirma ter encontrado 14 ruínas nos cumes, possivelmente altares de sacrifícios humanos, construídas pelos incas há mais de 500 anos. Embora parte delas já esteja catalogada por arqueólogos argentinos e chilenos, outras são desconhecidas.

Recorde

Maximo acredita ter quebrado o recorde mundial e se tornado a pessoa com mais montanhas de altitude extrema no currículo ao chegar, em agosto de 2013, ao 59º cume com mais de 6 mil metros, embora tal recorde não tenha sido oficializado ainda.

Acredita-se que o recorde anterior era do guia suíço Michael Siegenthaler, que em 2005 completou a escalada de 60 montanhas, três delas com menos de 6 mil metros. Siegenthaler, porém, usou equipe de apoio e investiu cerca de 200 mil francos suíços (cerca de R$ 488 mil). Entre a adaptação da moto, suprimentos e logística, Maximo gastou R$ 9 mil até agora, sem patrocínio.

Em novembro, ele deve voltar do Himalaia, para onde está indo conduzir expedições comerciais, e rumar aos Andes para retomar o projeto nos meses seguintes. E, para depois de concluir esse desafio, Maximo já está pensando em outro: "Eu imagino algo como escalar todas as montanhas de 5 mil dos Andes: são cerca de 400". 

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