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América Latina

Ex-ditador argentino Jorge Videla morre na prisão aos 87 anos

Videla, que liderou a ditadura que governou a Argentina entre 1978 e 1983, cumpria pena de prisão perpétua, embora jamais tenha reconhecido o tribunal que o condenou e se dissesse um 'preso político'

17 mai 2013 - 10h10
(atualizado às 14h32)
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O ex-ditador argentino Jorge Rafael Videla morreu nesta sexta-feira em sua cela, aos 87 anos. Videla foi o cérebro da ditadura que governou a Argentina entre 1976 e 1983, período em que desapareceram cerca de 30 mil pessoas, segundo organizações de direitos humanos. 

O ex-ditador foi condenado a várias penas de prisão perpétua por crimes contra a humanidade durante o governo militar. Videla, que estava detido em uma prisão comum da província de Buenos Aires, morreu de causas naturais, segundo o canal C5N.

"Durante a noite não se sentia bem, não queria jantar e esta manhã o encontraram morto na cela", disse à imprensa Cecilia Pando, presidente da Associação de Familiares e Amigos de Presos Políticos da Argentina (AFYAPPA), como se autodenominam os militares condenados por crimes na ditadura.

Jorge Videla estava preso em Buenos Aires
Jorge Videla estava preso em Buenos Aires
Foto: Reuters

Videla foi condenado pela primeira vez em 1985 a passar o resto da vida atrás das grades por terrorismo de Estado. Mas, em 1990, o então presidente Carlos Menem o indultou. Na ocasião, no entanto, não foram julgados os roubos de bebês, razão pela qual Videla voltou à prisão em 1998, onde permaneceu somente 38 dias. Por estar acima dos 70 anos, conseguiu o benefício da prisão domiciliar.

Em 2008, Videla regressou ao cárcere. E, em 2010, depois da anulação das leis de perdão e indultos pelo governo de Néstor Kirchner, o ex-ditador foi condenado pela segunda vez à prisão perpétua pelos crimes contra a humanidade cometidos na província de Córdoba.

Além de ter sido condenado à prisão perpétua, o ex-general foi destituído da patente militar pela justiça civil, que ele nunca reconheceu.

"Como fiz antes, quero manifestar que este tribunal carece de competência e jurisdição para me julgar pelos casos protagonizados pelo exército na luta contra a subversão", disse na terça-feira passada ao depor em um julgamento sobre o Plano Condor, a coordenação da repressão das ditaduras do Cone Sul .

Quase 500 crianças foram roubadas por militares, policiais ou outras pessoas durante a ditadura, de acordo com a organização Avós da Praça de Maio, cujos trabalhos permitiram que 108 delas recuperassem a verdadeira identidade.

Videla, Massera e Agosti, os líderes do golpe

Junto a Emilio Massera e Orlando Agosti, Videla liderou o golpe de Estado do dia 24 de março de 1976 que derrubou a presidente María Estela Martínez de Perón, terceira esposa do três vezes governante Juan Domingo Perón.

Massera, comandante da Marinha argentina, morreu em novembro de 2010, enquanto Agosti, que liderava a Força Aérea ao momento do golpe, morreu em outubro de 1997. Igual sorte teve Roberto Eduardo Viola, comandante do Exército argentino que sucedeu Videla à frente da Presidência de fato, cargo que ocupou entre 29 de março de 1981 e 11 de dezembro do mesmo ano.

O terceiro governante do regime ditatorial, Leopoldo Galtieri, que presidiu o país entre 1981 e 1982, morreu em 12 de janeiro de 2003. Em março passado também faleceu José Alfredo Martínez de Hoz, ministro da Economia da ditadura e artífice das medidas neoliberais implementadas durante o regime.

Bignone, único sobrevivente

O único sobrevivente entre os máximos responsáveis do denominado "processo de reorganização nacional" é Reynaldo Bignone, presidente de fato entre 1º de julho de 1982 e 10 de dezembro de 1983, quando Argentina recuperou a vida democrática.

O ex-militar foi sentenciado em março passado à prisão perpétua por crimes de lesa-humanidade cometidos no centro clandestino de detenção da guarnição militar de Campo de Mayo, nos arredores de Buenos Aires, pena que se uniu a outras anteriores por sua atuação durante a ditadura.

Bignone, 85 anos, negociou a transição à democracia após assinar uma Lei de Anistia, que foi cancelada mais tarde, e ordenar a destruição de toda a documentação sobre detenções, torturas e assassinatos de desaparecidos.

Com informações do jornal El País e da agência AFP

Fonte: Terra
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