Tuaregues anunciam fim da ofensiva no norte de Mali
4 abr2012 - 16h52
(atualizado às 19h25)
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O grupo independentista tuaregue Movimento Nacional pela Libertação de Azawad (MNLA) anunciou nesta quarta-feira o fim "unilateral das operações militares" a partir desta quinta-feira, em resposta ao chamado do Conselho de Segurança da ONU para deter os ataques no norte de Mali.
"Após a libertação de todo o território de Azawad (norte de Mali) e levando em consideração o pedido do Conselho de Segurança, dos Estados Unidos, da França e dos Estados da região, o MNLA anuncia o fim unilateral das operações militar a partir desta quinta-feira, dia 5", diz o grupo em comunicado divulgado em seu site.
Na breve nota, assinada pelo secretário-geral do grupo, Bilal Ag Chérif, o MNLA "responsabiliza a comunidade internacional pela proteção do povo azawadi no caso de eventual ataque de Mali". O Conselho de Segurança condenou nesta quarta-feira os ataques, saques e a ocupação de território com uso da força perpetrado pelos grupos rebeldes no norte de Mali. Ele pediu o fim imediato das hostilidades e todo tipo de violência.
Os 15 membros do máximo organismo internacional de segurança, presidido neste mês pelos Estados Unidos, pediram as partes envolvidas no conflito de Mali que encontrem uma solução pacífica à situação por meio do diálogo político, ao mesmo tempo em que destacou a importância do respeito à segurança dos civis e dos direitos humanos. Além disso, ameaçou sobre o perigo que representa para a região Al Qaeda no Magrebe Islâmico, que aumentou sua atividade no norte de Mali, e mostrou seu "apoio aos esforços" da Comunidade Econômica de Estados da África Ocidental (Cedeao) encaminhados a conseguir "o restabelecimento da ordem constitucional" no país.
A Cedeao decidiu na segunda-feira em Dacar (Senegal) impor embargo total à junta militar de Mali, que tomou o poder em 22 de março, enquanto não se restabeleça plenamente a ordem constitucional. A rebelião tuaregue, que explodiu em 17 de janeiro, foi o principal detonante do golpe de derrubou o presidente, Amadou Toumani Touré.
O comunicado do MNLA ocorre pouco depois da difusão, também nesta quarta, de outra nota na qual garante que os tuaregues mantêm sob seu controle as principais cidades do norte do país - Kidal, Gao e Tombouctou. A publicação foi uma resposta ao surgimento de informações que apontam a cada vez maior influência do grupo tuaregue Ansar al Din e do grupo terrorista Al Qaeda no Magrebe Islâmico nas cidades tomadas pelos tuaregues, especialmente na histórica cidade de Tombouctou.
No dia 21 de março, um grupo de militares malineses aplicou um golpe de Estado contra o presidente Amadou Toumani Touré por considerar o governo incapaz de solucionar o conflito tuaregue e a ameaça terrorista da Al-Qaeda no norte do país. Touré estava a um mês de concluir seu mandato constitucional. Os militares anunciaram a suspensão da Constituição e de todas as instituições, a destituição do governo e o estabelecimento do toque de recolher
Foto: AFP
Um dia após o golpe, o secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, manifestou sua "profunda preocupação" com a situação em Mali, dando "respaldo à ordem constitucional" no país africano. Ele pediu calma e que as diferenças se resolvam de maneira pacífica, no marco do processo democrático. O Conselho de Segurança da ONU fez a portas fechadas a primeira reunião de emergência sobre a crise em Mali
Foto: AFP
A União Europeia (UE) e a União Africana (UA) condenaram o golpe de Estado, exigindo respeito e o retorno da ordem constitucional o mais rápido possível. Enquanto a UE criticou a suspensão da Constituição, a UA expressou o repúdio "a qualquer tentativa de tomar o poder pela força"
Foto: AP
No dia 22 de março, o sargento Salif Koné, representante da Junta Militar que tomou o poder, anunciou que todas as fronteiras de Bamako, capital do país, foram fechadas até nova ordem. Além dos limites territoriais, os militares suspenderam os voos e loquearam o aeroporto
Foto: AFP
OS Estados Unidos se unem ao coro da comunidade internacional e "condenam com veemência" o golpe de Estado no Mali, exigindo o "retorno imediato da ordem constitucional". O porta-voz da Casa Branca Jay Carney declarou que Washington "é solidário aos malinenses e ao governo legitimamente eleito do presidente Amadou Toumani Touré"
Foto: AP
No dia 23 de março, a Comissão Europeia suspendeu a ajuda temporária ao desenvolvimento do Mali até a crise política ser resolvida. A decisão, no entanto, não afeta a ajuda humanitária. O Executivo comunitário previu entregar 583 milhões de euros em ajuda entre 2008 e 2013. Também como punição, a União Africana (UA) optou por suspender Mali como um de seus países-membros
Foto: AFP
Seguindo os exemplos da UE e UA, os EUA também puniram o país africano, suspendendo a ajuda ao governo após o golpe. Por meio da porta-voz do Departamento de Estado, Victoria Nuland, os EUA pediram a restauração do governo eleito. "Queremos o restabelecimento do governo o quanto antes", afirmou Nuland
Foto: AFP
No dia 27 de março, a Junta Militar anunciou a adoção de uma nova "ata fundamental", destinada a garantir "o Estado de Direito e a democracia pluralista". A ata fundamental, criada pelo Comitê Nacional de Recuperação da Democracia e Restabelecimento do Estado (CNRDRE), com cerca de 70 artigos, funcionará como a Constituição do Estado durante o período de transição
Foto: AFP
A Comunidade Econômica de Estados da África Ocidental (Cedeao) suspende Mali como membro da organização sete dias após o golpe de Estado. Em reunião extraordinária realizada em Abidjan, na Costa do marfim, a comissão do bloco regional também anuncia que enviará uma delegação de altos cargos militares ao país para advertir à Junta Militar sobre as consequências do rompimento com o bloco
Foto: AFP
Em 28 de março, informações oficiais são divulgadas sobre o paradeiro do presidente deposto, de quem não se sabia o destino exato depois do golpe. Amadou Toumani Touré disse estar em Bamaco e não ser prisioneiro dos militares. "Estou bem em Bamaco e, graças a Deus, eu e minha família estamos todos bem. (...) O que é importante saber é que não sou prisioneiro", afirmou em entrevista
Foto: AFP
Após o golpe militar, o dia 29 de março ficou marcado por violentos confrontos na capital, Bamaco, entre partidários da Junta Militar e manifestantes contrários à tomada de poder que derrubou o presidente Touré. As forças governamentais também enfrentam os rebeldes tuaregues no norte, gerando pânico na população. Desde janeiro, cerca de 200 mil pessoas fogem de suas casas nas cidades onde os confrontos são mais violentos
Foto: AFP
No mesmo dia, a Cedeao dá um ultimato de 72 horas à Junta Militar golpista de Mali para devolver o poder a Amadou Toumani Touré. Caso os golpistas não cumpram a exigência, o bloco ameaça aplicar um embargo diplomático (retirada de seus embaixadores) e econômico (congelamento de ativos da Junta Militar e interrupção do envio de fundos da Cedeao ao país)
Foto: AFP
Em 1º de abril, atendendo à pressão internacional, o chefe da Junta Militar no poder em Mali, o capitão Amadou Sanogo, anuncia o restabelecimento da Constituição e promete iniciar esforços por uma transição. Sanogo disse que os militares concordaram em consultar as forças políticas locais para criar um órgão de transição com o "objetivo de organizar eleições pacíficas, livres, abertas e democráticas nas quais não participaremos"
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Militantes islamistas armados assumem o controle total do norte do Mali, iniciando um progresso em direção ao centro do país. A cidade de Motpi, ponto estratégico alcançado pelos rebeldes, está situada a meio caminho entre Bamako e Timbuktu, uma das capitais do norte. Os islamitas armados integram o movimento Ansar Dine (Defensores do Islã), grupo apoiado por elementos da Al-Qaeda no Magreb Islâmico (Aqmi)
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No dia 4 de abril, os principais partidos políticos rejeitam a oferta feita pela Junta Militar para uma convenção nacional com o objetivo de discutir a entrega do poder aos civis. Os partidos alegaram que duvidavam se as negociações levariam a um governo legítimo. "A realização da convenção é contrária e incompatível com o retorno da ordem constitucional", afirmou o grupo composto por cerca de 50 partidos políticos e organizações civis