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África

Seguidores de Mursi saem às ruas e choques deixam ao menos 8 mortos

5 jul 2013 - 18h37
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Dezenas de milhares de partidários da Irmandade Muçulmana, incitados por seu líder decidido a manter a mobilização, protestaram nesta sexta-feira nas ruas de várias cidades egípcias nesta sexta-feira para exigir o retorno do presidente Mohamed Mursi, derrubado pelo Exército, em meio a um clima de tensão extrema marcado por confrontos que deixaram oito mortos.

Ao final de uma jornada de manifestações organizadas por militantes favoráveis e contrários a Mursi, confrontos eclodiram à noite na capital, nas imediações da Praça Tahrir.

No registro mais recente das manifestações, a rede de televisão estatal anunciou a morte de duas pessoas nos choques ocorridos no Cairo. De acordo com o mesmo veículo, setenta pessoas ficaram feridas nesses incidentes.

Tiros ainda podiam ser ouvidos e os dois campos se atacavam com pedras na ponte 6 de Outubro, perto da praça emblemática da capital egípcia, onde estavam reunidos milhares de opositores ao presidente islamita.

O Exército anunciou que vai intervir para separar os manifestantes.

Mobilizados para uma "Sexta-feira de recusa" ao "golpe de Estado militar" e ao "Estado policial", os pró-Mursi foram à sede da televisão estatal depois de terem se reunido na periferia do Cairo.

Antes disso, o guia supremo da Irmandade Muçulmana, Mohamed Badie, se apresentou diante da multidão para estimular os partidários do movimento a permanecerem nas ruas "aos milhões" até que o presidente deposto seja restituído ao poder.

"Nós já vivemos sob um regime militar e não o aceitaremos novamente", alertou. Badie se referiu, com isso, aos 16 meses em que o Exército assumiu as rédeas do executivo entre a saída de Hosni Mubarak, derrubado por uma revolta popular em fevereiro de 2011, e a eleição de Mursi em junho de 2012.

Durante seu discurso, helicópteros militares sobrevoavam a multidão a baixa altitude.

As novas autoridades estabelecidas pelo Exército, após a deposição de Mursi na quarta, pareciam determinadas a formular rapidamente um "mapa do caminho" que deve levar a eleições antecipadas.

O presidente interino, Adly Mansour, nomeado pela instituição militar, dissolveu a câmara alta, que era dominada pelos islamitas, em seu primeiro decreto. Ele também nomeou um novo chefe do serviço de inteligência.

Mas essas decisões podem aumentar novamente a tensão em um país profundamente dividido, e confrontos envolvendo soldados e manifestantes contrários e favoráveis a Mursi têm sido registrados durante esta sexta. Cerca de 60 pessoas já morreram no Egito desde 26 de junho.

Após uma onda de detenções de lideranças da Irmandade Muçulmana, à qual pertence Mursi, o procurador-geral anunciou que operações de busca e apreensão serão realizadas contra nove delas -incluindo Badie- como parte de uma investigação por incitação ao assassinato" de manifestantes.

À tarde, milhares de partidários de Mursi deixaram uma mesquita de Nasr City, no subúrbio do Cairo, gritando "Mohamed Mursi é nosso presidente" e "Traidores!", e chegaram à entrada da sede da Guarda Republicana, situada perto do palácio presidencial.

Depois, eles tentaram afixar nas barreiras de arame farpado que cercam o edifício uma imagem do ex-chefe de Estado, ainda detido pelo Exército, bradando em diversas oportunidades advertências aos soldados. Tiros foram disparados, matando quatro pessoas, segundo a agência oficial Mena. Eles anunciaram que realizarão um 'sit-in' (manifestação em que as pessoas se mantem sentadas) diante do prédio até o restabelecimento do presidente.

Enquanto isso, de acordo com a Mena, uma pessoa morreu e 120 ficaram feridas em confrontos em Alexandria entre manifestantes defensores de Mursi e contrários ao mandatário deposto, que tiveram a intervenção das forças de ordem, enquanto em Assiout (sul) uma pessoa morreu durante enfrentamentos entre partidários do ex-chefe de Estado e as forças de segurança, que também deixaram 19 feridos.

Em resposta à "Sexta-feira de recusa", a oposição a Mursi convocou grandes manifestações, em particular para domingo, "em defesa da revolução de 30 de junho", em referência ao dia em que foram realizados gigantescos atos contra o presidente deposto.

Após a destituição de Mursi, o Exército pediu que os egípcios rejeitem a "vingança" e atuem em prol da "reconciliação nacional", enquanto Mansour pediu união em declarações à rede britânica Channel 4.

Embora Mursi fosse contestado pelo Ocidente, houve um grande mal-estar após a queda de um presidente eleito democraticamente.

Washington pediu na quinta que o poder não efetue "prisões arbitrárias".

A União Africana suspendeu o Egito, rejeitando "qualquer tomada ilegal do poder". O Ministério egípcio das Relações Exteriores lamentou profundamente a decisão.

Eleito em junho de 2012, Mursi era acusado por todos os males --administrações corruptas, problemas econômicos e tensões religiosas-- por seus adversários que viam nele um burocrata islamita inexperiente e ávido por poder. Ele foi derrubado pelo Exército após manifestações de magnitude inédita exigindo sua queda.

O golpe do Exército, apoiado por grande parte da população, pela oposição e por autoridades religiosas, abre caminho para um novo e delicado período de transição no país árabe mais populoso.

Para o representante da oposição, Mohamed ElBaradei, a intervenção do Exército para derrubar Mursi foi uma "medida dolorosa", mas necessária para "evitar uma guerra civil".

Enquanto isso, novos episódios de violência foram registrados nesta sexta na península do Sinai (norte), onde cinco policiais e um soldado foram mortos em ataques de militantes islamitas que não foram reivindicados.

AFP Todos os direitos de reprodução e representação reservados. 
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