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África

Queda de Mursi mostra que exclusão da sociedade civil não funciona mais

Analistas ouvidos pelo Terra sublinham que Mursi quis abocanhar grande fatias do poder, deixando de fora parcelas importantes da sociedade civil

4 jul 2013 - 10h39
(atualizado em 9/9/2013 às 15h47)
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O afastamento do poder do primeiro presidente democraticamente eleito no Egito, Mohamed Mursi, demonstra que governos que tentarem excluir grandes setores da sociedade das principais decisões não conseguirão se manter no poder. Esta é a opinião de analistas israelenses e palestinos ouvidos pelo Terra poucas horas após os militares tirarem o islamita do cargo, para delírio de milhares de pessoas reunidas na praça Tahrir e em outras cidades egípcias.

Para o jornalista e escritor israelense Uri Avnery, Mursi cometeu muitos erros. "O principal deles é que tentou abocanhar fatias grandes demais do poder, excluindo os setores liberal e secular do Egito, que são muito importantes", afirmou. "A Irmandade Muçulmana foi pouco inteligente na maneira como agiu depois de ganhar as eleições no Egito. Depois de serem perseguidos por dezenas de anos, tentaram controlar rapidamente todos os pilares do poder, principalmente o judiciário".

Avnery considera que o governo Mursi não fez acordos com os outros setores da sociedade egípcia e afastou totalmente o setor liberal. "O que os líderes da Irmandade Muçulmana queriam era criar uma república islâmica regida pela shariah (lei islâmica). Existe um provérbio em hebraico que diz que 'aquele que tenta levar tudo acaba não levando nada'", e foi exatamente isso que aconteceu com a Irmandade Muçulmana no Egito", afirmou.

"Boas noticias para os palestinos"

Para o cientista político da Universidade de Bir Zeit, Samir Awad, os últimos desdobramentos no Egito são "boas notícias para os palestinos". "Nós, os palestinos, estamos contentes com as mudanças no Egito e esperamos que isso leve ao fim do poder do Hamas na Faixa de Gaza".

De acordo com o analista palestino, a queda da Irmandade Muçulmana no Egito pode servir de "lição" para o grupo Hamas, que controla a região desde que tomou o poder à força, em 2007, e expulsou os líderes do Fatah.

O Hamas é considerado "filho" da Irmandade Muçulmana, pois foi fundado pelo Sheikh Ahmed Yassin, que era o líder do braço palestino do movimento egípcio na Faixa de Gaza. Igualmente sunitas e com aspirações de instalar um regime islâmico na Faixa de Gaza, o Hamas se fortaleceu quando Mohamed Mursi foi eleito à presidência do Egito.

"Na minha opinião, a queda dos Irmãos no Egito pode ter uma contribuição positiva na política interna palestina, facilitar a reconciliação entre Fatah e Hamas e a reunificação do povo palestino", afirmou Awad. "O que está acontecendo no Egito é uma boa notícia para todo o Oriente Médio, pois prova que não se pode excluir setores inteiros da sociedade".

Sistemas politicos mais inclusivos

"Espero que os desdobramentos no Egito ajudem o Oriente Médio inteiro a criar sistemas políticos mais inclusivos. No Egito ficou claro que, mesmo quando eleito democraticamente, nenhum partido pode tomar o monópolio do controle da sociedade", disse.

De acordo com o analista político Akiva Eldar, do Al Monitor, Israel não tem razão para se preocupar com as mudanças no Egito. "Acredito que o exército egípcio vai continuar respeitando o acordo de paz com Israel, conforme fez durante o breve governo de Mursi", disse Eldar ao Terra.

No entanto, Eldar ressaltou que nesse momento de transição política no maior país do mundo árabe "é importante que Israel mude de atitude e demonstre abertura para avançar em direção a um acordo de paz com os palestinos, nos moldes da iniciativa árabe de 2002".

Fonte: Especial para Terra
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