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África

Presidente interino do Egito presta juramento após golpe militar

4 jul 2013 - 09h22
(atualizado às 09h40)
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Um juiz pouco conhecido, Adli Mansur, prestou nesta quinta-feira juramento como presidente interino do Egito um dia após o exército derrubar o presidente islamita Mohamed Mursi, que segue sob custódia militar.

Mansur, presidente do Tribunal Constitucional, foi designado pelos militares para substituir Mursi. Em um breve discurso prometeu "proteger o sistema republicano" e ser o "fiador dos interesses do povo".

A queda de Mohamed Mursi, o primeiro presidente eleito democraticamente da história do Egito, coloca fim a um ano de poder islamita marcado por diversas crises e fortes protestos populares, e abre caminho para uma delicada transição neste país profundamente dividido entre partidários e opositores do presidente deposto.

O golpe militar no país árabe mais populoso do mundo provoca inquietação no exterior. Os Estados Unidos pediram para analisar as implicações legais na importante ajuda militar que concede ao Egito, enquanto a Rússia apelou por moderação a todas as partes.

Já o secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, pediu para que um regime civil seja restabelecido rapidamente.

"É preciso restabelecer o quanto antes um governo civil que reflita as aspirações do povo", declarou à imprensa durante uma viagem a Copenhague, acrescentando que a situação continua sendo instável e que apenas se resolverá com a união de todas as forças políticas.

Na praça Tahrir do Cairo, milhares de egípcios celebraram durante toda a noite a queda de Mursi, menos de três anos depois de festejarem no mesmo lugar a renúncia de Hosni Mubarak, em fevereiro de 2011.

Nesta quinta-feira ainda havia alguns grupos de manifestantes, enquanto os alto-falantes transmitiam música patriótica.

"Vitória para a legitimidade popular", "O presidente deposto pela legitimidade popular", "O Egito está de volta", intitulava a imprensa governamental e independente. Já o jornal Horreya al-Adala da Irmandade Muçulmana ignorou a deposição e falou sobre as manifestações a favor de Mursi.

A situação política se agravou na segunda-feira, um dia depois de grandes manifestações contra Mursi, que deixaram várias vítimas fatais. O presidente, eleito há um ano, era acusado por seus opositores de querer instaurar um regime islamita autoritário a favor de seu movimento, a Irmandade Muçulmana.

Os militares fixaram na segunda-feira um ultimato a Mursi de 48 horas e na quarta-feira o ministro da Defesa, o general Abdel Fatah al-Sisi e novo homem forte do país, anunciou a destituição do presidente e a suspensão da Constituição.

Após o anúncio, as forças de segurança o detiveram e o levaram à sede do ministério da Defesa. Mursi havia afirmado em um vídeo que continuava sendo "o presidente eleito do Egito" e denunciou um "golpe de Estado completo, rejeitado pelos homens livres do país".

Este desenlace aumenta os temores de novos episódios de violência. Desde 26 de junho, 57 pessoas morreram, 10 delas na noite de quarta-feira em confrontos com as forças de segurança e nos confrontos entre partidários e opositores a Mursi.

O ministério do Interior advertiu que responderá com firmeza aos distúrbios e tanques foram mobilizados nas ruas do Cairo.

Entre outras medidas contra a Irmandade Muçulmana, que chegou ao poder no ano passado após 30 anos de clandestinidade, o exército colocou sob prisão domiciliar a cúpula presidencial e foram emitidas 300 ordens de prisão contra os membros do movimento. Dois de seus líderes foram detidos, Saad al Katatni e Rashed Bayumi.

Uma fonte judicial indicou que também foi emitida uma ordem de prisão contra o chefe da Irmandade Muçulmana, Mohamed Badie.

Um funcionário de alto escalão do exército confirmou a detenção "de forma preventiva" de Mursi, que, assim como Badie e vários líderes do movimento, está proibido de deixar o território egípcio.

O "mapa do caminho" da transição política foi anunciado pelo general Sisi após negociações com o representante da oposição, Mohamed ElBaradei, e com os principais líderes religiosos muçulmanos e cristãos do país.

"Além da suspensão provisória da Constituição", o mapa do caminho prevê que "o presidente interino Adli Mansur se ocupará dos assuntos do país durante o período de transição até a eleição de um novo presidente", anunciou Sisi, ressaltando que o exército "permanecerá afastado da política".

As Forças Armadas, que dirigiram o país por 16 meses entre a renúncia de Mubarak e a eleição de Mursi, em junho de 2012, não informaram o tempo da transição.

Segundo o líder opositor Amr Musa, já começaram as consultas para formar um novo governo, que terá "plenos poderes".

AFP Todos os direitos de reprodução e representação reservados. 
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