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África

Egito instala estado de emergência e toque de recolher após massacre

14 ago 2013 - 11h04
(atualizado em 15/8/2013 às 10h38)
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O governo egípcio decretou nesta quarta-feira o Estado de emergência em todo o país durante um mês a partir das 16h locais (11h de Brasília), após os conflitos das últimas horas em várias províncias.

O governo também decretou um toque de recolher para o Cairo e outras 11 províncias do país - são 27 no total. A circulação de pessoas será limitada entre às 19h e às 6h,  indicou o porta-voz do governo, em uma mensagem difundida pela TV estatal. Um porta-voz do Conselho de Ministros explicou que a decisão de impor o toque de recolher foi do primeiro-ministro egípcio, Hazem el-Beblaui.

infográfico info egito 14 de agosto massacre mursi
infográfico info egito 14 de agosto massacre mursi
Foto: AFP

O estado de emergência permaneceu em vigor no Egito como desculpa para a luta contra o terrorismo de 1981 até maio de 2012, quando a junta militar que governou o país da queda do regime de Hosni Mubarak até a ascensão de Mohamed Mursi ao poder, em junho do ano passado, que decidiu não renová-lo.

Ao menos 149 pessoas morreram nesta quarta-feira no Egito depois que as forças de segurança agiram para dispersar um acampamento de manifestantes que exigem a restituição do presidente deposto Mohamed Mursi. A Irmandade Muçulmana, no entanto, afirma que o número de mortos deve chegar a centenas e que há milhares de feridos.

As tropas abriram fogo contra manifestantes em confrontos que trouxeram o caos a algumas áreas da capital e polarizaram ainda mais a população de 84 milhões de pessoas do Egito, entre aqueles que apoiam Mursi e os milhões que se opuseram ao seu breve governo.

A tropa de choque da polícia, usando máscaras de gás, aproximou-se agachada atrás de veículos blindados pelas ruas ao redor da mesquita Rabaa al-Adawiya, no nordeste do Cairo, onde milhares de apoiadores de Mursi mantinham uma vigília.

A violência se espalhou para além da capital, chegando às cidades no delta do Nilo de Minya e Assiut e à cidade na costa setentrional de Alexandria. Dezessete pessoas foram mortas na província de Fayoum, ao sul do Cairo. Mais cinco morreram em Suez.

Sete horas após a operação inicial, multidões de manifestantes ainda bloqueavam estradas, cantando e agitando bandeiras, enquanto as forças de segurança tentavam impedi-los.

Em um necrotério perto da mesquita, um repórter da Reuters contou 29 corpos, incluindo o de um menino de 12 anos. A maioria morreu de ferimentos de bala na cabeça. Uma enfermeira disse ter contado um total de 60 corpos em um hospital.

Manifestante joga galão d'água em fogo para tentar conter incêndio provocado pelos confrontos no Cairo
Manifestante joga galão d'água em fogo para tentar conter incêndio provocado pelos confrontos no Cairo
Foto: AFP

"Eles chegaram às 7h da manhã. Helicópteros por cima e tratores embaixo. Abriram caminho através de nossas paredes. Policiais e soldados atiraram gás lacrimogêneo contra crianças", disse o professor Saleh Abdulaziz, de 39 anos, enquanto estancava um sangramento na cabeça. "Eles continuaram a disparar contra os manifestantes, mesmo quando pediam para parar."

O Ocidente, em especial os Estados Unidos, que concedem aos militares egípcios US$ 1,3 bilhão por ano, tem se alarmado com a recente onda de violência. Na quarta-feira, a União Europeia exortou as forças de segurança a mostrarem a "máxima moderação" no país que tem um tratado de paz com Israel e controla a vital hidrovia do Canal de Suez.

Militares apertam controle

A ação para acabar com os acampamentos parece frustrar as esperanças restantes de trazer a Irmandade Muçulmana, o grupo de Mursi, de volta ao palco político central e destacou a impressão compartilhada por muitos egípcios de que os militares apertaram o controle.

A operação também sugere que o Exército perdeu a paciência com os persistentes protestos que imobilizavam partes da capital e retardavam o processo político.

Tudo começou logo após o amanhecer, com helicópteros sobrevoando os acampamentos. Tiros foram disparados enquanto os manifestantes, entre eles mulheres e crianças, fugiam de Rabaa, e a fumaça subiu sobre o local. Veículos blindados avançaram ao lado de tratores que começaram a derrubar as tendas.

O governo emitiu um comunicado dizendo que as forças de segurança mostraram o "maior grau de autocontenção", refletido em poucas baixas diante do número de pessoas "e do volume de armas e violência dirigidos contra as forças de segurança".

O governo, que prevê novas eleições em cerca de seis meses para devolver o regime democrático ao Egito, instou os manifestantes a não resistir às autoridades, acrescentando que os líderes da Irmandade Muçulmana devem parar de incitar a violência.

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