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África

Polícia usa gás lacrimogêneo no Cairo; funcionário dos EUA visita país

15 jul 2013 - 19h04
(atualizado às 19h36)
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A polícia disparou gás lacrimogêneo no centro do Cairo nesta segunda-feira, quando manifestantes que pedem o restabelecimento do presidente deposto islâmico Mohamed Mursi brigaram com motoristas e pedestres irritados com o bloqueio das principais ruas.

Partidários de Mursi, o primeiro presidente eleito livremente no Egito, atiraram pedras contra a polícia perto da rua Ramses, uma das principais vias da capital, e na Ponte Seis de Outubro, sobre o Nilo, no primeiro surto de violência no Egito em uma semana.

"É o Exército contra o povo, esses são os nossos soldados, não temos armas", disse Alaa el-Din, um engenheiro de computação de 34 anos, segurando um laptop.

"O Exército está matando nossos irmãos, ele está destinado a me defender e ele está me atacando. O Exército se voltou contra o povo egípcio".

Embora em menor escala e mais localizadas do que confrontos anteriores desde que Mursi foi deposto pelos militares em 3 de julho, as cenas de conflitos de rua aumentarão ainda mais as preocupações com a estabilidade no país mais populoso do mundo árabe.

Testemunhas oculares disseram que milhares de manifestantes pró-Mursi estavam na área e a polícia usou gás lacrimogêneo várias vezes para tentar controlar a multidão. Um grande fogo ardia na ponte, embora a causa não estava imediatamente clara.

Os confrontos aconteceram durante a visita do primeiro funcionário graduado dos Estados Unidos ao Cairo depois da deposição de Mursi. Ele foi esnobado por políticos islâmicos e por seus oponentes nesta segunda-feira.

Uma multidão de seguidores de Mursi ocupou uma praça perto de uma mesquita na zona nordeste do Cairo, levando uma gigantesca bandeira egípcia, cartazes e retratos do político, que ficou um ano no cargo e foi derrubado pelas Forças Armadas, após imensos protestos populares.

O Exército alertou nesta segunda-feira que vai reagir com "a máxima severidade, firmeza e força" se os manifestantes pró-Mursi tentarem se aproximar de quartéis.

Nos dias imediatamente subsequentes à queda de Mursi, pelo menos 92 pessoas foram mortas, sendo mais de metade alvejadas por soldados em frente a um quartel perto da mesquita que concentra os manifestantes.

Desde então, os protestos são tensos, mas majoritariamente pacíficos.

A manifestação desta segunda-feira foi uma das maiores dos últimos dias, e a multidão continuou crescendo depois de anoitecer, quando termina o jejum diário observado pelos muçulmanos no mês do Ramadã.

ENVIADO ESNOBADO

A crise no Egito, que tem um tratado de paz com Israel e controla o estratégico Canal de Suez, alarmou seus aliados na região e no Ocidente.

Após se reunir com o presidente, Adli Mansour, e com o primeiro-ministro, Hazem el-Beblawi, interinos, o subsecretário de Estado norte-americano, William Burns, garantiu não ter ido ao Cairo para "dar sermão em ninguém", mas muitos egípcios, de ambos os lados do espectro político, acham que Washington está tramando algo.

"Só os egípcios podem determinar seu futuro. Não vim com soluções norte-americanas. Nem vim para dar sermão em ninguém", disse Burns em rápida entrevista coletiva. "Não tentaremos impor nosso modelo ao Egito."

Burns chegou mantendo a posição cautelosa dos Estados Unidos, que evitaram descrever a deposição de Mursi como um golpe militar, já que isso poderia acarretar cortes na ajuda militar de 1,3 bilhão de dólares dos norte-americanos ao Egito.

O Departamento de Estado disse que Burns vai se reunir com "grupos da sociedade civil", mas o Partido Islâmico Nour e o movimento Tamarud, ambos anti-Mursi, rejeitaram o convite.

A Irmandade Muçulmana, grupo ao qual Mursi pertence, disse que não tem planos para se reunir com Burns, mas não ficou claro se os EUA fizeram algum convite nesse sentido.

O dirigente do braço político da Irmandade, Farid Ismail, acusou os EUA de serem responsáveis pela derrubada de Mursi. "Não nos ajoelhamos para ninguém, e não respondemos à pressão de ninguém."

(Reportagem adicional de Ashraf Fahim, Peter Graff, Shadia Nasralla, Noah Browning, Ali Abdelaty, Patrick Werr, Maggie Fick, Yasmine Saleh e Mike Collett-White, no Cairo; e de Arshad Mohammed, em Washington)

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