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África

Pai do programa nuclear do apartheid morre na África do Sul

2 jun 2013 - 08h07
(atualizado às 08h29)
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O físico Louw Alberts, pai do programa nuclear da África do Sul do apartheid, morreu esta semana em Pretória aos 89 anos, informou neste domingo o jornal Sunday Times.

Alberts revelou de uma forma curiosa e involuntária as ambições nucleares da África do Sul em 1974, quando era vice-presidente do Conselho Sul-Africano de Energia Atômica.

O físico participava de um encontro com estudantes em um instituto de ensino médio, quando respondeu a um aluno que qualquer país com o conhecimento sobre energia atômica que a África do Sul tinha podia fabricar uma bomba nuclear.

Para surpresa de Alberts, alguém presente na audiência contou o que ouviu para a imprensa.

O governo desmentiu que a África do Sul quisesse produzir uma bomba, e tanto o primeiro-ministro do país, John Voster, como o ministro da Defesa, Pieter Willem Botha, recriminaram Alberts pela declaração.

No entanto, em 1977 os Estados Unidos e a URSS anunciaram que a África do Sul tinha realizado testes nucleares no país, no deserto do Kalahari.

O ministro da Informação do regime do apartheid, Connie Mulder, reconheceu então que o governo utilizaria armamento nuclear caso fosse atacado.

Alberts assumiu em 1984 a direção geral do Ministério de Minas e Assuntos Energéticos. No cargo, aboliu no setor a proibição da expedição de certificados de qualificação de trabalhadores não brancos, o que condenava os negros a ficaram com os piores empregos.

A medida provocou hostilidade da direitista União de Trabalhadores Mineiros, que se negou a emitir certificados de qualificação para os trabalhadores negros.

De profundas convicções cristãs, Alberts defendeu com paixão em muitos debates e vários livros o caráter complementar da ciência e da religião.

Seu envolvimento com grupos ecumênicos liberais fechou as portas para ele da influente Afrikaner Broerbond, irmandade fundada para promover os interesses do povo afrikaner (descendentes dos colonos centro-europeus na África do Sul), da qual pertenceram todos os primeiros-ministros e presidentes do regime racista.

Alberts também teve um papel importante nas conversas políticas para desmantelar o apartheid.

Em 1991, Mangosuthu Buthelezi, líder do Inkhata, partido da etnia zulu e rival do Congresso Nacional Africano (CNA), de Nelson Mandela, retirou-se da mesa de negociações.

Alberts pediu emprestado então o avião privado de um amigo e viajou até a província de Kwazulu-Natal para convencer Buthelezi a voltar a negociar.

Personalidade complexa e contraditória, típica da convulsa história sul-africana, Alberts deixa mulher e quatro filhos.

EFE   
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