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África

Obama condena violência no Egito e cancela exercícios conjuntos

15 ago 2013 - 15h25
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O presidente americano, Barack Obama, cancelou nesta quinta-feira exercícios militares com o Egito para protestar contra a morte de centenas de manifestantes, mas não suspendeu a ajuda anual de 1,3 bilhões de dólares concedida ao país.

Obama também não hesitou em pedir que as autoridades egípcias, instaladas no poder pelo exército, levantem o estado de emergência e permitam protestos pacíficos, condenando "fortemente" a repressão aos manifestantes.

"Embora desejemos manter o nosso relacionamento com o Egito, a nossa cooperação tradicional não pode continuar como de costume quando os civis estão sendo mortos nas ruas e os direitos estão sendo suspensos", disse Obama a jornalistas em sua casa de férias de Martha's Vineyard.

Obama disse que os Estados Unidos informaram ao Egito sobre a suspensão dos exercícios militares Bright Star, realizados a cada dois anos desde 1981.

Em 2009, mais de 1.300 tropas americanas participaram do exercício, que também contou com a participação de Alemanha, Kuwait e Paquistão.

Mas eles também foram cancelados em 2011, quando o Egito estava no auge da revolta que derrubou seu ex-ditador Hosni Mubarak, um aliado próximo dos Estados Unidos.

Nesta quinta-feira, o secretário de Defesa americano, Chuck Hagel, esclareceu que os Estados Unidos irão manter os seus laços militares com o Egito, mas ressaltou que a recente onda de violência por parte do exército está colocando em risco estas relações.

"O departamento da Defesa continuará a manter relações militares com o Egito, mas deixei claro que essa violência e passos inadequados na direção da reconciliação podem colocar importantes elementos de nossa longa cooperação na defesa em risco", afirmou Hagel, ao comentar a conversa telefônica que manteve com o general Abdel Fattah al-Sisi, chefe das Forças Armadas do Egito.

O Egito vive dias de tensão desde a deposição de Mohamed Mursi, o primeiro presidente democraticamente eleito no país, no dia 3 de julho.

Mais de 500 pessoas morreram desde quarta-feira, quando as forças de segurança egípcias, desafiando os apelos à contenção por parte dos Estados Unidos e de outras potências, realizaram uma ofensiva contra as manifestações pró-Mursi.

Os Estados Unidos têm evitado chamar a deposição de Mursi de golpe de Estado, uma designação que exigiria o corte da ajuda americana ao Egito.

Obama afirmou que Mursi era "não inclusivo" e que "talvez mesmo a maioria" dos egípcios se opusessem ao líder da Irmandade Muçulmana.

"Embora não acreditemos que a força seja a maneira de resolver as divergências políticas, após a intervenção do exército, há várias semanas, ainda havia uma chance de reconciliação e uma oportunidade de seguir um caminho democrático", disse Obama.

"Em vez disso, vimos ser tomado um caminho mais perigoso, através de prisões arbitrárias, de uma ampla repressão às associações e simpatizantes do Sr. Mursi, e agora uma violência trágica que tem tirado a vida de centenas de pessoas", ressaltou.

Obama ignorou a pergunta de um repórter sobre a ajuda americana ao Egito, um dos maiores beneficiários da generosidade americana desde a assinatura de um tratado de paz com Israel, em 1979.

O presidente enfrenta uma crescente pressão para cortar a ajuda, com a publicação tanto no New York Times quanto no The Washington Post de editoriais muito críticos a sua postura.

O Washington Post escreveu que a administração Obama era "cúmplice" na repressão ao mostrar aos governantes do Egito "que suas advertências não eram críveis".

Já o secretário americano de Estado, John Kerry, elogiou anteriormente o exército e disse que ele estava "restaurando a democracia" ao derrubar o presidente eleito, embora mais tarde tenha voltado atrás em suas declarações.

O senador Rand Paul, por sua vez, um membro do rival Partido Republicano que é crítico à ajuda externa, pediu o fim imediato da ajuda. Ele denunciou que as forças egípcias estão utilizando veículos militares americanos para reprimir os manifestantes.

"Enquanto o presidente Obama condena a violência no Egito, seu governo continua enviando bilhões de dólares dos contribuintes para ajudar a pagar por isso", disse Paul em um comunicado.

O senador democrata Patrick Leahy, um crítico frequente de abusos militares no exterior, também afirmou que a ajuda ao Egito "deve cessar até o restabelecimento da democracia".

As autoridades israelenses já fizeram apelos para os Estados Unidos continuarem com a ajuda ao Egito, já que a encaram como vital para a preservação do tratado de paz e como garantia de cooperação militar contra extremistas islamitas.

Obama insistiu que os Estados Unidos não têm um candidato favorito no Egito, onde há muitas teorias da conspiração sobre o apoio americano a um lado ou a outro.

"A América não pode determinar o futuro do Egito. Essa é uma tarefa para o povo egípcio", completou o presidente.

AFP Todos os direitos de reprodução e representação reservados. 
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