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África

Nigeriano sobrevive dois dias em navio naufragado no fundo do mar

13 jun 2013 - 10h52
(atualizado às 11h02)
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Harrison Okene, 29 anos, posa para foto após entrevista com a Reuters em Warri, na Nigéria, em 12 de junho
Harrison Okene, 29 anos, posa para foto após entrevista com a Reuters em Warri, na Nigéria, em 12 de junho
Foto: Reuters

Após passar dois dias preso debaixo da água a temperaturas congelantes e respirar graças a uma bolha de ar em um rebocador que naufragou no Oceano Atlântico, o nigeriano Harrison Okene estava certo de que iria morrer. Então a luz de uma lanterna iluminou a escuridão.

Okene, um cozinheiro de 29 anos, estava a bordo da embarcação Jascon-4 que naufragou em 26 de maio devido a fortes ondas a cerca de 30 km da costa da Nigéria quando trabalhava para estabilizar um navio petroleiro que estava sendo carregado em uma plataforma. Das 12 pessoas a bordo, mergulhadores recuperaram 10 cadáveres, enquanto outro membro da tripulação segue desaparecido.

Okene sobreviveu respirando em uma bolha de ar de pouco mais de um metro em um banheiro e dormitório adjacente em que buscou refugio até ser resgatado por mergulhadores sul-africanos.

"Estava ali, na água, em total escuridão, pensando que era o fim. Pensava que a água ia encher todo o quarto, mas não o fez", disse Okene. "Tinha muita fome, mas, acima de tudo, muita sede", disse. A água salgada entrou em sua boca, mas não tinha nada para beber ou comer durante a sua empreitada.

O acidente

Às 4h50 do dia 26 de maio, Okene estava no banheiro quando percebeu que o rebocador estava começando a virar. Enquanto a embarcação e água viravam, ele forçou a porta metálica. "Quando sai do banheiro, estava tudo escuro e tentei buscar a saída através da escotilha de água", disse Okene à Reuters em sua cidade natal Warri, pequena localidade produtora de petróleo no delta do Rio Níger.

"Três caras estavam na minha frente e de repente a água correu com força total. Eu vi o primeiro, o segundo e o terceiro sendo levados. Eu sabia que eles estavam mortos".

Ele sabia que passaria os próximos dias preso embaixo sob o mar, rezando para que fosse encontrado. Afastando-se da única saída, Okene foi arrastado por uma passagem estreita a outro banheiro, desta vez junto à cabine dos oficiais do barco, enquanto o Jascon-4 virado colidia com o fundo do oceano. Para sua surpresa, seguia respirando.

Okene, vestindo apenas roupas de baixo, sobreviveu um dia no banheiro segurando lavatório virado para manter a cabeça fora da água. Posteriormente, ele reuniu coragem para abrir a porta e nadar até o dormitório do oficial, utilizando um painel de parede como pequena prancha para sair da água gelada. Ali ele passaria mais um dia.

"Milagre"

O que Okene não sabia é que mergulhadores enviados pela Chevron e pelo proprietário do barco, West African Ventures, estavam procurando os tripulantes, que acreditavam estar mortos.

"Escutei um barulho de martelo contra a embarcação. Boom, boom, boom. Nadei até o fundo e encontrei uma torneira. Tirei o filtro da água e golpeei o interior do barco na esperança de que alguém me escutasse. O mergulhador deve ter escutado o barulho", disse Okene.

Os mergulhadores entraram no barco e Okene viu a luz da lanterna na cabeça de um dos mergulhadores que passou pelo quarto. "Eu mergulhei e o toquei. Eu estava balançando minhas mãos e ele estava muito surpreso".

Os mergulhadores lhe deram uma máscara de oxigênio, um traje de mergulho e um capacete. Ele chegou à superfície às 19h32, mais de 60 horas depois do naufrágio do barco, disse.

Okene passou outras 60 horas em uma câmara de descompressão para que sua pressão corporal voltasse ao normal. Ele teria morrido caso tivesse sido exposto imediatamente à atmosfera.

O cozinheiro descreve sua sobrevivência como um milagre. Mas, passadas duas semanas, ele diz que as lembranças de seu tempo debaixo da água na escuridão ainda o perseguem. Okene diz não saber se voltará ao mar.

"Quando estou em casa, às vezes eu sinto que a cama em que estou dormindo está afundando. Eu acho que estou no mar de novo. Eu pulo e grito", disse. "Eu não sei o que impediu a água de encher o quarto. Eu estava chamando Deus. Ele fez. Foi um milagre". 

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