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África

Militares enfrentarão desafios para cumprir promessas no Egito

4 jul 2013 - 05h22
(atualizado às 06h05)
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As cenas incríveis e carregadas de emoção vistas na praça Tahrir, no Cairo, remetem a imagens semelhantes ocorridas no mesmo local há dois anos e meio. Fogos de artifício foram disparados e uma vasta multidão gritou e acenou com bandeiras celebrando depois que o então presidente Hosni Mubarak fora retirado do poder em fevereiro de 2011.

Foram necessários 18 dias de manifestações de rua sem precedentes para retirar do poder o presidente que governou o país por 30 anos com apenas alguns traços de democracia. Um período turbulento de governo militar se seguiu até o ano passado, quando eleições livres levaram ao poder o islamita Mohammed Morsi, com 51,7% dos votos.

Neste ano foram necessários só quatro dias de manifestações massivas para depor Morsi após uma onda de críticas e depois que os militares se voltaram contra ele, como haviam feito em relação a seu antecessor.

Então, a questão que permanece sem resposta é se os eventos recentes no Egito darão uma chance para o país reiniciar sua revolução ou se levarão a mais divisões perigosas e violência?

Manobras militares

Quando o comandante geral do Exército, general Abdul Fattah al-Sisi, anunciou a suspensão da nova Constituição - tingida por matizes islâmicos - e seu plano de ação para o retorno a um governo democrático, tomou cuidado para não repetir erros de seu predecessor.

Diferentemente do marechal de campo Hussein Tantawi - o ex-ministro da Defesa de Mubarak que o substituiu temporariamente após sua queda -, o general Sisi apontou o chefe da Suprema Corte Constitucional, Adli Mansour, como novo líder interino.

Sisi disse que um governo tecnocrata ajudará Mansour até que eleições presidenciais e parlamentares sejam realizadas. Durante seu pronunciamento ao vivo na televisão egípcia, o militar também deixou claro que tinha o apoio simbólico de importantes líderes políticos e religiosos.

Depois de um aumento recente na violência sectária, foi particularmente importante para os militares ouvirem o chefe do Instituto Islâmico al-Azhar e o papa da Igreja Copta dando seu apoio.

O chefe do principal bloco de oposição liberal, Mohammed El Baradei, também falou, dizendo que os pedidos do povo foram atendidos e a revolução de 2011 foi reiniciada.

Poder duradouro

O número de manifestantes pró-Morsi reunidos na praça Rabaa al-Adawiya, na cidade de Nars, desde a semana passada não supera a quantidade de manifestantes reunidos no coração da capital. Porém, sua permanência duradoura é um sinal de que grandes tensões ainda têm que ser resolvidas.

Há conflito e raiva profunda entre os partidários de Morsi, que repentinamente experimentaram uma virada em seu destino. Seu principal líder foi retirado do Palácio Presidencial e teria sido levado para um quartel da Guarda Republicana cercado por militares e arame farpado.

A Irmandade Muçulmana, da qual Morsi faz parte, é a maior e mais velha organização islâmica do Egito e continua sendo seu grupo político mais poderoso.

Desde que foi autorizado a formar um partido político após a revolução de 2011, o movimento provou sua habilidade em organizar uma base nacional que venceu as eleições presidenciais e parlamentares.

Apesar da pouca confiança existente entre a Irmandade Muçulmana e outras forças políticas, seria um erro tentar excluí-la do cenário político.

Guardião secular

Alguns analistas estão apontando para precedentes preocupantes desencadeados na região por intervenções militares. Apesar de estarem menos envolvidos em política nos tempos recentes, os militares da Turquia já removeram governantes eleitos ao menos quatro vezes.

Na Argélia, mais de 150 mil pessoas foram mortas em um conflito civil depois que os militares anularam os resultados das eleições de 1992, vencidas por um partido islâmico.

Os últimos dias serviram como um lembrete claro de que o Exército é a instituição mais forte do Egito. Ela consolidou seu papel de guardiã dos valores seculares.

Muito agora depende da habilidade dos militares de restabelecer a ordem sem causar um banho de sangue. Depois virá o teste que dirá se o Exército conseguirá cumprir sua promessa de construir um governo inclusivo, para dirigir o Egito durante tempos difíceis.

A primeira tarefa do próximo governo será lidar com a crise econômica: investimentos e turismo foram devastados pela continuada agitação e falhas de administração no país. A inflação subiu e há cortes regulares de luz e desabastecimento de combustível.

A ineficácia para lidar com esses problemas levarão apenas a desapontamentos mais profundos que podem dar continuidade ao ciclo de protestos.

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