Manifestantes protestam em universidades egípcias contra o Exército
Centenas de seguidores da Irmandade Muçulmana protestaram nesta terça-feira gritando "abaixo o governo militar" diante da Universidade do Cairo, num desafio às autoridades egípcias apoiadas pelo Exército, apesar dos confrontos com forças de segurança ocorridos há dois dias.
Partidários do presidente deposto Mohamed Mursi instaram os estudantes a protestar contra o Exército pela violência registrada no domingo, um dos dias mais sangrentos no Egito desde que os militares destituíram o líder islâmico, em 3 de julho.
A cifra de mortos nos distúrbios de domingo subiu para 57, de acordo com a mídia estatal, além de 391 pessoas feridas.
A Irmandade Muçulmana, agora proscrita pelo governo, acusa o Exército, liderado pelo general Abdel Fatah al-Sisi, de ter dado um golpe e juntado esforços com as forças de segurança para eliminar a entidade por meio da violência e prisões -- alegações que os militares refutam.
"Nós estamos aqui nos posicionando contra o golpe", disse a estudante de belas-artes Enas Madkour, de 19 anos, durante a passeata perto da Universidade do Cairo, onde as forças de segurança posicionaram dois tanques e bloquearam a via principal com arame farpado.
"Sou contra Mursi, mas não apoio a matança de umas pessoas pelas outras e não apoio o governo militar que temos agora", declarou Madkour, que usava um véu, como a maioria das mulheres muçulmanas do Egito.
Alguns estudantes discordavam desse ponto de vista.
"Sisi é um herói e não há ninguém como ele", disse Rania Ibrahim, de 18 anos. "Mursi foi um traidor e a Irmandade é como os cães", acrescentou uma amiga dela.
Houve também pequenas manifestações na Universidade Helwan, no sul do Cairo, segundo testemunhas. Na Universidade Zagazig, no nordeste da cidade, estudantes pró-Irmandade entraram em confronto com opositores e com moradores, num conflito a tapas, pedradas e pauladas, disseram fontes de segurança. Oito pessoas ficaram feridas.
As autoridades adotaram medidas repressivas contra a Irmandade nas últimas semanas. Em agosto, as forças de segurança mataram centenas de manifestantes pró-Mursi no Cairo e depois prenderam muitos líderes da entidade.
Nesta terça, o governo revogou o registro da Irmandade como organização não-governamental, obtido pelo grupo em março para poder operar legalmente.
No mês passado um tribunal baniu a Irmandade e congelou seus bens, forçando o grupo, vencedor das eleições no Egito depois da queda do autocrata Hosni Mubarak, em 2011, a ir para a clandestinidade.
(Reportagem adicional de Shadia Nasrallah)