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África

Egito: mesmo pressionados, manifestantes pró-Mursi mantêm mobilização

1 ago 2013 - 17h58
(atualizado às 18h25)
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Os manifestantes islamitas que exigem o retorno do presidente egípcio Mohamed Mursi deposto pelo Exército se recusaram a se desmobilizar nesta quinta-feira, enquanto a polícia se preparava para intervir, apesar dos apelos à calma da comunidade internacional que teme um banho de sangue.

A situação era confusa depois que vários líderes europeus realizaram nos últimos dias um verdadeiro balé diplomático no Cairo para tentar uma mediação entre o governo interino instituído pelo poderoso Exército e a Irmandade Muçulmana, movimento ao qual pertence Mursi. O chefe da diplomacia alemã, Guido Westerwelle, falou de uma situação "muito explosiva".

Desde o final de junho, alguns dias antes da destituição, em 3 de julho do primeiro chefe de Estado egípcio eleito democraticamente, mais de 250 pessoas -principalmente manifestantes pró-Mursi- foram mortas em confrontos com as forças de ordem e grupos contrários ao presidente deposto.

Os Estados Unidos, que contribuem com um grande volume de recursos para o Exército egípcio, evitam falar de golpe de Estado para classificar a prisão de Mursi pelos militares. O ex-presidente vem sendo mantido em um lugar não revelado.

Nesta quinta, o secretário de Estado americano, John Kerry, se disse "muito, muito preocupado" com essas mortes, mas surpreendeu os analistas ao considerar que a intervenção do Exército, no dia 3 de julho havia permitido de "restabelecer a democracia".

"Milhões e milhões de pessoas pediram que o Exército intervisse. Todos tinham medo de uma queda no caos e na violência", declarou à rede de televisão paquistanesa Geo TV.

-- Apelo à mobilização na sexta-feira --

O governo de transição afirmou na quarta que pretendia agir contra uma "ameaça à segurança nacional" e ressaltou que multidões de manifestantes saíram às ruas em 26 de julho a pedido do homem forte do país, o comandante-em-chefe do Exército e ministro da Defesa, Abdel Fattah al-Sissi, para permitir a ele acabar com o "terrorismo".

Nesta quinta, o Ministério do Interior pediu que os milhares de manifestantes pró-Mursi se retirem "rapidamente" das praças Rabaa al-Adawiya e Al-Nahda, no Cairo, estão estão mobilizados há cerca de um mês, garantindo que possibilitará uma "saída em segurança".

Mas eles rejeitaram esse apelo, como previsto. "Vamos manter nossas manifestações pacíficas", declarou à AFP Ala Mostafa, uma das porta-vozes do movimento. Uma nova mobilização foi convocada para sexta-feira "contra o golpe de Estado".

No final do dia, os helicópteros militares sobrevoavam Rabaa al-Adawiya, segundo a agência de notícias oficial Mena. Pouco antes, os chefes da polícia estavam reunidos para discutir uma estratégia para dispersar as manifestações.

Na véspera, o governo tinha dado seu "sinal verde" às forças de ordem para que impedissem os atos pró-Mursi.

O ministro da Indústria e do Comércio, Mounir Fakhry Abdelnour, acusou os manifestantes a favor de Mursi de estarem armados e disse esperar que a intervenção da polícia seja feita "com o mínimo de perdas humanas". Oitenta e duas pessoas morreram no dia 27 de julho perto de uma mobilização pró-Mursi.

Chegado ao mesmo tempo que o emissário da União Europeia, Bernardino Leon, Westerwelle se reuniu com os dirigentes do novo governo --principalmente com o presidente interino Adly Mansour e o general Sissi-- e com representantes da Irmandade Muçulmana.

Um líder do Partido da Liberdade e da Justiça (PLJ), vitrine política da Irmandade, indicou que "todos os representantes europeus tinham a mesma mensagem" e tentaram "pressionar os manifestantes contrários ao golpe de Estado para que se dispersem".

Apesar dos esforços diplomáticos, nenhuma solução rápida para a crise pode ser vislumbrada, já que as novas autoridades descartam que Mursi possa ter algum papel político, enquanto a Irmandade Muçulmana exige a restituição do presidente deposto.

Mursi é acusado de conluio com o Hamas palestino em sua fuga da prisão, em 2011, em meio à revolta que derrubou o presidente Hosni Mubarak.

No exterior, várias vozes se levantaram para defender o direito à manifestação dos pró-Mursi. "Uma manifestação pacífica não é uma ameaça para a segurança nacional", considerou a Human Rights Watch. Washington pediu que seja respeitado o direito a manifestações pacíficas e Londres fez um apelo pelo "fim imediato do derramamento de sangue".

AFP Todos os direitos de reprodução e representação reservados. 
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