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África

Mandela, entre a vida e a morte, cercado por sua família

24 jun 2013 - 16h10
(atualizado às 16h17)
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A África do Sul se preparava para o pior nesta segunda-feira, depois do anúncio de que o estado de saúde de seu ex-presidente Nelson Mandela, internado há 17 dias por uma infecção pulmonar, continua grave, com sua família ao seu lado.

"O ex-presidente Mandela permanece em estado crítico no hospital. Os médicos fazem todo o possível para assegurar seu bem-estar e conforto", declarou o presidente da África do Sul, Jacob Zuma, à imprensa estrangeira.

"Fui ao hospital durante a noite. Mandela dormia, nós o vimos e depois conversamos um pouco com os médicos e com sua esposa Graça Machel", relatou o presidente sul-africano.

Mandela, ícone da luta contra o apartheid e primeiro presidente negro da África do Sul, em 1994, fará 95 anos no dia 18 de julho.

Desde dezembro passado, Mandela foi internado em quatro ocasiões, vítima uma série de infecções pulmonares há anos, provavelmente devido às sequelas da tuberculose contraída na prisão da ilha de Robben, onde passou 18 dos 27 anos de prisão durante o regime racista.

Em Pretória, no Mediclinic Heart Hospital, Mandela é acompanhado dia e noite por Graça Machel, sua esposa há 15 anos.

Winnie Madikizela-Mandela, ex-companheira de luta e divorciada de Mandela em 1996, também foi ao Mediclinic Heart, como tem feito todos os dias desde a hospitalização do ex-presidente.

Os fotógrafos captaram imagens de Winnie, com o rosto fechado e escondido por óculos escuros, descendo de um veículo em frente à clínica ao lado de sua filha Zindzi.

Zenani Mandela-Dlamini, outra filha de Nelson Mandela, chegou separadamente.

Nelson Mandela "está em paz consigo mesmo", afirmou sua filha mais velha, Makaziwe. "Ele deu tanto ao mundo. Acredito que esteja em paz", considerou.

Considerando a possibilidade destes serem os "últimos momentos" de intimidade entre os filhos e seu pai, ela lamentou o "frenesi da imprensa", que chega do mundo inteiro.

Nos arredores do hospital, como em Soweto, reduto da luta anti-apartheid, a maioria dos sul-africanos parece aceitar com tristeza que a página Mandela será virada.

Considerado o pai da jovem democracia multirracial sul-africana, Mandela simboliza a obtenção, pela primeira vez, do direito ao voto para a maioria negra em 1994 e o fim do sofrimento sob o regime racista do apartheid.

Domingo à noite, a Casa Branca declarou que seus pensamentos e orações estão dirigidos a Nelson Mandela, a sua família e ao povo sul-africano.

O presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, pretendia visitar Mandela na próxima semana, durante a viagem prevista para a África do Sul, mas aguarda o aval da família do líder sul-africano.

Segundo o presidente Zuma, a viagem será mantida como previsto.

Durante a semana passada, havia algum otimismo com a evolução do quadro de Mandela, a ponto de o ex-presidente Thabo Mbeki afirmar, na quinta-feira, que seu antecessor "não iria morrer amanhã".

"Temos que ter confiança: ele ainda está conosco e vai permanecer conosco", havia dito Mbeki.

Mas no sábado, a Presidência comunicou que o estado de Mandela era "grave mas estável", depois de a rede de televisão CBS ter revelado um agravamento do quadro.

Segundo a CBS, o fígado e os rins de Mandela têm apenas 50% de funcionamento e o ex-presidente "não responde" e "não abre os olhos há dias". Além disso, o ex-presidente precisou ser ressuscitado ao chegar no hospital.

As últimas imagens exibidas em abril, durante uma visita de líderes da ANC a sua casa em Joanesburgo, mostravam Mandela com um ar completamente ausente.

Seus problemas pulmonares provavelmente são devido às sequelas da tuberculose contraída na prisão da ilha de Robben, onde passou 18 dos 27 anos de prisão sob o regime racista do apartheid.

Libertado em 1990, Mandela recebeu o Prêmio Nobel da Paz em 1993 por sua atuação nas negociações de paz visando instalar uma democracia multirracial na África do Sul, ao lado do último presidente do regime de apartheid, Frederik de Klerk.

Mandela foi de 1994 a 1999 o primeiro presidente negro de seu país, tornando-se um líder de consenso que soube conquistar o coração da minoria branca.

Um dos mais belos gestos de reconciliação foi em 24 de junho de 1995, há exatamente dezoito anos: neste dia a equipe de rúgbi dos Sprinboks, por muito tempo símbolo do poder branco, ganhou a Copa do Mundo em Johannesburgo. E Nelson Mandela entregou pessoalmente o troféu ao seu capitão. Este episódio foi imortalizado no filme de Clint Eastwood "Invictus".

A última aparição pública de Mandela ocorreu na final da Copa do Mundo de futebol, realizada em 2010 na África do Sul, com milhões de espectadores acompanhando o evento ao vivo pela televisão.

AFP Todos os direitos de reprodução e representação reservados. 
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