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África

Islamitas convocam mais protestos após banho de sangue no Egito

15 ago 2013 - 11h04
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Os islamitas convocaram nesta quinta-feira novas manifestações no Egito em apoio ao presidente deposto Mohamed Mursi, desafiando abertamente as autoridades, que os desalojaram na véspera e provocaram um banho de sangue sem precedentes, com mais de 500 mortos.

No início das primeiras manifestações, partidários de Mursi atacaram nesta quinta-feira duas delegacias em duas províncias do país e mataram dois policiais, segundo fontes oficiais.

Manifestantes islamitas também incendiaram nesta quinta-feira a sede administrativa do governo de Gizé, no Cairo, anunciou a rede de televisão estatal egípcia.

No entanto, em Alexandria (norte), centenas de partidários de Mursi protestavam na estrada localizada junto ao mar.

Na província de Beni Suef, os partidários de Mursi protestaram contra a repressão de quarta-feira.

Depois dos sangrentos confrontos de quarta-feira foi decretado um toque de recolher noturno na metade do país e um estado de emergência em todo o Egito durante um mês.

A convocação de protestos feita pela Irmandade Muçulmana, confraria da qual Mohamed Mursi procede, levanta os temores de uma nova onda de violência.

As autoridades interinas, instaladas pelo exército após a destituição do presidente islamita, no dia 3 de julho, advertiram que não tolerarão mais protestos.

O governo afirma que controla as duas praças ocupadas no Cairo pelos pró-Mursi - Rabaa al-Adawiya e Nahda -, e que foram violentamente atacadas pela polícia desde a madrugada de quarta-feira, surpreendendo os milhares de manifestantes que acampavam no local com mulheres e crianças.

A mesquita Iman, localizada na praça Rabaa al-Adawiyaa, epicentro da manifestação e quartel-general dos dirigentes da Irmandade Muçulmana ainda não detidos pelas autoridades, foi incendiada, constatou nesta quinta-feira um fotógrafo da AFP.

Desta mesquita deve sair na tarde desta quinta-feira a marcha convocada pela Irmandade Muçulmana.

Uma coluna de fumaça ainda se elevava, um dia após os violentos confrontos, do grande acampamento reduzido agora a cinzas.

Uma centena de cadáveres envolvidos em sudários brancos estavam alinhados no chão, enquanto os voluntários tentavam identificar as vítimas.

Dezenas de pessoas, com o rosto coberto para se proteger do cheiro, chegavam para identificar seus familiares. Entre ela uma mulher que soltou um grito de horror ao encarar um corpo carbonizado sob o sudário.

A intervenção das forças de segurança e do exército provocou a indignação internacional e uma condenação majoritária do massacre e do lamentável recurso à força.

O último balanço oficial é de 525 mortos - 482 civis e 43 policiais - e mais de 3.500 feridos em todo o país, mas pode ser ainda maior. A Irmandade Muçulmana fala de 2.200 mortos e mais de 10.000 feridos.

Segundo o chefe do serviço de urgência egípcio, 202 pessoas morreram na quarta-feira apenas na praça Rabaa al-Adawiyia, principal local ocupado pelos manifestantes.

Várias figuras emblemáticas egípcias se desvincularam da sangrenta operação das forças de segurança.

O vice-presidente Mohamed ElBaradei, prêmio Nobel da Paz e que havia aprovado o golpe militar contra Mursi, renunciou afirmando que rejeita "assumir decisões com as quais não estava de acordo".

O Imã de Al-Azhar, a maior autoridade do islã sunita, também condenou a violência e explicou que ignorava os métodos que as forças de segurança utilizavam.

A imprensa egípcia, em sua maioria próxima ao exército, saudava nesta quinta-feira "O fim do pesadelo da Irmandade Muçulmana", segundo o jornal pró-governamental Al-Akhbar, enquanto o jornal independente Al-Shuruq se referia à "última batalha da Irmandade", ao lado de fotos que mostravam manifestantes armados.

AFP Todos os direitos de reprodução e representação reservados. 
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