PUBLICIDADE

Mundo

Rebeldes líbios anunciam transferência do governo a Trípoli

25 ago 2011 - 18h57
(atualizado em 28/8/2011 às 13h07)
Compartilhar

Os rebeldes líbios anunciaram na quinta-feira a transferência do seu Comitê Executivo, o equivalente ao governo do movimento, de Benghazi para Trípoli, animados com a decisão da ONU de liberar nos próximos dias 1,5 bilhão de dólares de fundos bloqueados.

Rebelde patrulha rua deserta de Trípoli, cinco dias depois da tomada da capital
Rebelde patrulha rua deserta de Trípoli, cinco dias depois da tomada da capital
Foto: Reuters

"Declaro o início do trabalho do Comitê Executivo em Trípoli", disse o vice-presidente do Conselho Nacional de Transição (CNT), Ali Tahuni. "Longa vida a uma Líbia democrática e constitucional e glória aos mártires".

Tahuni, ministro do petróleo e economia do governo interino, disse ter feito sua declaração "em nome de Deus, de nossos revolucionários e mártires", em linha com as diretivas do CNT e do Comitê Executivo. Ele afirmou que o líder do CNT, Mustafah Abdel Jalil, chegará a Trípoli o mais rápido possível, assim que a situação de segurança permitir.

Abdel Jalil destituiu em 8 de agosto seu Comitê Executivo, que funcionava sob a autoridade do CNT e de seu presidente.

O CNT foi constituído no início de março em Benghazi, depois da revolta em meados de fevereiro contra o regime do coronel Muammar Kadafi nessa cidade do leste líbio. A destituição ocorreu uma semana depois do assassinato em circunstâncias misteriosas do chefe de Estado maior da rebelião, general Abdel Fatah Yunes.

Tahuni também pediu às forças leais a Kadafi que abandonem as armas e prometeu um tratamento justo. "Abandonem as armas e podem ir para casa. Não vamos nos vingar. Entre nós e vocês está a lei. Prometo que estarão protegidos", disse.

Na quinta-feira, Estados Unidos e África do Sul chegaram a um acordo para permitir que o Conselho de Segurança da ONU desbloqueie US$ 1,5 bilhão em ativos congelados à Líbia para financiar uma ajuda de emergência destinada à reconstrução do país.

O acordo de último minuto evitou que os Estados Unidos tivessem de pressionar para levar a decisão a uma votação no Conselho de Segurança e forçar o desbloqueio do dinheiro. "Há um acordo, não haverá votação e o dinheiro será desbloqueado", disse à AFP um diplomata próximo das negociações.

A África do Sul vinha se opondo à medida de desbloqueio dos ativos líbios no comitê de sanções das Nações Unidas durante mais de duas semanas, argumentando que canalizar o dinheiro através do governo rebelde implicaria reconhecer o CNT.

Nem a África do Sul nem a União Africana reconheceram ainda o governo da oposição líbia, cujos partidários tomaram grande parte de Trípoli no que pode ser a cartada final contra o regime de Muammar Kadafi.

Os US$ 1,5 bilhão encontram-se nas mãos dos Estados Unidos, que querem enviar US$ 500 milhões a grupos humanitários internacionais, US$ 500 milhões para o CNT para pagar salários e serviços essenciais, e os US$ 500 milhões restantes a um fundo de reserva internacional para pagar o combustível e outros ativos de emergência.

Para a secretária de Estado americana, Hillary Clinton, os próximos dias e semanas na Líbia serão "críticos" porque "o futuro não está garantido". "A situação continua sendo instável, mas é claro que a era Kadhafi está chegando ao fim, abrindo o caminho para uma nova Líbia, de liberdade, justiça e paz", afirmou a americana.

"Não pode haver espaço na nova Líbia para vingança e represália. O futuro da Líbia será pacífico apenas se os líderes e o povo se unirem em um espírito de paz", disse Hillary. "O povo líbio fez a revolução e deve seguir seu caminho, mas precisa de nossa ajuda e o futuro da Líbia não está garantido. Há um trabalho considerável pela frente. Os dias e semanas que se aproximam serão críticos".

Kadhafi permanece em paradeiros desconhecido e na quinta-feira conseguiu divulgar mais uma mensagem de áudio com uma nova convocação. "É preciso resistir a estes ratos inimigos, que serão derrotados pela luta armada", declarou o coronel Kadafi em uma gravação divulgada pelo canal via satélite Arrai, sediado na Síria. "Saiam de vossas casas, libertem Trípoli", reivindicou.

Em seis meses de insurreição contra o regime de Kadhafi, morreram "mais de 20.000 pessoas" na Líbia, afirmou Mustafah Abdel Jalil, chefe do CNT, que prometeu recompensar, durante a reconstrução do país, as nações estrangeiras que ajudaram a insurgência.

Líbia: da guerra entre Kadafi e rebeldes à batalha por Trípoli

Motivados pelos protestos que derrubaram os longevos presidentes da Tunísia e do Egito, os líbios começaram a sair às ruas das principais cidades do país em fevereiro para contestar o coronel Muammar Kadafi, no comando desde a revolução de 1969. Rapidamente, no entanto, os protestos evoluíram para uma guerra civil que cindiu a Líbia em batalhas pelo controle de cidades estratégicas de leste a oeste.

A violência dos confrontos gerou reação do Conselho de Segurança da ONU, que, após uma série de medidas simbólicas, aprovou uma polêmica intervenção internacional, atualmente liderada pela Otan, em nome da proteção dos civis. No dia 20 de agosto, após quase sete meses de combates, bombardeios, avanços e recuos, os rebeldes iniciaram a tomada de Trípoli, colocando Kadafi, seu governo e sua era em xeque.

AFP Todos os direitos de reprodução e representação reservados. 
Compartilhar
Publicidade