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África

Imprensa egípcia apoia a guerra contra "o terrorismo"

20 ago 2013 - 10h16
(atualizado às 10h39)
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Os meios de comunicação egípcios estão participando de maneira ativa na "guerra contra o terrorismo" e a cobertura local aumenta ainda mais a revolta contra a Irmandade Muçulmana e a imprensa estrangeira.

Enquanto o Exército massacra os partidários do presidente deposto pelos militares, Mohamed Mursi, para o analista político Hisham Qasem também acontece uma "campanha midiática contra a Irmandade Muçulmana e outras correntes islâmicas".

"Em um ano de presidência de Mursi, mais jornalistas foram levados aos tribunais que em 185 anos de história da imprensa egípcia", afirmou Qasem, para quem a imprensa paga agora "com a mesma moeda" à Irmandade Muçulmana.

Há vários dias, sob a vinheta em inglês "Egito combate o terrorismo", os três canais oficiais e outras emissoras privadas exibem ao longo do dia a versão oficial dos confrontos entre as forças oficiais e os partidários de Mursi, que em seis dias deixaram quase 900 mortos, a maioria manifestantes islamitas.

A programação também exibe vídeos sobre o "histórico terrorista" do grupo, na época da presidência de Gamal Abdel Nasser, o assassinato do presidente Anuar al-Sadat e as recentes manifestações pró-Mursi, tudo acompanhado por imagens de arquivo música dramática.

O mesmo tom é adotado pela imprensa escrita. o jornal governamental Al-Ahram consagra toda a primeira página às declarações do general Al-Sisi, novo homem forte do país e comandante do exército, que prometeu que o Egito "não se dobrará aos terroristas".

Para o diretor de redação do jornal privado Sawt al-Umma, Abdel Halim Qandil, se os meios de comunicação estão em uma frente comum com o governo, isto acontece "porque o país enfrenta uma batalha nacional".

O jornalista, muito crítico dos islamitas, acusou a imprensa ocidental de "oscilar entre dois extremos: o ódio ao islã e o afeto pela Irmandade Muçulmana". "Isto cria um grande repúdio dos egípcios e gera grandes suspeitas sobre os jornalistas estrangeiros", disse.

Desde a queda de Mursi, membro da Irmandade Muçulmana, em 3 de julho, a imprensa estrangeira é vítima, especialmente no Cairo, dos ataques do governo e de grande parte da população. O governo acusa os jornalistas ocidentais de informar apenas sobre as vítimas pró-Mursi e quase ignorar os policiais mortos.

Um fotógrafo ocidental que mora no Cairo há um ano e meio falou à AFP sobre o risco de sair às ruas com uma câmera. "Hoje consegui fazer algumas fotos dentro do carro. Saí apenas 45 segundos para fazer outras", afirmou o profissional, que pediu anonimato. "Dois colegas fotógrafos foram agredidos há alguns dias por jovens no momento em que faziam fotos dentro de um prédio do governo. Eles gritaram que os fotógrafos eram espiões", disse.

Para ele, os comunicados das autoridades que acusam a imprensa ocidental de parcialidade "aumenta o ódio das pessoas contra os jornalistas".

Diante de um necrotério do Cairo, dois jornalistas de uma agência internacional foram retirados quando entrevistavam parentes de vítimas, em sua maioria membros da Irmandade Muçulmana.

Desde quarta-feira, pelo menos três jornalistas morreram no Cairo, incluindo um cinegrafista do canal britânico Sky News.

AFP Todos os direitos de reprodução e representação reservados. 
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