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África

Governo egípcio encarrega polícia de colocar fim aos protestos pró-Mursi

31 jul 2013 - 17h10
(atualizado às 17h16)
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O governo interino do Egito encarregou a polícia de tomar as "medidas necessárias" para impedir os protestos dos partidários do presidente deposto Mohamed Mursi, mas os islamitas rejeitaram a ameaça, suscitando temores de um novo banho de sangue no país.

A queda de braço entre o novo governo, apoiado pelas Forças Armadas que derrubaram Mursi, e a Irmandade Muçulmana, grupo ao qual pertence o ex-presidente, já provoca uma grande ofensiva diplomática por uma saída política para a questão. Diversas autoridades estrangeiras são aguardadas no Egito.

A justiça egípcia desferiu um novo golpe contra a Irmandade Muçulmana ao anunciar que o líder supremo, Mohamed Badie, e pelo menos duas outras lideranças do grupo serão julgados por "incitação ao assassinato" de manifestantes.

Depois que episódios particularmente violentos ocorreram recentemente no Cairo, em locais de mobilização de manifestantes pró-Mursi, como as praças de Rabaa al-Adauiya e Nadha, o novo governo disse que não vai mais aceitar tais aglomerações.

O governo encarregou a polícia de tomar as medidas adequadas diante dos protestos, considerados uma "ameaça para a segurança nacional" depois que o Exército pediu na última sexta-feira para que os egípcios fossem às ruas "apoiar" as autoridades contra o "terrorismo".

O chamado do Exército desperta temores de uma intervenção iminente.

Mas os partidários do ex-presidente islamita, deposto pelos militares e mantido em um lugar secreto desde então, rechaçaram imediatamente esta ameaça e voltaram a acusar as autoridades de "terrorismo".

"Nada vai mudar", declarou Gehad el-Haddad, porta-voz da coalização islamita pró-Mursi.

De acordo com um jornalista da AFP, nenhuma tensão aparente foi observada no final da tarde desta quarta-feira em frente ao acesso principal à praça Rabaa al-Adawiya, um dos principais locais de manifestações pró-Mursi.

O novo governo parece fechar o cerco aos islamitas, no momento em que apelos internacionais por uma transição política incluindo todos os lados - até mesmo a Irmandade Muçulmana - se multiplicam.

O enviado especial da União Europeia ao Oriente Médio, Bernardino Leon, e o ministro alemão das Relações Exteriores, Guido Westerwelle, são aguardados no Cairo nesta quarta-feira, durante visita da chefe da diplomacia europeia, Catherine Ashton.

Westerwelle pedirá um "retorno rápido à democracia" após o golpe militar que destituiu Mursi e culminou com um governo de transição, presidido por Adly Mansour, mas que tem como homem forte o ministro da Defesa, general Abdel Fattah al-Sissi.

"A mensagem mais importante (do ministro alemão) é que é crucial que todas as partes se comprometam a cooperar e renunciem à violência", segundo seu porta-voz.

O presidente americano, Barack Obama, enviará ao Cairo na próxima semana dois influentes senadores, Lindsey Graham e John McCain. A intenção é pressionar o Exército egípcio para que novas eleições sejam convocadas e que o poder civil seja restabelecido.

O secretário de Defesa americano, Chuck Hagel, telefonou para o general Sissi e o incentivou a agir de forma comprometida.

No Cairo, uma missão da União Africana pode fazer uma visita a Mursi no local onde ele está sendo mantido. A chefe da diplomacia da UE foi a primeira pessoa autorizada pelo Exército a ver o ex-presidente.

As novas autoridades desconsideraram a possibilidade do retorno de Mursi à política, rejeitando os pedidos de seus seguidores para que o primeiro presidente eleito de forma democrática no Egito retome suas funções.

O chanceler egípcio, Nabil Fahmy, afirmou que "os islamitas devem se envolver no futuro" do Egito.

Fahmy garantiu que a Irmandade Muçulmana, durante anos relegada à clandestinidade por Hosni Mubarak, poderá "participar da redação da Constituição e das leis eleitorais", mas condicionou esta participação ao fim dos episódios de violência.

No total, os confrontos registrados entre manifestantes pró e contra Mursi em todo o país e ataques contra as forças de segurança na península do Sinai deixaram mais de 300 mortos desde o final de junho. No último sábado, 81 civis e um policial morreram no Cairo após enfrentamentos entre as tropas de ordem e islamitas.

AFP Todos os direitos de reprodução e representação reservados. 
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