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África

Governo do Egito dividido sobre como enfrentar manifestações

13 ago 2013 - 11h22
(atualizado às 11h32)
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O poder egípcio surgido após o golpe militar que depôs o presidente Mohamed Mursi está dividido entre os falcões intransigentes e os partidários do diálogo com os islamitas, apesar de ter multiplicado as ameaças, segundo os especialistas.

Há semanas, o governo interino designado após a deposição de Mursi, no dia 3 de julho, ameaça dispersar os acampamentos dos partidários do ex-chefe do Estado que paralisam diversos bairros do Cairo, assim como a preparação das eleições, prometidas para o início de 2014.

"Há duas tendências que se enfrentam no governo", explica à AFP Rabab al-Mahdi, professora de Ciência Política da Universidade Americana do Cairo.

O ministério do Interior e o exército encarnam a mão de ferro, favorável a uma intervenção. "O outro campo, representado pelo vice-presidente Mohamed ElBaradei e pelo vice-primeiro-ministro Ziad Bahaa Eldin, tem uma percepção mais democrática", alega.

ElBaradei convocou repetidamente a associação da Irmandade Muçulmana, movimento de Mursi, à transição política.

As autoridades estão no fogo cruzado: de um lado, a pressão popular as incita à repressão, por outro, a comunidade internacional pede contenção.

Os partidários de Mursi, por sua vez, repetem que não levantarão o acampamento até que o primeiro presidente democraticamente eleito no Egito volte ao poder.

Em um país onde os protestos sempre são reprimidos com mão de ferro, as precauções do governo são uma novidade que ressalta a gravidade da crise que atinge o Egito.

"O governo tenta limitar os riscos" mediante as advertências e os falsos anúncios de intervenção através da imprensa, esperando que a maioria dos manifestantes, entre eles mulheres e crianças, que ocupam duas praças do Cairo, saiam por sua própria vontade, afirmou H.A. Hellyer, pesquisador do Brookings Institute. Assim, a polícia só precisaria enfrentar aqueles irredutíveis.

Defensores dos direitos humanos indicaram ter participado há alguns dias de uma reunião nada habitual com o ministério do Interior sobre as consequências de uma dispersão pela força. O governo prometeu que permitiria que acompanhassem a operação, assim como a imprensa.

"Não se trata de um protesto como o que costuma ser feito ante a polícia. Trata-se da força política mais bem organizada do país e a polícia sabe que o preço a pagar será muito mais alto que em manifestações anteriores", afirmou Mahdi.

Por este motivo, mas também devido às divisões internas do governo e da pressão internacional para que se evite um banho de sangue, "o governo não tem carta branca para administrar as manifestações", acrescenta a professora.

No entanto, a intensificação dos ataques dos combatentes islamitas tanto no país quanto no exterior podem inclinar o fiel da balança em direção a uma solução na qual prime pela segurança.

"Caso a ameaça no Sinai cresça, assim como os acontecimentos no Iêmen ou no Paquistão, o governo pode dizer que o que ocorre é prova de que os islamitas caem no terrorismo, e isto diminuiria um pouco a pressão", considera a cientista política.

Para Karim Ennarah, da influente ONG Iniciativa Egípcia para os Direitos Humanos, o governo se encontra diante de um dilema.

"O ministério do Interior não sabe enfrentar as manifestações sem que sejam registrados mortos: ainda que não tenha a intenção de matar, ativa uma escalada", já que "a polícia não sabe ou não pode enfrentar este tipo de manifestações com um uso proporcional da força", afirma.

Mas independentemente das precauções adotadas pelas forças de segurança, a atitude dos manifestantes será determinante nos próximos dias ou nas próximas semanas, segundo os especialistas.

O governo e a imprensa os acusam de armazenar armas e a Anistia Internacional informou que durante os protestos os opositores sofreram torturas.

"As autoridades podem deixar suas reservas de lado se eles seguirem protestando e bloqueando as estradas", explica Mahdi.

"Mas se, pelo contrário, (os manifestantes) adotarem um atitude mais comedida e lutarem contra a ideia de que recorrem à violência, então as autoridades terão mais problemas para tomar esta decisão", conclui.

AFP Todos os direitos de reprodução e representação reservados. 
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