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África

Enviado americano tenta mediação para evitar confronto no Egito

3 ago 2013 - 09h43
(atualizado às 09h59)
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Apoiadores do presidente deposto Mohamed Mursi mantêm ocupação em barricada na Cidade Nasser, no Cairo
Apoiadores do presidente deposto Mohamed Mursi mantêm ocupação em barricada na Cidade Nasser, no Cairo
Foto: AP

Um importante emissário americano realizava neste sábado uma tentativa de mediação no Egito para evitar que a dispersão anunciada das manifestações de partidários de Mohamed Mursi se transforme em um banho de sangue.

Esta visita surpresa do secretário de Estado adjunto, William Burns, é vista como uma das últimas chances de evitar o confronto entre as forças de ordem e os milhares de militantes da Irmandade Muçulmana que ocupam duas praças do Cairo há um mês para exigir o retorno ao poder do presidente islamita deposto, destituído e preso pelo Exército no dia 3 de julho.

Um verdadeiro balé diplomático foi registrado nos últimos dias no Cairo, promovido principalmente por autoridades da União Europeia e da União Africana, mas, até o momento, não houve resultados concretos. A Polícia e o Exército preparam suas armas, e o Ministério do Interior pediu pela segunda vez neste sábado que os manifestantes se retirem das praças Rabaa al-Adawiya e Nahda.

"Uma saída pacífica e com toda segurança permitirá à Irmandade Muçulmana desempenhar novamente um papel no processo político democrático", acrescentou o ministério em um comunicado.

A comunidade internacional teme que a dispersão dos manifestantes nas praças, onde foram erguidas barricadas com mulheres e crianças, se transforme em um massacre em meio a um momento particularmente violento no país. Mais de 250 pessoas morreram em um mês, principalmente manifestantes pró-Mursi, durante confrontos com as forças de ordem ou com militantes contrários ao presidente deposto.

Na noite de sexta-feira para sábado, a mobilização da Irmandade Muçulmana, movimento de Mursi, parecia perder força. A confraria fez um apelo por mais duas mobilizações na cidade e pela organização de quatro passeatas em direção às sedes do Exército e da Polícia, mas todas essas iniciativas não se concretizaram.

A Polícia imediatamente evitou uma tentativa de instalação de um acampamento feita por um pequeno grupo de manifestantes, e os moradores impediram alguns outros de se concentrarem em uma praça do centro da cidade. Poucos aderiram às passeatas e elas não conseguiram se aproximar das sedes das forças de segurança.

As autoridades instituídas pelo Exército, apoiadas por grande parte da população e pela imprensa, estão determinadas a usar a força nas praças Rabaa al-Adawiya e Nahda. Um verdadeiro balé diplomático teve início para que as autoridades atuem com moderação e a Irmandade Muçulmana deixe as praças de forma ordeira.

O vice-presidente interino e prêmio Nobel da Paz, Mohamed ElBaradei, considerou que não poderá conter por muito tempo os falcões do governo e do Exército, que defendem uma ação enérgica contra os manifestantes islamitas.

"As pessoas estão muito chateadas comigo, porque eu digo 'vamos dar um tempo, vamos conversar com eles'. O ambiente hoje é 'vamos esmagá-los, não vamos conversar com eles'", disse ElBaradei em uma entrevista concedida ao Washington Post, acrescentando: "Eu tento contê-los, mas não conseguirei por muito tempo".

A visita de William Burns ocorre após uma declaração polêmica do chefe da diplomacia americana, John Kerry, que provocou revolta entre os pró-Mursi, ao considerar que os militares haviam "restabelecido a democracia" quando destituíram Mursi a pedido de "milhões e milhões de manifestantes".

Kerry "pediu a William Burns que vá novamente ao Egito para manifestar as suas lideranças a importância de evitar a violência e para ajudar em uma solução pacífica para a crise, e também para defender um processo político envolvendo todas as partes", explicou a assessoria do secretário de Estado adjunto antes de sua chegada, na noite de sexta.

O presidente interino, Adly Mansour, prometeu eleições legislativas para o início de 2014.

O tom da visita de Burns, que contrasta com as afirmações de John Kerry na quinta, mostra a hesitação do governo americano frente à crise vivida por seu principal aliado na região, peça fundamental no processo de paz entre israelenses e palestinos.

Washington concede todos os anos US$ 1,3 bilhão ao Exército egípcio e, se os Estados Unidos tivessem classificado como golpe de Estado a destituição de Mursi, a lei americana estabelece que essa ajuda teria de ser imediatamente suspensa.

A Irmandade Muçulmana acusou na sexta-feira os Estados Unidos de serem "cúmplices" do golpe de Estado e o líder da Al-Qaeda, o egípcio Ayman al-Zawahiri, afirmou neste sábado que a destituição de Mursi é resultado de um "complô americano" com o "conluio" do Exército e da minoria cristã copta do Egito.

AFP Todos os direitos de reprodução e representação reservados. 
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