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África

Egito não cederá à violência dos islamitas, afirma general

18 ago 2013 - 14h10
(atualizado às 14h13)
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O general Abdel Fatah al-Sisi, comandante do exército egípcio e homem forte do país, afirmou neste domingo que o Egito "não cederá" à violência dos islamitas, durante uma reunião com os principais chefes militares e da polícia.

"Quem imagina que a violência vai dobrar o Estado e os egípcios deve revisar sua postura. Não permaneceremos nunca silenciosos ante a destruição do país", afirmou, em sua primeira declaração desde o início, na quarta-feira, da violenta repressão contra os partidários do presidente destituído Mohamed Mursi.

O comandante do exército fez as declarações durante uma reunião com mais de 100 oficiais superiores do exército e da polícia, além do ministro do Interior, Mohamed Ibrahim.

Mais de 750 pessoas morreram nos últimos cinco dias, sobretudo partidários de Mursi, assim com 70 policiais.

Os partidários de Mursi, destituído pelo exército, anunciaram o cancelamento de algumas manifestações neste domingo no Cairo "por razões de segurança".

Os militantes islamitas haviam anunciado nove manifestações no Cairo como parte da "semana contra o golpe de Estado".

Yasmine Adel, porta-voz da Aliança contra o Golpe de Estado, declarou à AFP que "várias marchas foram canceladas por razões de segurança".

No bairro de Dokki, no centro do Cairo, alguns moradores entraram na mesquita que os islamitas pretendiam usar como ponto de partida para uma passeata e colocaram no local um cartaz de um policial assassinado.

Nenhum manifestante estava presente, temendo a reação dos "comitês populares", grupos de autodefesa formados em geral por jovens armados que atacam homens de barba longa e as mulheres que usam o véu islâmico integral.

Patrulhas cidadãs interromperam carros com homens com barba e os retiraram dos veículos.

Como um aparente sinal da falta de organização da Irmandade Muçulmana, cujos dirigentes em sua maioria estão presos ou foragidos, vários comunicados contraditórios anunciaram a anulação ou manutenção das nove manifestações programadas.

O exército bloqueava as grandes avenidas do Cairo para impedir as manifestações dos islamitas.

A televisão, no entanto, exibiu imagens de manifestações fora da capital egípcia.

Congressistas americanos defenderam neste domingo o corte da ajuda militar ao Egito.

O senador John McCain, que propôs a suspensão da ajuda de 1,3 bilhão de dólares por ano concedida pelo governo americano depois da queda de Mursi no início de julho, disse que Washington arrisca perder a credibilidade se continuar ignorando a violenta repressão no Egito.

"Organizaram um massacre", disse, a respeito das 750 pessoas mortas na repressão das manifestações de rua dos últimos dias.

"Temos influência, mas quando não se usa esta influência, então a influência é perdida", disse McCain, um "falcão" republicano e frequente crítico da política externa de Obama, no programa "State of the Union" do canal CNN.

O senador Rand Paul, estrela em ascensão do Partido Republicano, também defendeu o corte da ajuda ao Egito, no programa "Fox News Sunday", advertindo que não acredita que os Estados Unidos mantenham "o apreço do povo egípcio quando observam um tanque americano na rua".

Obama cancelou na semana passada manobras militares conjuntas com o Egito, mas não suspendeu a ajuda ao Cairo, aliado chave no Oriente Médio e um dos dois países árabes que assinaram tratado de paz com Israel.

A Casa Branca se recusa a chamar de "golpe" a destituição de Mursi, o que significaria cortar a ajuda, argumentando que busca estimular o país a transitar para a democracia.

O senador democrata Richard Blumenthal disse que o governo deve "condicionar a futura ajuda a medidas específicas para a vigência da lei e o retorno à democracia".

"Não devemos cortar toda a ajuda. Não dispomos de boas opções a respeito. Mas das duas, existe mais possibilidades de proteger os interesses americanos se trabalharmos com os militares", disse no "Fox News Sunday."

Os dirigentes da União Europeia (UE) Herman Van Rompuy e José Manuel Durão Barroso advertiram o governo egípcio que o bloco está disposto a revisar as relações com o Cairo se a violência não cessar no país.

Em um comunicado conjunto, os presidentes do Conselho da Europa e da Comissão Europeia alertam que o aumento da violência pode ter "consequências imprevisíveis" para o Egito e para a região. Eles apelam à responsabilidade do governo e do exército para o retorno da calma.

"Os pedidos de democracia e por liberdades fundamentais da população egípcia não podem ser ignorados, muito menos banhados em sangue", afirmam os líderes europeus.

"Em cooperação com os sócios internacionais e regionais, a UE seguirá firmemente comprometida no esforço de promover o fim da violência, a retomada do diálogo político e o retorno de um processo democrático".

"Com este objetivo, a UE, ao lado dos Estados membros, revisará urgentemente nos próximos dias as relações com o Egito e adotará medidas para alcançar estes objetivos", afirma o texto.

Na segunda-feira, representantes diplomáticos dos 28 membros da UE terão uma reunião de emergência em Bruxelas sobre o Egito, antes da convocação de um encontro dos ministros europeus das Relações Exteriores nos próximos dias.

O comunicado, que ressalta que o fim imediato da violência é crucial, aponta que "embora todos devam exercer a máxima moderação, destacamos a responsabilidade em particular do governo provisório e do exército para acabar com os confrontos".

"A violência e os assassinatos dos últimos dias não podem ser justificados nem tolerados. Os direitos humanos devem ser respeitados e defendidos. Os presos políticos devem ser liberados".

No Vaticano, o Papa Francisco fez um novo apelo a favor da paz no Egito.

"Seguimos rezando pela paz no Egito", declarou o pontífice no tradicional Ângelus dominical no Palácio Apostólico na praça de São Pedro.

AFP Todos os direitos de reprodução e representação reservados. 
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