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África

Egito: autoridades marcam julgamento de líderes da Irmandade Muçulmana

4 ago 2013 - 13h40
(atualizado às 13h55)
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A justiça do Egito marcou para 25 de agosto a abertura do processo contra seis dirigentes da Irmandade Muçulmana, em um anúncio que poderá alimentar a tensão em um momento de negociações entre os islamitas e o novo governo.

As novas autoridades estabelecidas pelo Exército após a destituição do presidente Mohamed Mursi, alternam declarações contundentes e apelos ao diálogo com os partidários do presidente deposto, que rejeitam as advertências do governo e convocam novas manifestações.

Entre as autoridades que serão julgadas no dia 25 estão o guia supremo Mohamed Badie e seus dois adjuntos, Khairat al-Chater e Rachad Bayoumi. Esse anúncio poderá aumentar a tensão entre a Irmandade Muçulmana e o governo.

Badie, que está foragido, e seus dois adjuntos, que estão presos, devem responder pela acusação de "incitação ao assassinato", enquanto três outros membros do movimento islamita são acusados de "assassinato", segundo a agência Mena.

Durante a noite, o novo homem forte do Egito, o chefe do Exército Abdel Fatah al-Sissi, havia se reunido com seis lideranças islamitas -nenhuma da Irmandade Muçulmana- para tentar solucionar a grave crise política desencadeada após a queda do presidente Mohamed Mursi, membro do movimento.

Esta foi a primeira vez que os militares anunciaram oficialmente um encontro entre seu comandante-em-chefe e as lideranças islamitas. O general Sissi, que destituiu Mursi no dia 3 de julho, afirmou que "ainda há chances de uma solução pacífica para a crise, contanto que todas as partes rejeitem a violência", indicou o porta-voz do Exército, coronel Ahmed Aly, sem indicar que formações participaram da reunião.

Entre os representantes estavam dois influentes xeques salafistas, Mohamed Hassan e Mohamed Abdel Salam, indicou uma fonte ligada às negociações.

"Os islamitas com quem o general Sissi se reuniu não são membros da Irmandade Muçulmana, mas a apoiaram em Rabaa al-Adawiya", destacou a fonte militar que pediu para não ser identificada, referindo-se a uma das praças ocupadas nas manifestações pró-Mursi. "Esperamos que a Irmandade Muçulmana ouça o que eles têm a dizer para encontrarmos uma saída para a crise".

O anúncio da reunião foi feito depois do aumento da tensão entre o Exército, que instituiu novas autoridades após derrubar Mursi, e a Irmandade Muçulmana.

O governo provisório lançou várias advertências aos milhares de militantes do movimento, pedindo a retirada dos acampamentos montados há mais de um mês no Cairo e ameaçando desalojá-los à força.

Os confrontos iniciados em 3 de julho entre os pró-Mursi e as forças de ordem ou militantes contrários a Mursi registraram mais de 250 mortes.

A Irmandade exige a restituição ao poder do primeiro presidente democraticamente eleito, membro do movimento, que vem sendo mantido em um local secreto pelo Exército.

Na manhã deste domingo, após um encontro com o secretário de Estado adjunto americano, William Burns, o Partido da Liberdade e da Justiça (PLJ), braço político da Irmandade Muçulmana, se negou a apoiar qualquer solução que não se baseie "na legitimidade constitucional e na rejeição ao golpe de Estado".

A visita de Burns que era vista como a última oportunidade para evitar uma confronto, após uma série de visitas de autoridades internacionais que não registraram resultados concretos.

A comunidade internacional teme que a retirada dos manifestantes à força das praças Rabaa al-Adawiya e Nahda, onde há muitas mulheres e crianças acampadas, se transforme em um massacre.

Neste domingo, uma delegação da União Africana concluiu uma missão de uma semana durante a qual foi autorizada a se reunir com Mursi, mantido em um lugar secreto pelo Exército desde a sua destituição.

A Prêmio Nobel da Paz iemenita, Tawakkol Karman, que queria ir à praça Rabaa al-Adawiya, segundo o movimento pró-Mursi, não conseguiu entrar no Egito por "razões de segurança", indicaram autoridades aeroportuárias do país à AFP.

Em Washington, o secretário de Defesa americano, Chuck Hagel, pediu que o general Sissi apoie um processo político "aberto a todos" pelo fim da crise.

Ao mesmo tempo, o homem forte do Egito fez um apelo para que os Estados Unidos utilizem sua "influência sobre a Irmandade Muçulmana", em uma entrevista concedida ao Washington Post. Sissi afirmou também que os militares não agirão contra os manifestantes acampados no Cairo.

"Aqueles que acabarão com estes acampamentos e limparão estas praças não são os militares. Há uma polícia civil encarregada destas tarefas", disse.

"A porta está aberta a todos, incluindo a Irmandade Muçulmana, para que participem do processo" político, indicou o ministro das Relações Exteriores, Nabil Fahmy, acrescentando que não há "vontade alguma de recorrer à força, enquanto as outras possibilidades não tiverem se esgotado".

AFP Todos os direitos de reprodução e representação reservados. 
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