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África

Egito: 19 mortos em confrontos entre partidários e opositores de Mursi

5 jul 2013 - 22h31
(atualizado às 22h34)
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O Egito foi sacudido na sexta-feira por violentos confrontos entre partidários da Irmandade Muçulmana, do presidente deposto Mohamed Mursi, e opositores ao movimento islâmico, que deixaram 19 mortos e centenas de feridos, em meio à onda de manifestações no país.

Em Alexandria, no norte do Egito, 12 pessoas morreram e 460 ficaram feridas nos confrontos entre manifestantes favoráveis e contrários ao presidente deposto, informou a agência oficial de notícias Mena.

Uma autoridade dos serviços de saúde da cidade litorânea indicou à agência que a maior parte das vítimas foi atingida por tiros.

No Cairo, confrontos eclodiram nas imediações da Praça Tahrir entre manifestantes de ambos os lados, deixando dois mortos. O choque envolveu tiros, pedras e coquetéis molotov na ponte 6 de Outubro, perto da praça emblemática da capital egípcia, onde estão reunidos milhares de opositores ao presidente deposto.

O Exército anunciou que vai intervir para separar os manifestantes.

Mais cedo, quatro manifestantes pró-Mursi foram mortos pelas forças da ordem quando tentavam chegar à sede da Guarda Republicana, na região do Palácio Presidencial, segundo a agência Mena.

Em Assiut, no sul do país, uma pessoa morreu, e 19 ficaram feridas em choques entre partidários de Mursi e as forças da ordem.

Mobilizados para uma "Sexta-feira de recusa" ao "golpe de Estado militar" e ao "Estado policial", o guia supremo da Irmandade Muçulmana - à qual pertence Mursi -, Mohamed Badie, apresentou-se diante da multidão para estimular os partidários do movimento a permanecerem nas ruas "aos milhões" até que o presidente deposto seja restituído ao poder.

"Nós já vivemos sob um regime militar e não o aceitaremos novamente", alertou. Badie se referiu, com isso, aos 16 meses em que o Exército assumiu as rédeas do Executivo entre a saída de Hosni Mubarak, derrubado por uma revolta popular em fevereiro de 2011, e a eleição de Mursi em junho de 2012.

Durante seu discurso, helicópteros militares sobrevoavam a multidão a baixa altitude.

Os islamitas também fizeram um apelo para que prossigam as mobilizações populares no Egito, de acordo com nota publicada na madrugada de sábado (horário local).

"O Partido afirma que permanecerá com todos os seus membros e seus simpatizantes ao lado das multidões nas praças (do Egito) até que o presidente (Mursi) seja restabelecido em suas funções", anunciou o Partido da Liberdade e da Justiça (PLJ), vitrine política da Irmandade Muçulmana.

Embora a tensão continue em escalada, o PLJ insiste no caráter "pacífico" das manifestações convocadas para sábado.

À tarde, milhares de partidários de Mursi deixaram uma mesquita de Nasr City gritando "Mohamed Mursi é nosso presidente" e "Traidores!", e chegaram à entrada da sede da Guarda Republicana, situada perto do palácio presidencial.

Depois, eles tentaram afixar nas barreiras de arame farpado que cercam o edifício uma imagem do ex-chefe de Estado, ainda detido pelo Exército, bradando em diversas oportunidades advertências aos soldados. Tiros foram disparados, matando quatro pessoas, segundo a agência oficial Mena. Eles anunciaram que farão um "sit-in" (manifestação em que as pessoas se mantem sentadas) diante do prédio até o restabelecimento do presidente.

Em resposta à "Sexta-feira de recusa", a oposição a Mursi convocou grandes manifestações, em particular para domingo, "em defesa da revolução de 30 de junho", em referência ao dia em que foram realizados gigantescos atos contra o presidente deposto.

No momento em que a tensão é extrema no país, cinco policiais e um soldado morreram na península do Sinai (norte), em ataques de militantes islamitas que não foram reivindicados. À noite, islamitas atacaram o governo do Sinai do Norte e hastearam sua bandeira.

As novas autoridades estabelecidas pelo Exército, após a deposição de Mursi na última quarta-feira, pareciam determinadas a formular rapidamente um "mapa do caminho" que deve levar a eleições antecipadas.

O presidente interino, Adly Mansur, nomeado pela instituição militar, dissolveu a Câmara Alta, que era dominada pelos islamitas, em seu primeiro decreto. Ele também nomeou um novo chefe do serviço de inteligência.

Após uma onda de detenções de lideranças da Irmandade Muçulmana, o procurador-geral anunciou que operações de busca e apreensão serão realizadas contra nove delas - incluindo Badie - como parte de uma investigação por "incitação ao assassinato" de manifestantes.

Na madrugada deste sábado, foi detido Khairat al-Chater, vice do Guia Supremo da Irmandade Muçulmana egípcia, informou à AFP um oficial do Ministério do Interior.

"Khairat al-Chater e seu irmão estão presos sob ordem judicial. Eles se entregaram sem violência" em uma casa no subúrbio de Nasr City, leste do Cairo, acrescentou o oficial.

Após a destituição de Mursi, o Exército pediu que os egípcios rejeitem a "vingança" e atuem em prol da "reconciliação nacional", enquanto Mansur pediu união em declarações à rede britânica Channel 4.

Embora Mursi fosse contestado pelo Ocidente, houve um grande mal-estar após a queda de um presidente eleito democraticamente.

Washington pediu na quinta que o poder não efetue "prisões arbitrárias".

A União Africana suspendeu o Egito, rejeitando "qualquer tomada ilegal do poder". O Ministério egípcio das Relações Exteriores lamentou profundamente a decisão.

Eleito em junho de 2012, Mursi era acusado por todos os males - administrações corruptas, problemas econômicos e tensões religiosas - por seus adversários, que viam nele um burocrata islamita inexperiente e ávido por poder. Ele foi derrubado pelo Exército após manifestações de magnitude inédita, exigindo sua queda.

O golpe do Exército, apoiado por grande parte da população, pela oposição e por autoridades religiosas, abre caminho para um novo e delicado período de transição no mais populoso país árabe.

Para o representante da oposição, Mohamed ElBaradei, a intervenção do Exército para derrubar Mursi foi uma "medida dolorosa", mas necessária para "evitar uma guerra civil".

AFP Todos os direitos de reprodução e representação reservados. 
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