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Acordo entre Colômbia e Farc pode pôr fim ao mais longo conflito interno do Ocidente

23 set 2015 - 21h41
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Em encontro intermediado pelo presidente de Cuba, Raúl Castro, o governo da Colômbia e as Farc (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia) anunciaram que a paz será firmada em um prazo de seis meses.

Raúl Castro (ao centro) intermediou aperto de mão entre Juan Manuel Santos (à esq.) e Timochenko
Raúl Castro (ao centro) intermediou aperto de mão entre Juan Manuel Santos (à esq.) e Timochenko
Foto: Yamil Lage/AFP/Getty Images)

As negociações estão ocorrendo em Havana desde 2012. Juan Manuel Santos, presidente colombiano, viajou nesta quarta à capital cubana para o anúncio, durante o qual ficou lado a lado com Rodrigo Londoño Echeverri, o "Timochenko", o mais importante comandante das Farc.

O acordo, lido pelo porta-voz do governo de Cuba, Rodolfo Benitez, prevê a criação de uma jurisdição especial para a paz, formada por magistrados colombianos e estrangeiros, para “acabar com a impunidade” e julgar crimes tanto de integrantes das Farc como do Exército do país.

O governo colombiano outorgará uma ampla anistia que, porém, não incluirá violações graves aos direitos humanos. As penas para delitos mais graves serão de 5 a 8 anos, em “condições especiais de restrição”, para aqueles que reconheçam culpa.

Para ter direito às condições especiais, os guerrilheiros deverão abandonar as armas em um período de 60 dias após o acordo ser firmado.

“Nós acordamos que em no máximo seis meses a negociação deve ser concluída e firmada em um acordo final”, disse o presidente colombiano, que defendeu a reparação às vitimas do conflito.

"É o fim da guerra mais longa do nosso continente. Um acordo que deve sentar as bases de uma paz estável e duradoura”, continuou Santos, que agradeceu as Farc pelo passo dado. “Somos adversários. Estamos em extremos diferentes. Mas hoje avançamos na mesma direção.”

Conheça abaixo os principais eventos deste que é considerado o mais longo conflito interno do Hemisfério Ocidental.

Guerra civil

1899-1902 - "A Guerra dos Mil Dias" entre liberais (que governaram entre 1861 e 1885) e conservadores, que assumiram o poder em 1885.

1948-1957 - Entre 250 mil e 300 mil pessoas mortas na guerra civil.

1958 - Conservadores e liberais chegam a um acordo e formam a Frente Nacional para acabar com a guerra civil.

Formação das guerrilhas

1964 - Exército Nacional de Libertação (ELN), de esquerda, e o Exército Maoista da Libertação do Povo (EPL) são fundados.

1965 - Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc, atualmente o maior grupo de guerrilha) é estabelecida.

1970 - Aliança Nacional do Povo é formada como um movimento de esquerda para enfrentar a Frente Nacional.

1971 - Surge o grupo guerrilheiro de esquerda M19.

1978 - O presidente Julio Turbay (liberal) inicia o combate intensivo contra traficantes de drogas.

Os cartéis

1985 - Onze juízes e outras 90 pessoas são mortas depois que guerrilheiros do M19 invadem o Palácio da Justiça. Partido da União Patriota (UP) é formado.

1986 - Grupos paramilitares de direita iniciam uma série de assassinatos tendo como alvo políticos do UP em meio à violência de grupos de esquerda e de esquadrões da morte liderados por cartéis de traficantes de drogas.

1989 - O M19 se transforma em um partido legalizado depois de um acordo de paz com o governo. Candidatos à presidência dos liberais e do UP são assassinados durante a campanha eleitoral, supostamente a mando dos cartéis de tráfico drogas; Cesar Gaviria é eleito graças ao seu programa eleitoral contra as drogas.

1993 - Pabro Escobar, líder do cartel de Medellin, é morto a tiros pela polícia enquanto tentava evitar a prisão.

Negociações e um plano

1998 - Andres Pastrana (conservador) é eleito presidente e inicia negociações de paz com os guerrilheiros. Ele garante às Farc um território seguro do tamanho da Suíça no sudeste do país para ajudar no progresso das negociações.

1999 - As negociações de paz são lançadas formalmente, mas o progresso é cheio de idas e vindas. Pastrana e o líder das Farc, Manuel Marulanda, se encontram.

2000 - O "Plano Colômbia" de Pastrana consegue uma verba de quase US$ 1 bilhão, principalmente em ajuda militar dos Estados Unidos, para combater o tráfico de drogas e os rebeldes que lucram com o tráfico.

2001 - Rebeldes das Farc libertam 359 policiais e soldados em troca de 14 rebeldes capturados. Depois, o governo e as Farc assinam o acordo de San Francisco, se comprometendo com um cessar-fogo.

Negociações fracassam

2002 - Pastrana interrompe três anos difíceis de negociações de paz com as Farc, depois do sequestro de um avião. Ele ordena que os rebeldes deixem a zona desmilitarizada e determina que o sul é zona de guerra depois que os rebeldes aumentam o número de ataques.

2002 - O candidato independente Alvaro Uribe vence as eleições presidenciais; ele intensifica o combate aos grupos rebeldes.

2003 - Combatentes do grupo de direita Autodefesas Unidas da Colômbia (AUC) começam o processo de desarmamento.

2004 - Ricardo Palmera, membro das Farc e mais importante guerrilheiro colombiano já capturado, é condenado a 35 anos de prisão. A AUC e o governo iniciam negociações de paz.

2005 - Uma nova lei oferece penas mais curtas e proteção contra extradição para paramilitares que entregam as armas. Grupos de direita afirmam que a legislação é muito complacente.

2006 - Líderes paramilitares detidos afirmam que se retiram do processo de paz. O governo diz que a desmobilização dos grupos de direita vai continuar.

2007 - Governo liberta dezenas de guerrilheiros das Farc na esperança de que os rebeldes libertem reféns. As Farc, entretanto, rejeitam a medida e dizem que só libertarão reféns se o governo retirar seus solados e estabelecer uma zona desmilitarizada.

Libertação de reféns

2007 - Em seu papel como mediador, o presidente venezuelano Hugo Chavez, concorda em convidar rebeldes para negociações para troca de prisioneiros. Como resultado, as Farc libertam duas reféns famosos, Clara Rojas e Consuelo Gonzalez, meses depois.

2008 - Um ataque no qual colombianos ultrapassaram a fronteira e foram até o Equador mata um importante líder das Farc, Raul Reyes, e desencadeia uma crise diplomática com o Equador e a Venezuela.

2008 - As Farc anunciam a morte de seu líder e fundador, Manuel Marulanda. O Exército colombiano resgata 15 reféns, incluindo a mais famosa do país, a política Ingrid Betancourt, prisioneira das Farc há seis anos.

2009 - Mais reféns famosos são libertados, incluindo um ex-governador de província e um cidadão sueco que seria o último refém estrangeiro do grupo. O presidente Alvaro Uribe afirma que retoma negociações de paz com o grupo se os rebeldes suspenderem suas "atividades criminosas".

Causa comum

2008 - Os grupos rebeldes marxistas (as Farc e o grupo menor, Exército Nacional de Libertação, ou ELN) anunciam que vão parar os combates entre eles e se concentrar em atacar as forças armadas da Colômbia.

2010 - Juan Manuel Santos assume a presidência; ele responde a uma oferta das Farc, de negociações de paz, insistindo que o grupo rebelde deve primeiro libertar todos os reféns que ainda tenha. Mas as Farc intensificam a campanha de violência. Um importante líder do grupo, Mono Jojoy, é morto por um ataque aéreo do governo.

2011 - As Farc libertam vários reféns no que descreve como um "gesto de paz" unilateral.

2012 - Governo tem negociações preliminares com as Farc. O Congresso aprova em junho uma lei para facilitar o processo e os rebeldes das Farc declaram um cessar-fogo de dois meses, enquanto as negociações de paz formais com o governo começam em Cuba.

2013 - Um acordo é fechado entre as duas partes a respeito de reforma agrária, uma das questões mais polêmica do conflito. Eles também concordam com a futura participação polícia das Farc se o acordo de paz for realmente fechado.

Últimos passos

2014 - O presidente Santos vence outra eleição e conquista mais quatro anos no poder. Ele afirma que espera assinar um acordo de paz dentro de um ano.

Maio: É fechado em Havana um acordo sobre um dos pontos das negociações de paz, a eliminação da produção de drogas ilegais no país.

Novembro: As Farc sequestram o general Rubén Dario Alzate junto com um civil. O governo suspende as negociações de paz, que são retomadas depois da libertação dos dois.

Dezembro: As Farc declaram cessar-fogo unilateral.

2015 - Março: Os dois lados concordam em trabalhar juntos para remover minas terrestres. A Colômbia é um dos países do mundo que mais tem minas terrestres.

Abril: O governo retoma ataques aéreos depois que as Farc matam 11 soldados em emboscada.

Maio: As Farc suspendem o cessar-fogo unilateral depois de alguns de seus membros morrerem em uma ofensiva aérea e terrestre do governo. Mas o grupo afirma que quer continuar as negociações de paz.

Julho: As Farc declaram outro cessar-fogo de um mês, que depois foi estendido sem um prazo final específico. O governo responde anunciando uma diminuição progressiva das hostilidades.

Setembro: Analistas relatam que julho e agosto tiveram os níveis mais baixos dos últimos 40 anos de violência relacionada ao conflito.

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