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Estados Unidos

Ação que matou Bin Laden foi 'catastrófica', diz especialista

2 mai 2011 - 13h19
(atualizado às 13h25)
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Luciana Cobucci
Direto de Brasília

Uma operação catastrófica, mal divulgada, mal conduzida, abusiva e que causou muito desagrado ao mundo árabe. Esta é a avaliação feita pelo pesquisador do laboratório de estudos do tempo presente da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) Daniel Chaves sobre a operação norte-americana que terminou com a morte do líder do grupo terrorista Al-Qaeda. O feito foi anunciado pelo presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, na noite de domingo, em um pronunciamento acompanhado por todo o mundo.

Vídeo do interior da casa de Bin Laden flagra poças de sangue:

Daniel Chaves criticou a falta de transparência nas ações do governo americano. "Ninguém sabia que aquilo estava sendo planejado. É o tipo de iniciativa que não foi transparente. Foi uma catástrofe de extrema insensibilidade. Faltam evidências, só há uma meia dúzia de fotos. Se você é um governante, precisa prestar contas e é impossível fazer isso jogando o corpo no mar. A última vez que os Estados Unidos tiveram que prestar contas e colocar à prova a eficácia e efetividade de suas ações, a gente viu no que deu: as tais armas de destruição em massa nunca existiram", disse, lembrando do episódio em que o ex-presidente americano George W. Bush afirmou que havia armas de destruição em massa no Iraque, o que foi usado como justificativa para invasão do país por forças norte-americanas.

Para o especialista, a operação norte-americana teve um efeito analgésico para toda a sociedade daquele país, que ansiava por vingança desde o ataque terrorista às Torres Gêmeas, em 11 de setembro de 2001. Bin Laden foi apontado pelo governo americano como o chefe da operação que acabou por derrubar as duas torres do World Trade Center, em Nova York, e matou quase 3 mil pessoas que trabalhavam no local e que estavam dentro dos dois aviões que se chocaram contra os prédios.

"Há, sim, um componente analgésico, psicológico, imediato, relacionado a tudo isso. Isso é verdade, houve um bálsamo sobre a dor de todos, especialmente sobre os que perderam filhos, pais, maridos. No entanto, quando se ouve uma opinião mais crítica a respeito disso fora dos Estados Unidos, nota-se que ninguém levou isso a sério", destacou.

O pesquisador lembra que a operação terá um forte apelo eleitoral. Isso porque os Estados Unidos estão em guerra com países do mundo árabe desde o episódio que ficou conhecido como 11/09. O anúncio feito pelo presidente Obama, para Daniel Chaves, vai alavancar a popularidade do chefe de estado norte-americano, que busca a reeleição no pleito do ano que vem. O especialista em estudos do tempo presente da UFRJ alerta, ainda, para a possibilidade de haver retaliações aos americanos daqui para frente.

"Como assim invadem uma mansão, enchem o cara de tiros e jogam o cara no mar? Isto é rasgar o Direito Internacional. Do ponto de vista moral, é impensável e inadmissível uma nação projetar o poder dessa forma, é autoritarismo, um atropelo total. Definitivamente, da forma como tudo foi feito, com tantos problemas morais, do direito e da falta de evidências, não vai trazer segurança alguma. Pode haver retaliação, antipatia, desagrado do mundo árabe com o povo americano", criticou.

Ainda de acordo com a opinião do pesquisador da UFRJ, ainda é cedo para avaliar as consequências da operação em longo prazo. Mas Daniel Chaves avalia que o resultado não compensou o custo financeiro e humano de quase 10 anos de guerra entre os Estados Unidos e vários países do mundo árabe.

"Não compensa. Mas a questão é: no que quem tem essa autoridade está interessado. A impressão que dá é que ninguém está ligando para o custo financeiro que sai do bolso do contribuinte americano, nem em quem está perdendo filhos para o exército americano. Ninguém quer saber se isso custa vidas. Num longo prazo, isso vai ter impactos terríveis. Foi uma bela bobagem", alertou.

Osama bin Laden é morto no Paquistão

No final da noite de 1º de maio (madrugada do dia 2 no Brasil), o presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, anunciou a morte do terrorista Osama bin Laden. "A justiça foi feita", afirmou Obama num discurso histórico representando o ápice da chamada "guerra ao terror", iniciada em 2001 pelo seu predecessor, George W. Bush. Osama foi encontrado e morto em uma mansão na cidade paquistanesa de Abbottabad, próxima à capital Islamabad, após meses de investigação secreta dos Estados Unidos .

A morte de Bin Laden - o filho de uma milionária família que acabou por se tornar o principal ícone do terrorismo contemporâneo -, foi recebida com enorme entusiasmo nos Estados Unidos e massivamente saudada pela comunidade internacional. Enquanto a secretária de Estado dos EUA afirmava que a batalha contra o terrorismo continua, o alerta disseminado em aeroportos horas depois da notícia simboliza a incerteza do impacto efetivo da morte de Bin Laden no presente e no futuro.

Fonte: Especial para Terra
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