Glamour, disputa e terror: conheça 15 das mais poderosas máfias do mundo Texto: Mayara Moraes Fontes: Fortune, Daily Mirror, The Guardian e Urban Times Arte: Terra Embora o auge de grupos criminosos, como os carteis colombianos de Cali e Medellín, tenha ficado no passado, muitas outras gangues continuam exercendo atividades ilícitas e angariando poder ao redor do mundo. Existem máfias muito bem organizadas e hierarquizadas, como a japonesa Yakuza, e as totalmente descentralizadas, como a russa Solntsevskaya Bratva, e outras nem tanto. Mas todas elas têm muito em comum, seja a tentativa de esconder os negócios ilícitos que praticam e o lucro obtido a partir deles, seja a disseminação da onda de violência e brutalidade onde atuam. Uma coisa é certa: onde quer que esteja, você não vai querer cruzar com eles. Yamaguchi Gumi (Yakuza) - Japão Natural da cidade de Kobe, região de Kansai, no Japão, a Yamaguchi Gumi é maior família de uma das maiores máfias que se tem conhecimento, a Yakuza. Formada há centenas de anos, reúne 50% dos gângsters japoneses e, de acordo com o autor do livro “An Economic History of Organized Crime”, Dennis McCarthy, é um dos grupos mais centralizados do mundo. Segundo Jiromitsu Suganuma, ex-chefe da polícia nacional japonesa, a principal fonte da receita de 80 bilhões de dólares da Yakuza é o tráfico de drogas, seguido pelos jogos de azar, extorsão e prostituição. Crimes de colarinho branco também constam na lista de atividades ilícitas favoritas dos mafiosos japoneses. Enquanto outras gangues do leste asiático como a Triads, da China – formada por um conglomerado muito menos definido – são constituídas por criminosos que têm, na maioria das vezes, laços familiares, a Yakuza é interligada por hierarquias muito bem elaboradas, e seus membros, uma vez iniciados no grupo, devem mostrar fidelidade e obediência, se submetendo a sacrifícios em prol da máfia. Entre eles, a eliminação dos laços familiares e a amputação de dedos da mão, este último, como um ato de penitência. Em abril de 2014, o grupo lançou um site para melhorar sua imagem e angariar novos membros. A Yakuza tem seus próprios escritórios formados por membros sêniores que distribuem, sem cerimônia, seus cartões de visita. Embora sejam discretos, circulam pelo Japão em carros luxuosos e vestidos com ternos caros. Sua proximidade com políticos de alto gabarito e importantes empresários permite que a máfia opere dentro da sociedade japonesa. Não foram poucas as vezes em que a polícia fez vista grossa ao se deparar com crimes cometidos pela Yakuza, frequentemente glamourizada e cultuada por milhares de fãs. Os membros dessa poderosa máfia costumam usar o próprio corpo como uma obra de arte, aderindo a métodos tradicionais extremamente dolorosos, que incluem agulhas de bambu, para fazer suas tatuagens. O terror e a violência continuam sendo duas palavras amplamente associadas à Yakuza. Solntsevskaya Bratva - Rússia A Solntsevskaya Bratva vai na contramão da Yakuza. Segundo o professor de criminologia da Universidade de Oxford, Frederico Varese, sua estrutura é altamente descentralizada. O grupo é composto por 10 brigadas "semiautônomas" que operam mais ou menos independentes umas das outras. Apesar disso, todos os recursos obtidos com as atividades ilícitas são reunidos e supervisionados por um conselho formado por 12 membros, e que se encontra regularmente em diferentes partes do mundo, sempre mascarando seus encontros como ocasiões festivas. Estima-se que o grupo, que tem uma receita de 8,5 bilhões de dólares, tenha mais de nove mil membros, que lucram com o tráfico humano e o comércio de drogas. Estima-se que a Rússia consuma cerca de 12% de toda a heroína do planeta, embora tenha apenas 0,5% da população mundial. Camorra - Itália A Camorra é mestre no que faz, há muito tempo. Situada em Nápoles, a história do grupo remonta o século 19, quando foi formada inicialmente por uma gangue dentro de uma prisão. Quando os membros da organização foram soltos, a máfia floresceu, durante os anos 1800, ao se firmar como uma força importante na construção de uma organização política entre a população mais pobre. Embora a máfia napolitana tenha se enfraquecido consideravelmente nos últimos anos, ela continua operando firme e forte no velho continente. Apesar de jornalistas, cidadãos e autoridades terem tentado minar o avanço da Camorra, a manutenção de vínculos com governos locais tem tornado possível a sua longevidade. Estudo realizado em 2013 pela Università Cattolica junto do Joint Research Centre on Transnational Crime, centro de pesquisa dedicado a crimes transnacionais, estima que as atividades dos gângsteres italianos gerem uma receita de 33 bilhões de dólares, sendo esse valor dividido majoritariamente entre as quatro maiores máfias do país. A Camorra é a mais bem sucedida desse grupo, arrecadando cerca de 4,9 bilhões de dólares por ano de atividades como extorsão, exploração sexual, tráfico de drogas e armas de fogo, entre outros. Ndrangheta - Itália Baseada na região italiana da Calábria, a Ndrangheta é a segunda máfia do país que mais fatura. É envolvida nas mesmas atividades ilícitas da Camorra, mas, diferente dela, construiu sua fama ao estabelecer laços internacionais com carteis de cocaína da América do Sul. A Ndrangheta controla muito do mercado de drogas transatlântico que alimenta a Europa e, graças as suas operações nos Estado Unidos, contribuiu para que as famílias Gambino e Bonnano se estabelecessem em Nova York. Em fevereiro de 2014, as polícias italiana e americana prenderam dezenas de membros das famílias Ndrangheta e Gambino, acusados de tráfico internacional de drogas. A receita da Ndrangheta é estimada em 4,5 bilhões de dólares. Cartel de Sinaloa - México Maior cartel de drogas mexicano, o Sinaloa é peça-chave do negócio formado pelos produtores de drogas ilegais na América do Sul e pelo insaciável mercado norte-americano. O escritório da Casa Branca responsável pela polícia de controle de drogas estima que os americanos gastem 100 bilhões de dólares em drogas ilegais por ano, e a RAND Corporation (institututo de pesquisa sem fins lucrativos) destaca que, aproximadamente, 6,5 bilhões dessa quantia estão vinculados aos carteis mexicanos. O cartel de Sinaloa tem uma receita de cerca de 3 bilhões de dólares por ano, obtida a partir do contrabando de cocaína, maconha, metanfetamina e heroína por via terrestre ou através de túneis para os EUA, muitas vezes, através de Arizona. Embora seu líder tenha sido preso em fevereiro de 2014, o cartel de Sinaloa evitou a cara e, sobretudo, sangrenta disputa estabelecida em algumas organizações criminosas, depois que seus chefes sairam de cena. Los Zetas - México O cartel de drogas Los Zetas é conhecido por cometer os crimes mais violentos da América Latina e ter transformado o México em um campo de guerra. Um de seus lideres, Miguel Angel Trevino Morales, é conhecido por ser um homem extremamente brutal e sádico, que gosta de queimar suas vítimas vivas. O Los Zetas recruta ex-militares e atua com tráfico de drogas, sequestro e transporte ilegal de petróleo a partir de gasodutos. Apesar disso, o grupo é famoso mesmo por suas habituais execuções em massa. Em agosto de 2010, militares acharam uma cova coletiva com 72 vítimas do grupo, assassinados por serem potenciais recrutas de uma gangue rival, o Cartel Gulf. Outros 49 corpos foram encontrados decapitados em Monterrey, como resultado de um conflito com outro grande rival, o Cartel de Sinaloa. O tráfico de drogas compõe cerca de 63% da economia mexicana, e é responsável por centenas de milhares de mortes. A "guerra às drogas" resultou em uma retaliação perigosa e violenta dos cartéis, muitas vezes equipados com artilharia de nível militar, como lançadores de foguetes e fuzis AK-47. O processo de combate a esses grupos criminosos provocou o desaparecimento de mais de 20 mil pessoas no país. Cartel de Medellín - Colômbia Em 1980, a cocaína contrabandeada para fora da Colômbia tinha ultrapassado o café como o campeão de exportações do país. O comércio ilegal foi controlado por uma coleção cruel de gângsteres, armados com artefatos militares, e baseados na segunda maior cidade do país – Medellín. No seu auge, o Cartel de Medellín enviava 15 toneladas de cocaína por dia (no valor de US $ 60 milhões), para todo o mundo. Junto do Cartel de Cali, a organização criminosa de Medellín chegou a contratar engenheiros russos e americanos para empenhar esforços nas operações de tráfico de drogas. A quadrilha, liderada por Juan Pablo Escobar e 'Tio' Joe Ochoa, era implacável na eliminação de qualquer um que tentava detê-la. Mais de 30 líderes, juízes, policiais e políticos, que representaram alguma ameaça, foram assassinados. Na lista de crimes cometidos pelo Cartel de Medellín, consta ainda, em 27 de novembro de 1989, a morte de 108 pessoas que ocupavam um avião bombardeado, na tentativa de assassinar o candidato presidencial Cesar Trujillo. No final das contas, com o apoio dos Estados Unidos, o governo colombiano conseguiu reprimir o cartel. Escobar e Ochoa foram caçados e mortos pela polícia e o Cartel de Medellín quebrado. Gangue Thompson - Escócia A Gangue Thompson operou em Glasgow, na Escócia, entre as décadas de 70 e 90. O chefão, Arthur Thompson, deu início ao seu império do crime como um conselho estadual credor. Aqueles que não pagassem suas dividas eram crucificados com pregos a portas ou móveis. Embora fosse um homem muito temido, Thompson tinha rivais que desejavam a sua morte. Em 1966, ele escapou de um atentado, quando uma bomba explodiu embaixo de seu carro. Sua sogra, por outro lado, morreu no ataque. Na semana seguinte, Thompson avistou dois gângsteres rivais, que ele suspeitava terem provocado o acidente. Misteriosamente, o veiculo onde estavam os mafiosos saiu da estrada e bateu contra um poste de luz, matando os dois ocupantes. Em 1991, o filho de Thompson, Arthur Jr, conhecido como Fatboy, foi assassinado na frente de casa. Um gângster rival, Paul Ferris, foi preso pelo crime, mas isso não foi o bastante. No dia do funeral de Fatboy, os corpos de dois amigos de Ferris, Robert Glover e Joe Bananas, foram encontrados jogados em meio ao caminho do cortejo fúnebre. Eles haviam sido assassinados com dois tiros, um na cabeça e outro no ânus. Aryan Brotherhood - EUA Acredita-se que a máfia americana Aryan Brotherhood, tida pelo FBI como um dos grupos criminosos mais poderosos dos Estados Unidos, tenha sido formada por uma gangue de motoqueiros irlandês-americanos que cumpriam pena na prisão de St. Quentin, em 1964. No princípio, a máfia atacava e assassinava apenas negros, mas, a partir da década de 1980, a organização expandiu suas atividades, passando a atuar com roubo de veículos, assalto à mão armada, aluguel de matadores profissionais, tráfico de drogas e prostituição. Embora represente apenas 1% da população prisional, a Irmandade Ariana é responsável por um quarto de todos os assassinatos cometidos dentro das prisões americanas, segundo as autoridades. Quem quiser ser membro da Aryan Brotherhood, deve matar um prisioneiro, a pedido da máfia. Os irmãos arianos são cerca de 20 mil espalhados pelo país, dentro e fora da prisão. Eles são divididos em dois grupos: aqueles que cumprem pena em prisões federais e aqueles que cumprem pena em prisões estaduais menores, especialmente na Califórnia. Raros são os casos em que um membro consegue deixar o grupo com vida. Em 2002, o FBI lançou uma ampla operação nacional contra a Irmandade, que culminou com a prisão de 29 de seus líderes, incluindo os patrões Tyler 'The Hulk’ Bingham e Barry Moinho, condenados à prisão perpétua por uma série de assassinatos. Uma gangue foi criada na Califórnia, dentro das prisões, para se proteger das agressões da Aryan Brotherhood, que representavam uma grande ameaça especialmente aos detentos do Texas. O Texas Syndicate declarou em 2000 ter cerca de mil membros dentro da prisão, e 830 fora dela, a maioria imigrantes mexicanos. Detentos que não sejam hispânicos são severamente reprimidos. Esses criminosos são conhecidos por explorar a prostituição e atuar no ramo do tráfico de drogas. Hell Angels - EUA Desde que o Hell Angels foi formado na Califórnia, em 1948, o movimento se espalhou pelo mundo, ganhando cada vez mais adeptos até conquistar os 250 mil membros que mantém nos dias de hoje. Embora os Hells Angels se descrevam como um motoclube, o Departamento de Justiça dos Estados Unidos e o FBI os descrevem como um significativo grupo do crime organizado. A turma é dividida em grupos, baseados em vilas e cidades, e cultua uma serie de rituais. Nos Estados Unidos, seus membros têm de ser brancos, não ter condenações por crimes sexuais cometidos contra crianças e possuir uma moto de fabricação americana, geralmente uma Harley Davidson. Nos Estados Unidos, Canada, Suécia, Alemanha e Austrália, a polícia tem unidades especiais para lidar exclusivamente com gangues de motociclistas. Em 2007, um Hell Angel, Gerry Tobim, foi morto a tiros na Inglaterra por um membro de uma gangue rival, após um festival de rock. Os membros da quadrilha têm sido associados com o tráfico de drogas e extorsão. The Crips and The Bloods - EUA São as duas gangues de rua mais notórias dos Estados Unidos. Tanto os Crips, com 50 mil membros, quanto os Bloods, com 15 mil, foram originados da Califórnia na década de 1960. Eles geralmente seguem a seguinte regra: “Você mata um dos meus, eu matarei um dos seus”, o que tem desencadeado uma onda de assassinatos de ambos os lados. As duas gangues são associadas a assassinatos violentos, ameaças, roubos e tráfico de drogas. A policia de Los Angeles estima que mais de 5 mil assassinatos estejam relacionados com as duas facções nos últimos 20 anos. As gangues têm rituais, como símbolos de conhecimento, incluindo tatuagens, músicas, sinais de mão, grafite e códigos de vestimenta. Os Crips se vestem de azul enquanto os Bloods podem ser identificados pela cor vermelha. Cosa Nostra - Itália A Cosa Nostra foi fundada na Sicília no século 19 como um poderoso grupo do crime organizado que opera sob um código de honra regido pela lei do silêncio – não cumpri-lo resulta em execução. Quando milhares de sicilianos emigraram para os Estados Unidos no início do século 20 eles levaram consigo suas tradições e deram origem ao crime ítalo americano que conhecemos hoje. Na Sicília, a Cosa Nostra continua exercendo uma influência poderosa. Uma operação do governo com o objetivo de extinguir a organização acabou dando origem a um banho de sangue: mais de 200 promotores, chefes de polícia, juízes e políticos foram assassinados à bala ou mortos em atentados a bomba. As autoridades acreditam que haja aproximadamente 250 mil membros da Cosa Nostra no mundo inteiro, que estão em constante colaboração com outros grupos organizados, especialmente no que diz respeito ao tráfico de drogas. Mungiki - Quênia A gangue Mungiki surgiu nas favelas do Quênia e tem mais de 100 mil membros. Por causa de sua brutalidade, ficaram conhecidos como a máfia queniana. Eles operam na maior favela de Nairóbi, Mathare, e têm atuado contra o governo queniano desde 1990, além de explorar a população mais pobre, oferecendo recursos básicos, como água e eletricidade a preços altíssimos. A marca registrada da Mungiki é a decapitação. Durante a eleição presidencial de 2007, seus membros penduraram dezenas de cabeças em postes e espalharam os restos de seus corpos pelas ruas na tentativa de amedrontar os eleitores. Radicais opositores da ocidentalização, os integrantes da Mungiki não são apenas traficantes como também praticantes da mutilação genital no Quênia. Só existe uma forma de um membro da Mungiki deixar a máfia: morrendo. Mara Salvatrucha (MS -13) – dos EUA para o mundo Assim como a Yakuza, a Mara Salvatrucha (MS -13) é famosa pelos dedos desfigurados e pelas distintas tatuagens dispostas em seus peitos e rostos. Seus integrantes são extremamente perigosos por sua vinculação a uma lista quase infinita de atividades ilícitas: roubo de automóveis, vendas de entorpecentes, invasões seguidas de roubos a residências, contrabando de armas, venda de armas de fogo ilegais, extorsão, assassinato, estupro, prostituição, assaltos e intimidação de testemunhas. A Mara Salvatrucha também á uma grande recrutadora de crianças, e seus membros são frequentemente vistos rondando escolas a procura de novos membros. Criada em Los Angeles em 1980 para proteger imigrantes da América Latina, a MS – 13 está presente hoje na América Central, Espanha, Estados Unidos, Grã-Bretanha, Alemanha e Canadá, ainda que seus integrantes sejam majoritariamente guatemaltecos, hondurenhos e salvadorenhos. A gangue, que teria hoje mais de 50 mil membros, é conhecida por sua violência brutal contra inocentes, tendo uma vez provocado a morte de 28 pessoas, ao atear fogo a um ônibus cheio de mulheres e crianças. Reza a lenda que os mafiosos do grupo não têm, nem misericórdia de suas vítimas, nem remorso pelas atrocidades cometidas. Nuestra Familia Gangue americana-mexicana que se originou dentro da prisão no norte da Califórnia. A quadrilha existe desde 1968 e tem sido sempre uma rival da máfia mexicana. Muitos especulam que ela foi criada apenas para dar um golpe na rival. Controladora do comércio de drogas e sexo dentro da prisão, a gangue é conhecida por não poupar ninguém, nem mesmo seus próprios integrantes, considerados “sérios criminosos”, já que levam dois anos até serem integrados ao grupo. Os membros da Nuestra Familia têm de colocar a máfia acima de tudo: da família, do dinheiro, das drogas e das mulheres. mais especiais de notícias