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Estados Unidos

Atentados do 11/9 marcaram a psique de NY, dizem analistas

8 set 2011 - 20h01
(atualizado às 20h17)
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Há dias em que os nova-iorquinos olham para cima e comentam melancolicamente que o céu está tão azul quanto em 11 de setembro de 2001. E há também momentos em que eles ouvem um avião passando e levantam os olhares, preocupados de que esteja voando baixo demais.

Quem não é de Nova York se acostumou a pensar nos moradores da cidade como uma gente fria, até mesmo de coração duro, mas isso mudou dramaticamente há dez anos, quando dois aviões sequestrados derrubaram as Torres Gêmeas do World Trade Center.

Muita gente ficou mais ansiosa, alguns ficaram com ódio, e a maioria ficou mais triste. Mas os nova-iorquinos aparentemente também passaram a ser mais carinhosos e solidários, segundo especialistas que estudaram as reações aos atentados.

O mais notável é o reflexo condicionado de medo diante de qualquer coisa que soe ou pareça um atentado, dizem esses especialistas. Trovões, fogos de artifício e o recente terremoto sentido na cidade evocam esses pavores, por exemplo. "Uma reação muito clara quando o terremoto aconteceu foi: 'Ai, meu Deus, é terrorismo'", disse Judith Richman, epidemiologista da Universidade de Illinois, em Chicago, que estudou o impacto do 11 de Setembro sobre a saúde mental dos nova-iorquinos.

O medo se revela também na intolerância que se tornou mais predominante nestes dez anos, dizem especialistas, citando como exemplo a reação popular contra a construção de um centro cultural islâmico e uma mesquita perto do terreno onde ficava o World Trade Center. No ano passado, um taxista da cidade foi atacado por um homem que perguntou se ele era muçulmano e celebrava o Ramadã, e então fez cortes no seu pescoço, rosto e ombro.

Por outro lado, os nova-iorquinos aprenderam também a ter mais cuidado com seus concidadãos. Foi o caso, por exemplo, num apagão em 2003, recebido com descontração. Na ocasião, muitos moradores ajudaram a orientar o trânsito e a guiar as pessoas por ruas escuras - algo muito diferente dos saques e distúrbios registrados no célebre blecaute de 1977.

Mais recentemente, vizinhos se ajudaram mutuamente nos preparativos para a chegada do furacão Irene, segundo Richman. "As pessoas aprenderam a procurar ajuda quando estão em perigo", afirmou ela.

Mas outro efeito colateral do 11 de Setembro é uma "tristeza silenciosa" entre os moradores, segundo Yael Danieli, psicóloga especializado em traumas coletivos. "Um mar muito profundo de tristeza está na alma das pessoas. Está na alma dos sobreviventes, e acredito que para sempre na alma de Nova York".

Já o dramaturgo Christopher Shinn, que abordou a vida pós-11/9 na sua peça Where Do We Live ("Onde Vivemos"), acha que o impacto dos atentados mal começou a ser sentido. "Quando as coisas voltaram ao normal, nunca houve um segundo estágio em que dissemos (...): 'Agora temos alguma perspectiva, podemos começar a pensar a respeito'", afirmou ele. "Ainda estou esperando por isso. No mínimo, estamos num estado de negação."

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