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Polícia antiterrorista ainda falha no Reino Unido, diz estudo

4 set 2011 - 14h56
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Melissa Becker
Direto de Londres

Deter o crescimento do terrorismo "em casa" não é um desafio recente ao Reino Unido. O país soma um considerável número de ataques nas últimas décadas, que tiveram como autores de republicanos da Irlanda do Norte a extremistas islâmicos com cidadania britânica - as bombas detonadas no centro de Londres em 7 de julho de 2005 são a maior chaga em cicatrização nesse território nos últimos 10 anos. Porém, na prática, as ações contra-terroristas apresentam falhas ainda hoje. A resposta pode estar na relação com as comunidades.

"As políticas contra terrorismo adotadas pelo governo têm tido como alvo um espectro amplo de comunidades muçulmanas, enquanto também as distinguem como tendo o problema da violência extremista. Isso tem colaborado para estigmatizar os muçulmanos no país", avalia a doutora Basia Spalek, do Instituto de Estudos Sociais Aplicados da Universidade de Birmingham, em entrevista ao Terra.

Desde os ataques de 7 de julho, o papel das comunidades na derrota do terrorismo tem sido de interesse crescente para quem faz essas políticas. Nas ruas, no entanto, a polícia contra-terrorista ainda não estabelece uma relação de confiança com os grupos que atua. É o que aponta o trabalho Prevenindo o Extremismo Político-religioso entre a Juventude Muçulmana: Um Estudo Explorando a Parceria Entre Polícia e Comunidade, conduzido por Basia ao lado das doutoras Laura Zahra McDonald, da mesma universidade, e Salwa El-Awa, da Universidade Ain Shams, do Cairo.

As conclusões são baseadas nos relatos de 62 entrevistados de Londres e de Birmingham, na região central da Inglaterra, diretamente envolvidos ou afetados por questões contra-terroristas, como jovens muçulmanos, autoridades locais e policiais. O estudo defende que comunidades e a polícia especializada precisam melhorar a troca de informações e a transparência para construir uma relação de confiança e apoio mútuos. Os agentes deveriam ser abertos quanto à natureza de seu trabalho entre os moradores.

"Táticas pobres de execução da lei podem ter um impacto prejudicial sobre qualquer confiança que está sendo formada entre comunidades e a polícia. Em alguns locais, isso está acontecendo, enquanto em outros já há um pequeno pensamento coletivo em relação ao policiamento contra-terrorista 'pesado' e 'suave'", observa a doutora.

O governo parece reconhecer a necessidade de trabalhar junto à comunidade. Pelo menos, essa foi a observação feita pela ministra do Interior, Theresa May, no lançamento do documento atualizado sobre a estratégia nacional para atacar o terrorismo, o Prevent: melhorar o foco na prevenção do extremismo neste nível. No novo plano, 25 locais da Inglaterra foram considerados prioritários, incluindo 15 áreas de Londres e as cidades de Birmingham, Leicester, Luton, Manchester e Leeds. Em julho, o serviço de segurança britânico, o MI5, baixou o nível de ameaça de terrorismo internacional no país de severo para substancial - no qual um ataque ainda é uma forte possibilidade.

Basia ressalta que há espaços no Reino Unido vulneráveis, que não são abertos facilmente ou acessíveis para a polícia, nos quais pessoas são atraídas a integrar movimentos terroristas. Parcerias com as comunidades seriam um importante elemento na criação de grupos resistentes a essa propaganda.

"Eles podem ajudar a identificar risco e vulnerabilidade ao extremismo violento. Integrantes da comunidade podem ser mentores e apoiar aqueles considerados em risco de cometer atos de violência de motivação política ou ideológica, para tentar preveni-los de colocar a violência em prática", opina.

Para ela, o extremismo político-religioso entre a juventude muçulmana no Reino Unido pode ser prevenido por meio da implementação de procedimentos para execução da lei e de práticas que são experimentadas e vistas como sendo justas e legítimas, além de dar poderes a esse grupo, marginalizado social e economicamente no país. Em 2010, cerca de 4,6% da população britânica (cerca de 2,87 milhões de pessoas) era muçulmana, estima o estudo Redes e Movimentos Muçulmanos na Europa Ocidental, do instituto americano Pew Research Center.

Em Londres, mulheres muçulmanas protestam contra a "brutalidade" mantida aos muçulmanos
Em Londres, mulheres muçulmanas protestam contra a "brutalidade" mantida aos muçulmanos
Foto: AFP
Fonte: Especial para Terra
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