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Disparidade no emprego entre brancos e negros cresce em NY

13 jul 2009 - 11h45
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Patrick McGeehan

Mathew Warren

O desemprego entre os negros da cidade de Nova York cresceu muito mais do que entre os brancos, e a disparidade parece estar aumentando em ritmo acelerado, de acordo com novos estudos sobre os dados de desemprego.

Embora os brancos de Nova York tenham sofrido uma alta constante de desemprego entre o primeiro trimestre de 2008 e os três meses iniciais deste ano, o número de negros desempregados subiu quatro vezes mais rápido, de acordo com um relatório da controladoria das finanças municipais em um relatório que está sendo divulgado nesta segunda-feira.

Pelo final de março, o número de desempregados negros da cidade superava em 80 mil o total de brancos desempregados, de acordo com o estudo, ainda que a população branca do município seja 1,5 milhão de pessoas maior.

Os economistas dizem que não sabem ao certo porque o número de negros que estão perdendo seus empregos é tão mais alto, especialmente em um período no qual boa proporção das demissões realizadas na cidade acontece em setores onde eles não estão bem representados, como as finanças e as profissões liberais. Mas nesses setores, sugerem os economistas, os negros talvez tivessem posições hierárquicas inferiores quando os cortes ocorreram. E os negros também têm representação desproporcionalmente elevada nos setores de varejo e outros setores de serviço que vêm sofrendo problemas devido ao corte do consumo.

"Os negros foram atingidos de maneira desproporcional", disse Frank Braconi, o economista-chefe na controladoria municipal. "O padrão usual é que o índice de desemprego entre os negros seja duas vezes mais alto que entre os brancos não hispânicos, mas a disparidade se ampliou de maneira substancial na cidade, ao longo do ano passado".

Historicamente, o índice de desemprego entre os negros sempre foi mais elevado do que entre os brancos. Mas desde o começo da recessão, em dezembro de 2007, a alta geral foi de 4,6%, o que elevou o desemprego para mais de 15% em abril. Os números do desemprego entre os negros se tornaram uma questão importante a ponto de o presidente Barack Obama ser perguntado, em entrevista coletiva na Casa Branca um mês atrás, se ele poderia fazer alguma coisa para "deter a crise do desemprego negro".

O presidente disse que para ajudar qualquer comunidade, sejam os negros, os latinos ou os asiáticos, ele precisava "recolocar a economia toda em movimento".

"Caso não o façamos", declarou, "não terei condições de ajudar ninguém". Nacionalmente, a disparidade entre os índices de desemprego para os negros e os brancos vinha crescendo lentamente. No primeiro trimestre de 2008, o desemprego entre os negros era de 8,9% ante 4,8% para os brancos; no primeiro trimestre de 2009, havia subido para 13,6% entre os negros e para 8,2% entre os brancos.

Mas os especialistas na questão e as autoridades expressam preocupação quanto à tendência muito mais grave em Nova York, onde o índice municipal de desemprego atingiu seu mais elevado total em 12 anos, em maio, com 9%.

O índice de desemprego entre os negros da cidade subiu a 14,7% no primeiro trimestre, ante 5,7% no primeiro trimestre de 2008. No mesmo período, o desemprego entre os brancos de Nova York subiu apenas moderadamente, de 3% para 3,7%, o que sugere que a probabilidade de desemprego entre os negros de Nova York é quatro vezes maior que entre os brancos.

Em um centro de trabalho no Bronx, sexta-feira, Ahmad Scruggs, 32 anos, disse que foi demitido em abril de seu posto no serviço de atendimento aos clientes de um banco de Nova York que teve de cortar funcionários devido ao alto índice de inadimplência hipotecária. Scruggs, que é negro e vive em Soundview, um distrito do Bronx, diz não acreditar que sua demissão tenha ocorrido por motivos raciais, mas afirmou que ainda assim os cortes parecem ter acontecido de maneira diferenciada entre os brancos e os membros de minorias.

"Meu departamento era quase todo negro ou hispânico", disse Scruggs. "Os executivos eram quase todos brancos, e não foram demitidos. Seria de imaginar que eles começassem a cortar os excessos por cima e não por baixo, porque são os funcionários de baixos salários que realizam a maior parte do trabalho".

Scruggs, que é casado e tem três filhos, diz que o pacote de rescisão equivalente a três meses de salário pago pelo banco já se esgotou, e ele está tentando prorrogar os seus benefícios-desemprego para que possa fazer um curso que permita que trabalhe como técnico cirúrgico.

"Talvez seja melhor investir em mim no próximo ano e só depois voltar à força de trabalho", disse.

No mês passado, Roger Richardson, que vive em Mott Haven, também no Bronx, pediu demissão de seu emprego em uma loja Home Depot depois que sua jornada de trabalho foi reduzida à menos da metade. "Eu tinha de encontrar outra coisa, porque minhas contas se tornaram mais altas que o meu salário", disse.

A recessão também agravou o desemprego em Nova York para outros grupos étnicos, ainda que em nenhum caso de maneira tão acentuada quanto entre os negros. Entre os hispânicos, o desemprego subiu a 9,3% no primeiro trimestre de 2009, ante 6,4% no período em 2008; entre os asiáticos e outras classificações étnicas, o total subiu de 5,5% para 7,1% ao longo do mesmo período.

David Jones, presidente-executivo da Community Service Society, que defende os trabalhadores de baixa renda, disse que "não acredito que essa recessão tenha atingido a todos igualmente".

"Os trabalhadores de baixa renda e os trabalhadores menos habilitados estão realmente sofrendo golpes pesados", disse. "Eles são considerados dispensáveis. Perdem o emprego muito mais rápido, especialmente no varejo, entre as pessoas que carregam caixas e fazem trabalhos braçais. Nesse setor, existem muitos trabalhadores negros".

A indústria, o setor que perdeu mais empregos entre as áreas econômicas do município, também se havia tornado um baluarte para os negros, diz Jones. Os empregos públicos são ainda outra fonte primária de trabalho sólido e estável para muitos negros da cidade, acrescentou; mas esse setor também sofreu cortes nos últimos meses, porque a queda na arrecadação tributária forçou a prefeitura a reduzir seu orçamento.

James Parrott, economista chefe do Instituto de Política Fiscal, um grupo de pesquisa de inclinações liberais, apontou que os empregos no correio da cidade haviam sido reduzidos em cerca de dois mil postos de trabalho no período - muitos dos quais anteriormente ocupados por negros. As autoridades municipais vêm expressando preocupação com as demissões em massa que acontecem em setores de altos salários como as finanças, advocacia, consultoria e mídia, mas esses cortes respondem por menos da metade dos 108 mil empregos perdidos na cidade de Nova York desde que o nível de emprego local atingiu seu mais recente pico, em agosto do ano passado.

Ao comparar dados quanto aos 12 meses encerrados em 30 de abril com números referentes ao mesmo período um ano antes, Parrott constatou que os brancos de Nova York haviam ampliado seu número de empregos e que os negros e outros componentes de minorias haviam reduzido o seu. O objetivo dele era comparar a recessão com o final do boom de emprego precedente, ainda que o total de empregos na cidade não tenha começado a cair até depois do colapso do banco de investimento Lehman Brothers, em setembro, quase nove meses depois que a recessão começou a se fazer sentir em outras partes do país.

Ainda assim, a análise conduzida por Parrott oferece um quadro sombrio sobre a desigualdade na distribuição do desemprego entre os brancos e os negros e demais minorias. Os números que ele compilou demonstram que os brancos conquistaram 130 mil empregos adicionais nos 12 meses encerrados em 30 de abril, com relação ao período de 12 meses precedentes, enquanto, no mesmo período, os negros, os hispânicos e os asiáticos todos registraram quedas de emprego. Para os negros, a queda foi de 17 mil empregos; entre os hispânicos, chegou a 26 mil; e para os asiáticos e outros grupos étnicos ela ficou em 18 mil, de acordo com os dados.

"Trata-se de um quadro de emprego em preto e branco", afirmou Parrott. "É como a diferença entre a noite e o dia, mas prolongada por 12 meses. Houve uma virada real na composição racial do mercado de trabalho de Nova York ao longo do último ano".

Aldumen Gomez diz que experimentou essa tendência em primeira mão. Gomez, 25 anos, era assistente de enfermagem em uma casa de repouso do Bronx, onde trabalhou por mais de um ano; mas a unidade fechou as portas no final de janeiro, ele conta.

"Era desse tipo de emprego que as pessoas dependiam, mas agora, devido a todos os cortes, as coisas mudaram", diz Gomez, que é meio haitiano e meio dominicano. "Na empresa para a qual eu trabalhava, as pessoas que conseguiram manter seus empregos tinham cargos executivos, e em sua maioria eram brancas. Foram transferidas para outras casas de repouso".

Gomez estava estudando ciências políticas em um curso noturno no Baruch College, com a esperança de fazer uma pós-graduação em Direito depois de se formar. Mas disse temer que não possa continuar pagando as mensalidades - e morando em um alojamento de estudantes que a faculdade mantém em Manhattan - a menos que encontre outro emprego rapidamente.

Tradução: Paulo Migliacci ME

The New York Times
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