PUBLICIDADE

Iceberg "estacionado" reduziu população de pinguins na Antártida

15 fev 2016 - 16h21
Compartilhar
Exibir comentários

Colônia de pinguins-de-adélia de Cabo Denison diminuiu em 150 mil indivíduos depois que um bloco de gelo do tamanho de Luxemburgo obstruiu o acesso deles ao mar.

A área desolada do Cabo Denison, no leste da Antártida, é o lar de uma colônia de dezenas de milhares de pinguins da espécie pinguim-de-adélia. Eles sempre viveram próximos ao mar, em um ambiente ideal para buscarem alimentos e se reproduzir. Ventos constantes empurravam pedaços flutuantes de gelo para alto mar, o que garantia espaços livres onde os pinguins podiam mergulhar em busca de comida.

Mas essa situação mudou radicalmente com a chegada de um iceberg do tamanho de Luxemburgo. A imensa montanha de gelo, batizada de B09B, chegou à colônia de pinguins no Cabo Denison, na baía Commonwealth, no final de 2010. Desde então, ela tem prensado o gelo flutuante contra a costa, obstruindo o acesso dos pinguins ao mar, onde buscavam alimentos como o krill.

Com imagens de satélite, pesquisadores da Austrália e da Nova Zelândia descobriram que os pinguins estão percorrendo 60 quilômetros sobre o gelo em busca de comida. Trata-se de um trajeto longo para eles, e a situação tem um impacto devastador na população.

Declínio acentuado

Conforme artigo publicado na revista Antarctic Science, a população de pinguins no Cabo Denison caiu de 160 mil para apenas 10 mil desde 2011. Os cientistas alertaram que eles podem desaparecer do local em 20 anos se algo não mudar – em outras palavras, se o iceberg de 100 quilômetros quadrados não se deslocar ou a camada de gelo não se romper.

Os pesquisadores contaram a população no âmbito da expedição Australasian Antartic, em 2013 e 2014. Eles observaram cerca de 5,5 mil pares que ainda se reproduziam no Cabo Denison, mas salientaram que o impacto do B09B na colônia foi "mais contundente do que os números do censo sugerem".

Kerry-Jayne Wilson, principal autor da West Coast Penguin Trust, uma organização neozelandesa, disse que foi "de cortar o coração" ver como os pinguins foram afetados. Os pesquisadores afirmam no artigo que encontraram centenas de "ovos abandonados" e o chão "repleto de carcaças secas e congeladas de filhotes da estação anterior."

"Assustadoramente silencioso"

A colônia de pinguins do Cabo Denison foi documentada pela primeira vez há cem anos pelo explorador australiano Douglas Mawson. Ele descreveu o cabo como o lugar onde mais venta na Terra, e relatos de membros da expedição se referer a grunhidos roucos de milhares de pinguins.

"Agora está assustadoramente silencioso", diz Chris Turney, que liderou a expedição de 2013, em entrevista ao jornal australiano Sydney Morning Herald.

"Aqueles que nós vimos no Cabo Denison eram incrivelmente dóceis, letárgicos, quase inconscientes da nossa existência", disse Turney, que trabalha com o Centro de Pesquisa sobre Mudanças Climáticas da Universidade de Nova Gales do Sul, na Austrália.

"Os sobreviventes claramente estão lutando. Eles mal conseguem cuidar de si mesmos – imagine chocar a próxima geração", disse Turney.

Os pesquisadores também estudaram outra população de pinguins-de-adélia na parte leste da Baía de Commonwealth, a 8 quilômetros do mar aberto. Ao contrário dos pássaros de Cabo Denison, aqueles pinguins estão bem, afirma o artigo.

Paisagem em mudança

Yvon Le Maho é diretor do Centro Nacional de Pesquisa Científica da Universidade de Estrasburgo, na França. Ele disse à DW que o declínio no número de pinguins depois dessa mudança tão dramática na paisagem não é surpreendente e que é bem possível que muitos pinguins tenham simplesmente deixado a área temporariamente.

"É uma adaptação fundamental para aves da Antártida. Elas ficam onde estão quando a reprodução é bem-sucedida, e se elas não conseguem fazê-lo por um ou dois anos consecutivos, elas se mudam para recomeçar em outro local", explica Le Maho. Ele diz que a colônia do Cabo Denison deveria ser monitorada mais de perto e que seria interessante verificar se os pássaros não foram para outros locais na região.

Os pesquisadores disseram que a descoberta tem "implicações importantes" para todo o leste da Antártida se a atual tendência de aumento no número de icebergs. "Como o planeta está aquecendo, haverá mais gelo derretendo. A realidade é que mais icebergs vão se desprender da Antártida e se acumular ao longo da costa, tornando as distâncias para algumas dessas colônias de pinguins ainda maiores."

Deutsche Welle A Deutsche Welle é a emissora internacional da Alemanha e produz jornalismo independente em 30 idiomas.
Compartilhar
TAGS
Publicidade
Publicidade