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Há 70 anos, Conferência de Potsdam selava destino da Alemanha

17 jul 2015 - 10h26
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Meta central da reunião de 17 de julho de 1945 entre Churchill, Truman e Stalin era neutralizar de vez o agressor. Mas uma fresta para o retorno dos alemães à comunidade mundial permaneceu aberta.

Naquele domingo, 70 anos atrás, as limusines dos principais aliados da coligação anti-hitlerista adentraram o pátio interno do palácio Cecilienhof, na cidade alemã de Potsdam.

Na construção em estilo rural inglês, eles pareciam estar bem distantes dos horrores da Segunda Guerra Mundial. A guerra na Europa terminara apenas em 8 de maio, com a capitulação da Alemanha. A partir daquele 17 de julho, a questão era como lidar com o tenebroso legado nazista.

Acentuando o peso simbólico do encontro, o presidente dos Estados Unidos, Harry Truman, o primeiro-ministro do Reino Unido, Winston Churchill, e o chefe soviético de Estado e partido, Josef Stalin, decidiram negociar em solo germânico a nova ordem para a Alemanha, agora em tempos de paz.

Além de estipular as reparações de guerra, era necessário estabelecer novas bases políticas e econômicas. Por trás de tudo pairavam questões fundamentais: por um lado, como lidar com um país que trouxera sofrimentos indizíveis ao mundo; por outro, que interesses próprios cada potência vencedora perseguia.

Posteriormente, Truman declararia na rádio americana que, em Potsdam, haviam sido feitos acordos para eliminar o nazismo e, com ele, a indústria bélica e as Forças Armadas alemãs, inclusive o estado-maior e sua tradição militar. A meta principal das reparações era "retirar da Alemanha tudo o que possa servir à preparação de uma nova guerra", explicou o presidente.

Divisão delicada

Às 17h começaram as negociações dos "três grandes" no foyer revestido de madeira do Cecilienhof. As delegações se acomodaram em torno de uma enorme mesa redonda, especialmente encomendada pelos soviéticos para o encontro e transportada de Moscou.

Logo no começo, as conversações estacaram: Churchill queria saber o que exatamente se entendia por "Alemanha". Ele se referia à distribuição geográfica e política do território.

Esse era um tema central, envolvendo não só o interesse dos Aliados em manter a área do país o menor possível – no máximo, com a extensão que tinha antes das campanhas de conquista de Hitler. Igualmente em jogo estava o tamanho relativo das zonas de ocupação e, consequentemente, o grau de influência de cada uma das potências ocupantes no centro da Europa Ocidental.

Diálogo histórico

Seguiu-se um diálogo, reconstituído mais tarde a partir das atas americanas e de um texto russo. De início, Truman ou não sabia ou não queria responder a pergunta do premiê britânico sobre o significado da Alemanha. Talvez tenha sido surpreendido, talvez só quisesse ganhar tempo para dar uma resposta fundamentada. Seja como for, o presidente dos EUA se dirigiu a Stalin.

Truman: Qual é a visão da delegação soviética?

Stalin: A Alemanha é aquilo que se tornou depois da guerra. Não existe uma outra. A Áustria, por exemplo, não é mais parte da Alemanha.

Truman: Por que não dizemos: a Alemanha de 1937?

Stalin: Excetuado o que ela perdeu em 1945.

Truman: Em 1945 ela perdeu tudo. [A ata russa acrescenta: A Alemanha não existe mais, de fato.]

Stalin: Segundo nos dizem, Alemanha é um conceito geográfico. É impossível passar por cima dos efeitos da guerra.

Truman: Mas precisamos de uma linha para tomarmos como ponto de partida. [...] Eu propus a Alemanha de 1937.

Guinada na história mundial

Os participantes da conferência concordaram em adotar a sugestão de Truman. Desse modo, decidiram dividir o país nas zonas de reparação leste e oeste, e confirmaram a autonomia das áreas de ocupação. À França coube uma área de ocupação própria.

Na prática, a Alemanha perdia, assim, sua unidade geográfica, política e econômica. A partir das zonas de reparação foram mais tarde fundadas a República Federal da Alemanha (ocidental) e a República Democrática Alemã (oriental), sob regime socialista. Assim, a Conferência de Potsdam igualmente marcou o início do pôquer de poder entre as potências do Ocidente e a União Soviética, que em poucos anos culminaria na Guerra Fria.

As negociações se estenderam até 2 de agosto, concluindo-se com a Declaração de Potsdam. Esta prescrevia, entre outros pontos, o deslocamento da fronteira oeste da Polônia até os rios Neisse e Oder. O país receberia compensação pelos territórios que fora forçado a entregar à União Soviética.

As somas de ressarcimento só foram fixadas por alto. Não havia um procedimento padrão: cada nação devia cobrir suas exigências com os recursos de sua própria zona de ocupação. Além disso, os "três grandes" acordaram quanto à expulsão da população alemã da Polônia, da Tchecoslováquia e da Hungria.

Potsdam também marca uma guinada na história mundial. Com o "Terceiro Reich" aniquilado, a coligação das potências aliadas começava a se esfacelar. Além disso, em meio às negociações, o carismático premiê Churchill foi substituído pelo líder trabalhista Clement Attlee, vencedor das primeiras eleições britânicas do pós-Guerra. E Truman – pouco experiente em política externa, tendo sucedido a Franklin Roosevelt em abril, após a morte deste – deu a ordem para o primeiro lançamento de uma bomba atômica ainda durante a conferência.

Esperança de volta à civilização

Embora a ênfase oficial fosse a punição do agressor bélico, para a Alemanha a conferência trouxe um sinal de esperança. Nem mesmo chegaram a ser discutidas sugestões anteriores para que os alemães fossem escravizados e transformados num povo de lavradores.

A porta para um reingresso da Alemanha na comunidade internacional permanecia ligeiramente aberta. Até porque os Estados Unidos reconheceram desde logo a importância estratégica da Alemanha Ocidental diante de uma União Soviética em expansão.

Num discurso radiofônico após seu retorno a Washington, o presidente Truman comentou que estava vindo de uma cidade "a partir da qual os alemães quiseram dominar o mundo". Agora ela era uma cidade-fantasma, em que os prédios, a economia e as pessoas jaziam por terra.

"Vamos fazer o que pudermos para que a Alemanha volte a ser uma nação decente. Para que, por fim, encontre o caminho para sair do caos econômico em que ela própria se colocou, voltando a ocupar seu lugar no mundo civilizado."

Deutsche Welle A Deutsche Welle é a emissora internacional da Alemanha e produz jornalismo independente em 30 idiomas.
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