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No Japão, antiviral contra gripe chegou a ser proibido

11 mai 2009 - 19h11
(atualizado em 16/6/2018 às 14h29)
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Distribuído pela Organização Mundial de Saúde (OMS) como medicamento básico para o tratamento da gripe suína - A (H1N1) -, o antiviral oseltamivir (Tamiflu) teve a prescrição proibida no Japão em 2007 para crianças e adolescentes entre 10 e 19 anos. A medida se deu após o registro de casos de comportamento considerado perigoso, que incluiu a ocorrência de suicídios, em pessoas desse grupo.

Nancy Bellei, especialista em infectologia clínica e membro do Comitê Científico de Influenza da Sociedade Brasileira de Infectologia, afirma, porém, que a ocorrência dos casos de suicídio no Japão pode estar ligada à própria doença. "As crianças podem ter encefalite pelo vírus influenza A. E durante a encefalite, elas deliram", disse Nancy. "E isso pode ter provocado esses casos (de suicídio), e não o remédio. O Japão é o país do mundo que mais usa o Tamiflu. Eles alertaram isso para a Agência Reguladora de Drogas e Alimentos dos Estados Unidos (FDA) e não se cogitou relacionar uma coisa a outra", comentou.

Por meio de sua assessoria de imprensa, o laboratório suíço Roche, produtor do medicamento, informou que "não foi estabelecida a contribuição de Tamiflu (oseltamivir) a comportamentos anormais. Sabe-se que este tipo de comportamento pode ocorrer em pacientes com gripe, incluindo-se aqueles que não tomam medicação antiviral. Seguindo extensivas investigações, nenhum mecanismo foi identificado pelo qual o Tamiflu poderia causar tais eventos".

Para Nancy, uma das principais virtudes do remédio é evitar a transmissão do vírus. "Ele evita a transmissão. Isso está plenamente documentado. Quando você trata uma pessoa numa casa, você evita em 80% a transmissão para os familiares", afirma. Edmund Chada Baracat, diretor científico da Associação Médica Brasileira, diz que, como todo remédio, o Tamiflu não é isento de efeitos colaterais. "Porém, entre o risco e o benefício, o seu uso é aconselhado", diz Baracat.

Ministério da Saúde

Até o Brasil registrar o primeiro caso confirmado de gripe suína, na última quinta-feira, o Ministério da Saúde estocou cerca de 12,5 mil doses do Tamiflu para tratar as possíveis contaminações. Nas próximas semanas, esse número deve ser ampliado para 54 mil. Usado com sucesso no combate da gripe comum e no tratamento da gripe aviária, sua eficácia no caso da gripe suína ainda está em estudo.

Na semana passada, com a possibilidade do avanço da gripe suína no Japão, o Ministério Público local liberou a prescrição da droga para crianças e adolescentes. Até a noite de sexta-feira, três casos da gripe suína foram confirmados no país. Antes disso, a americana FDA recebeu mais de cem relatos sobre alucinações e delírios provocados após a ingestão do medicamento, além de comportamentos psiquiátricos incomuns. A maioria dos casos se deu entre agosto de 2005 e julho de 2006. Porém, a relação entre o remédio e os casos não chegou a ser documentada.

Juvêncio Furtado, presidente da Sociedade Brasileira de Infectologia, diz que ainda não se tem certeza da eficácia do Tamiflu no caso de gripe suína e que o estoque do governo pode se perder em pouco tempo. Ainda assim, ele considera a aquisição como prudente. Segundo ele, o remédio funciona bem em influenza comum, mas quanto a utilização no combate à A/H1N1, "ainda não se tem certeza". Furtado lembra que "talvez esse estoque comprado pelo governo, daqui a quatro anos não sirva para nada, já que o vírus é mutante".

Pelo mundo

A Organização Mundial da Saúde anunciou, na última terça-feira, o envio de um estoque do antiviral Tamiflu suficiente para tratar 2,4 milhões de pacientes com a nova gripe H1N1. Esse estoque era mantido a partir de doações feitas pelo laboratório Roche à OMS. A GlaxoSmithKline, segundo maior laboratório farmacêutico do mundo e produtor do antiviral Relenza, informou na semana passada que também está aumentando a produção de seu medicamento.

A orientação de todos os especialistas é de que o remédio só deve ser usado com prescrição médica. Após o anúncio dos primeiros casos de gripe suína no México, há duas semanas, o remédio, que custa em torno de R$ 150 a caixa, com dez comprimidos, se esgotou nas farmácias do Brasil. Agora, o laboratório afirma que não irá repor os estoques.

Fonte: Redação Terra
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