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G20 termina devolvendo crise do euro para Europa

Grupo enfatiza necessidade de crescimento, mas deixa para União Europeia decisões para resolver seus próprios problemas.

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O encontro do G20, o grupo das principais economias avançadas e emergentes do planeta, terminou nesta terça-feira em Los Cabos, no México, devolvendo para a Europa o problema da crise na zona do euro.

O documento final do G20 exorta seus membros que também estão na zona do euro a tomar "todas as medidas necessárias para salvaguardar a integridade e a estabilidade da área", e recomenda que as nações que adotam a moeda comum "trabalhem em parceria com o próximo governo grego para garantir que (a Grécia) permaneça no caminho da reforma e sustentabilidade dentro da zona".

Que a Europa será o principal responsável por tirar os seus países da crise, não é novidade. E que a instabilidade na zona do euro tem tido efeitos na economia dos outros países - por exemplo, causando desaceleração nos EUA, na China e inclusive no Brasil - e por isso diz respeito ao G20, também não.

A diferença entre esta declaração final e as posições anteriores é o que o presidente francês, o socialista François Hollande, definiu como "um consenso em torno do crescimento".

''Evolução''

Líderes e assessores que participaram dos encontros também notaram uma mudança importante em relação à semana passada: uma "evolução", nas palavras da presidente Dilma Rousseff, na postura da chanceler Angela Merkel, que lidera o país em melhor posição de liderar as medidas de estímulo no continente, e no entanto o mais enfático na austeridade.

"Eu percebi (em Merkel) uma grande preocupação da chanceler e uma determinação, um sentido de resolver a crise", disse Dilma, que se encontrou com a líder europeia nesta terça-feira.

A presidente brasileira disse que a colega alemã não falou em austeridade e mostrou "uma percepção da importância da consolidação fiscal com a questão do crescimento".

A declaração final do G20 é enfática ao dizer que "as economias avançadas vão garantir que o ritmo da consolidação fiscal é apropriado para apoiar a recuperação, levando em consideração especificidades de cada país" e que, se as condições econômicas se deteriorarem, os países com mais espaço fiscal devem "estar preparados para coordenar e implementar medidas fiscais para apoiar a demanda doméstica, conforme o apropriado".

Decisão europeia

Por estarem no epicentro da crise atual, os líderes europeus estiveram sob pressão aqui em Los Cabos para tomar medidas rápidas de resolução da crise. Tanto que, no primeiro dia do encontro, o presidente da Comissão Europeia, José Manuel Durão Barroso, teve de dizer que não tinha vindo ao encontro para "receber lições de ninguém".

Nesta terça-feira, em uma pergunta dirigida a François Hollande, um jornalista francês expressou incômodo com as discussões sobre o futuro do seu continente no G20,"como se a Europa precisasse do G20" para resolver seus problemas.

Hollande foi enfático: "Sim", precisamos do G20. "Em breve temos a reunião do Conselho Europeu (nos dias 28 e 29 de junho) e é mais uma obrigação que temos", disse o presidente francês. "Não queremos que a Europa seja o problema, queremos ser a solução."

Particularmente em relação ao problema da instabilidade na Grécia, Hollande disse que o G20 foi importante para forjar uma ação de via dupla: por um lado, que o governo de Atenas mantenha seus compromissos com credores - algo que o partido vencedor nas eleições de domingo já indicou. Por outro, que os líderes europeus ajudem a Grécia a reviver sua economia.

Ainda durante o encontro, a União Europeia indicou que os países da zona do euro vão aprofundar a sua união bancária, fiscal e política. O comunicado do G20 afirma que apoia "a intenção (da UE) de considerar passos concretos para uma arquitetura financeira mais integrada, que inclua supervisão bancária, recuperação e recapitalização (dos bancos), e seguros de depósito".

A própria chanceler Angela Merkel informou a jornalistas que o grupo discutiu "as linhas básicas para ter as mesmas normas sobre garantias de depósito e reestruturação dos bancos".

O documento também fala da necessidade de agir para reduzir os altos custos de financiamentos pagos pelos governos da zona do euro - uma ideia que sugere uma maior inclinação de Merkel à maior intervenção no mercado de títulos soberanos, mas permanece sem detalhes.

''Solidariedade'' dos emergentes

O encontro também foi marcado pela definição de quanto os países emergentes chamados de Brics - Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul - contribuirão para aumentar o caixa anticrise do Fundo Monetário Internacional (FMI).

O grupo dará US$ 75 bilhões, sendo que Brasil, Índia e Rússia darão US$ 10 bilhões cada um, a China entrará com US$ 43 bilhões e a África do Sul, US$ 2 bilhões.

O dinheiro foi disponibilizado sob a condição de que o FMI conclua a reforma de cotas, aprovada em 2010, que daria mais voz aos emergentes no órgão.

No total, o Fundo afirmou ter levantado US$ 456 bilhões - sem a ajuda de Estados Unidos ou Canadá, que se recusaram a contribuir com um fundo para resgatar a Europa, uma das regiões avançadas do planeta.

A maior parte dos recursos veio dos próprios países da União Europeia.

Para a presidente Dilma Rousseff, entretanto, o aporte ao FMI demonstra "solidariedade grande com os países da Europa". Ela destacou o caso da África do Sul - "um país africano dando uma contribuição para um firewall (muro de contenção) europeu".

"Eu acho que é uma grande demonstração de solidariedade."

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