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Vitória de Marina seria 'desastre' para o PSB, diz analista

Cientista político da Unicamp acredita que melhor desempenho da candidata nas eleições pode prejudicar o crescimento do partido do companheiro

15 ago 2014 - 09h14
(atualizado às 14h53)
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Convenção do partido oficializou a candidaturas de Eduardo Campos e Marina Silva
Convenção do partido oficializou a candidaturas de Eduardo Campos e Marina Silva
Foto: PSB / Divulgação

Com a morte do candidato do PSB à Presiência da República, Eduardo Campos, outro integrante da coalizão terá que ser indicado para disputar as eleições – e o nome mais cotado é o de Marina Silva, antiga vice do pernambucano. A nomeação, no entanto, pode ter consequências negativas graves para o partido. É nisso que acredita Valeriano Costa, professor de Ciências Políticas da Unicamp (Universidade Estadual de Campinas).

“Seria quase impossível o PSB não dar a vaga para a Marina. Não vejo outras opções equivalentes. Nomes menores do partido não iriam concorrer, apenas marcar presença. Sem ela, teriam que desistir da eleição”, disse em entrevista ao Terra. “Por isso existe um grande dilema. No ano que vem, a Marina vai tentar regularizar as assinaturas para montar o partido dela novamente e deve conseguir. Então, se ganhar a eleição, vai ser um desastre total para o PSB. Mesmo se não ganhar, deve ser bem votada, e vai levar seu potencial eleitoral para o Rede do mesmo jeito”, completou.

Marina confirmou a filiação ao PSB em outubro de 2013, depois de ter o registro de criação do Rede Sustentabilidade negado pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Desde o início, porém, deixou claro que pretende sair do partido assim que conseguir regularizar sua própria legenda. 

Segundo Valeriano, outro problema que o PSB enfrenta com a morte do candidato - vítima de um acidente aéreo na cidade de Santos nesta quarta-feira (13) - são as divergências internas. Em alguns Estados (especialmente no Nordeste), o partido apoia o PT, enquanto em outros (como no Sul e no Sudeste), apoia o PSDB. Sem uma liderança em comum, isso pode dividi-lo e deixá-lo sem expressividade nacional.

“O futuro do PSB é nebuloso. Ele pode se tornar um partido auxiliar. Se isso acontecer, a tendência mais forte, por se dizer socialista, é voltar a participar de uma coalizão com o PT. Mas existem Estados em que ele apoia o PSDB, então ainda pode haver um racha no País. Isso é um perigo, o projeto de poder do Eduardo Campos é o que mantinha todos unidos”, explicou.

De acordo com o analista, outra diferença significativa entre Campos e Marina está na estratégia pessoal de cada um. O professor avalia que Campos tinha um projeto de ascensão política a longo prazo, voltado para eleições futuras, enquanto o de Marina tende a ser mais imediatista.

“Ele não tinha a pretensão de ganhar agora. Estava interessado em abrir a visibilidade de seu nome. O projeto era para duas, três, quatro eleições. A Marina, por outro lado, disputou em 2010, então já está mais amadurecida para tentar ganhar ou pelo menos disputar o segundo turno. Ela só perdeu essa chance por causa do problema na formação do Rede”, afirmou.

Eleições 2014

Se confirmada a candidatura de Marina, as intenções de voto apresentadas pelas pesquisas devem sofrer mudanças drásticas. Valeriano acredita que os votos a Dilma Rousseff (PT) e Aécio Neves (PSDB), primeira e segundo colocados nas pesquisas, respectivamente, permanecerão praticamente os mesmos, mas que os da "nova alternativa" podem encostar (ou até ultrapassar) os do candidato tucano.

Valeriano entende que, como grande parte dos eleitores que pretendiam votar em Campos é de Pernambuco, a maioria deste eleitorado deve migrar para Dilma, graças às políticas sociais do governo petista que beneficiaram muitas famílias do Nordeste. Por outro lado, outra parcela de seu eleitorado (de Eduardo Campos) é de anti-petistas, cujos votos devem ir para Aécio. "Mas a Marina tem uma votação própria, isso é o mais relevante. O eleitorado compra mais o ‘pacote Marina’ que o ‘pacote Eduardo’. Ela deve pegar grande parte dos votos indecisos. A dúvida que fica, em minha opinião, é quem vai para o segundo turno com a Dilma”, pontuou.

Apoio de Lula

O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), que mantinha uma relação próxima com Campos, considerava apoiá-lo nas eleições de 2018. Nesse ponto, a nomeação de Marina – conhecida como uma ex-integrante “frustrada” do Partido dos Trabalhadores – representaria outra grande mudança de projeto.

“Com a Marina, esse apoio dificilmente aconteceria, pois ela é ‘herdeira’ de parte da votação do PT. Já o Campos era bem próximo do Lula, especialmente pelo parentesco com Miguel Arraes. Certamente seria difícil convencer o PT disso, eles têm uma forte disputa interna pelo poder, mas o Lula queria, sim, o Campos como candidato futuro”, finalizou.

Fonte: Terra
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