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RS: Robaina diz que mídia atrapalha campanha de Luciana

22 set 2014 - 19h34
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Na disputa pelo governo do Rio Grande do Sul, Roberto Robaina (PSol) está muito distante de qualquer possibilidade de chegar ao segundo turno. Mas, apesar dos índices desanimadores (na faixa do 1%), ele também não tem qualquer similaridade com os chamados candidatos nanicos: aqueles que representam siglas inexpressivas e, em geral, não demonstram qualquer conhecimento sobre a realidade dos governos ou a viabilidade de suas propostas. Historiador com mestrado em Filosofia e uma vida dedicada à militância partidária, Robaina, que completa 47 anos no próximo dia 29, destaca que o Psol tem propostas claras para governar, apesar de elas serem indigestas para uma parcela da população. Ele admite, contudo, que o caminho a ser trilhado pelo partido é longo. Apesar disso, as derrotas em eleições não o desanimam: com a mesma disposição e sabendo que não venceria, ele concorreu ao governo em 2010 e à prefeitura de Porto Alegre em 2012.

<p>Para Roberto Robaina, propostas dos seus adversários nas áreas prioritárias são similares</p>
Para Roberto Robaina, propostas dos seus adversários nas áreas prioritárias são similares
Foto: Flavia Benfica / Terra

Nesta campanha de 2014, está particularmente empenhado também na corrida presidencial, já que integra o grupo que, junto com a candidata do partido à presidência, a ex-deputada Luciana Genro, deixou o PT em 2003 e fundou o Psol. A vinculação a Luciana extrapola a política: no final dos anos 80 eles chegaram a namorar por três anos. Da relação, nasceu o único filho de ambos, o estudante de Direito Fernando Genro Robaina. Fernando, de 26 anos, foi, até bem pouco tempo, o único neto do governador Tarso Genro (PT), que disputa a reeleição, sendo adversário de Robaina na disputa. Confira abaixo a entrevista que ele concedeu ao Terra.

Terra: O Psol se apresenta nestas eleições como o partido que representa os anseios dos protestos de rua de 2013. Mas, até agora, isso não se traduziu nas pesquisas de intenção de voto. Por quê?

Robaina: Os protestos tiveram uma grande importância para o País. Ficou expresso o esgotamento da política tradicional e dos esquemas de poder montados pelo PT e, antes dele, pelo PSDB. Foram manifestações espontâneas. Temos orgulho do fato de o estopim das jornadas de junho ter sido a luta pela diminuição do valor da tarifa de ônibus em Porto Alegre. Acabou nacionalizando. Imaginávamos que isto ia se expressar nestas eleições. Porque a candidatura da Luciana traduz de modo fiel as demandas das manifestações. Ela tem uma penetração muito forte nas universidades, no movimento LGBT, e entre todos os que lutam por direitos sociais. Em junho do ano passado houve a expressão mais forte do debate, de que a política precisa se qualificar. E a Luciana tem sim entusiasmado estes setores mais de vanguarda.

Terra: Mas, por enquanto, parte do voto de protesto migrou para Marina Silva, enquanto que Luciana segue na faixa do 1% nas pesquisas...

Robaina: Se não houvesse um bloqueio tão grande da mídia, seria diferente. A mídia só cobre três candidatos. Se tiver cobertura, vai haver o encontro entre junho e as propostas do Psol. A entrada da Marina na disputa presidencial mostrou que junho se expressou, mas, infelizmente, de forma distorcida. Porque ela tem posições reacionárias em relação a direitos civis, acena para o PSDB na economia e para um acordo com a cúpula reacionária das Forças Armadas. Então, junho tem expressão, mas distorcida em termos de massas. Acreditamos que, com o tempo, isso vai sendo acertado. As eleições são um passo importante, mas a vida não termina nelas.

Terra: Em um debate recente, o governador Tarso Genro (PT), candidato à reeleição, acusou o Psol de, ‘por imaturidade’, fazer na eleição estadual o papel de ‘quinta coluna’ da candidatura de Ana Amélia Lemos (PP). No debate entre presidenciáveis promovido pela CNBB, Aécio Neves (PSDB) disse que o Psol funciona como linha auxiliar do PT, o que rendeu a comentada resposta de Luciana Genro. Afinal, ao criticar tanto o PT, o Psol pode acabar auxiliando candidaturas como as de Aécio e Marina, e, no Rio Grande do Sul, ao PP?

Robaina: A esquerda e a direita existem. Mas acontece muito de usarem o nome de esquerda para fazerem políticas que acabam desconstituindo a esquerda. Quando alguém é de esquerda e começa a fazer política de direita, confunde o povo. Reivindicações clássicas da população como saúde, educação e segurança, são reivindicações de esquerda. O PT, em muitos momentos, foi contra a esquerda. Se adotarmos a premissa do PT, ou seja, dele falando de si mesmo, dizendo que é de esquerda, vamos engolir isso. Mas, na prática, não foi assim que funcionou. Nacionalmente, o PT está aliado ao PP. Acabamos justamente fazendo um contraponto a isso. E o Rio Grande do Sul, onde PT e PP são adversários, não pode ser considerado isolado da situação nacional. Na questão da dívida do Estado, por exemplo, quem faz o garrote contra o RS? O governo federal do PT. O alinhamento dos governos federal e estadual precisava ter reduzido isso. Veja a posição da Dilma (Rousseff). Para mostrar que vai fazer um mandato a serviço dos bancos, aceitou publicamente demitir o Mantega (o ministro da Fazenda, Guido Mantega) caso se eleja para o segundo mandato. E isso que a política do Mantega já não é de esquerda. O povo não está sendo atendido, e o governo aceitou ser gerente dos grandes grupos capitalistas.

Terra: Quais as propostas do Psol para a política econômica?

Robaina: Queremos aprofundar uma posição de esquerda que seja coerente. Nós defendemos que o Estado tenha mais capacidade de intervenção na economia. O que aconteceu foi que o PSDB descapitalizou o Estado brasileiro e o PT seguiu com isso. No Rio Grande do Sul, o Tarso vai encerrar seu mandato com propostas de privatização de presídios. O Estado perde cada vez mais capacidade de alterar o ciclo econômico. Há muitas condições de se estabelecer um modelo alternativo na América Latina, mas o PT se recusa a liderar este processo. Na campanha, a Dilma acusa a Marina de ser agente dos bancos e a Marina devolve, dizendo que a Dilma criou a ‘Bolsa Banqueiro’. Ambas as acusações, que estão corretas, são feitas na tentativa de ganhar o voto do povo. Só que, enquanto isso, 40% do orçamento vai para o pagamento dos títulos da dívida, que estão nas mãos de cinco mil famílias.

Terra: Não há diferenças entre Dilma, Marina e Aécio? Ou entre Tarso e Ana Amélia?

Robaina: Aqui no Rio Grande do Sul o que demonstra o caráter de direita da Ana Amélia é sua escolha partidária. Ela não tem uma grande bagagem. Mas é do PP, o partido do Ciro Nogueira, delatado pelo Paulo Roberto Costa. É também o partido do Paulo Maluf e do Jair Bolsonaro. E, no RS, daquela turma toda que operou o escândalo do Detran durante o governo de Yeda Crusius (PSDB). Isso sem falar que é o herdeiro da Arena, o partido da ditadura. Já o PT tem seu tesoureiro nacional também delatado no esquema da Petrobras. Vai dizer o quê? Que o dinheiro era só para ele? Vejo um interesse geral em desvincular os candidatos dos partidos. Só que quem vai governar são os partidos. Estamos entre os que representam o retrocesso e os que representam o continuísmo. O Psol é uma alternativa a tudo isso.

Terra: Quais são os pontos prioritários do programa do Psol?

Robaina: São as reivindicações da classe trabalhadora, o atendimento à Constituição, a melhoria das políticas públicas para saúde e educação, o aumento dos recursos para estas áreas, o fim do fator previdenciário, a defesa do público. Em nosso programa, não só informamos o que vamos fazer em cada área, como apontamos de onde devem sair os recursos. É por isso que dizemos que temos lado. Defendemos o fim das isenções fiscais para as grandes empresas, propomos a taxação das grandes fortunas, defendemos que o BNDES pare de concentrar seus financiamentos em 12 grandes grupos econômicos que se utilizam dos juros baixos para concentrar fatias cada vez maiores do mercado. Nosso crescimento só depende do povo. Por isso, nosso esforço é chegar ao povo. Neste sentido, junho de 2013 foi um momento de brecha. Por isso é tão importante para nós. Se o povo nos apoiar, nós governamos, mesmo sem maioria no Congresso, e sem acordos. Se a Marina vencer a eleição e o povo a apoiar, ela governa. Só que, no caso dela, já há um problema: mesmo ela tendo o apoio de parte importante do povo, ela já fez um acordo com as elites. Não tem como atender aos dois. Quando o Executivo apresenta um projeto de interesse para o povo, o povo também se mobiliza. Por outro lado, quando apresenta projetos contra o povo, e o Congresso vota, sempre demanda uma compensação.

Terra: Por que nesta campanha as áreas básicas como saúde, educação e segurança estão quase à margem do debate?

Robaina: Porque não interessa aos candidatos do sistema, já que eles têm mais ou menos as mesmas propostas. Não querem atacar os milionários e os poderosos. As coisas estão se deteriorando. Se qualquer um dos três ganhar, vai ser uma bagunça. Porque já está tudo bagunçado. Hoje, estamos em muitas lutas: contra o racismo, contra a homofobia, contra o aumento das tarifas de ônibus. Em algumas, temos sucesso, mas não queremos fazer atalhos. As mudanças precisam ser estruturais, para que a esquerda não tenha uma vitória num dia e, no dia seguinte, uma decepção. Vamos ter paciência histórica de forma que, quando realmente tivermos força, possamos fazer um governo para o povo.

Terra: Em quem você vai votar no segundo turno?

Robaina: Isso eu não vou dizer. A Luciana provavelmente dirá, apesar de que todo mundo já imaginar em quem ela vai votar no segundo turno. (No primeiro, a candidata já declarou que vota em Robaina). Meu filho já abriu o voto (Fernando votará nos pais no primeiro turno e, no segundo, no avô)

Fonte: Especial para Terra
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