PUBLICIDADE

O articulador Temer: vice de Dilma é a cara do PMDB

Presidente do PMDB há 13 anos, o político foi da base governista de FHC e candidato a vice-prefeito, em São Paulo, na chapa de Erundina (PSB)

23 out 2014 - 08h00
(atualizado às 11h44)
Compartilhar
Exibir comentários
<p>Com seis mandatos de deputado federal, Michel Temer é visto como a cara do PMDB</p>
Com seis mandatos de deputado federal, Michel Temer é visto como a cara do PMDB
Foto: Joedson Alves / Reuters

O vice-presidente e candidato à reeleição pelo PMDB Michel Temer é um negociador, responsável por articular a maioria dos apoios para a base de governo da petista Dilma Rousseff de maneira discreta. O paulista de Tietê de 74 anos reflete a principal característica do PMDB, partido no qual atua como presidente há 13 anos: a arte de negociar com todo e qualquer partido, e justificando a frase “ninguém governa sem o PMDB”, dita no meio político.

Ao longo da carreira política, já esteve na presidência da Câmara dos Deputados como base de sustentação do governo Fernando Henrique Cardoso (PSDB), foi candidato a vice-prefeito com Luiza Erundina (PSB) na liderança da chapa, em 2004, e atualmente é vice-presidente da República ao lado da petista Dilma Rousseff.

“Ele reflete bem o que é o partido dele, essa heterogeneidade. A possibilidade de esperar que o PMDB esteja em qualquer lugar. O PMDB faz cálculos muito governistas, e o Temer, presidente da Câmara, vice da Dilma, é um espelho fiel do partido. Claro que ele poderia ter sido um presidente criador de dificuldades para o FHC, mas não foi. Foi negociador e contou com o apoio dos partidos da base. Ele representa um jeito profissional de fazer política. Um jeito PMDB, governista, calculista, e não é uma crítica”, afirma o cientista político Humberto Dantas.

Vice de Aécio, ex-guerrilheiro Aloysio é comprador de brigas

Durante entrevista para RedeTV, veiculada no domingo (19), Temer esboçou seu pensamento em relação ao estilo de governo do PMDB. Ao contrário do candidato a vice-presidente pelo PSDB, Aloysio Nunes - também entrevistado-, que logo na primeira pergunta fez questão de provocar a presidente Dilma Rousseff e os adversários de campanha do PT, o pemedebista mostrou serenidade e tradicional estilo articulador. Temer foi questionado sobre a possibilidade de haver um “racha” no Brasil após as eleições deste ano pelo nível que se deu a campanha presidencial, com o excesso de ataques entre as duas campanhas, na reta final.

<p>Discreto e articulador, o pemedebista está há 13 anos na presidência do partido</p>
Discreto e articulador, o pemedebista está há 13 anos na presidência do partido
Foto: Ueslei Marcelino / Reuters

“Eu não acredito em um País dividido. É natural que nos últimos dias que antecedem as eleições haja maior quantidade de emoção. Quando acaba a eleição todos se conformam. Quem perdeu se conforma. E quem ganhou compreende aqueles que perderam a eleição. Não acredito que haja uma eventual divisão no País. Ao contrário. Temos uma harmonia entre várias classes sociais e, passada a eleição, qualquer agressão será esquecida”, afirmou.

“Ele é presidente de um partido dificílimo, um partido imenso. Nitidamente, tem um papel de saber administrar o PMDB por dentro. Pode ser uma qualidade ou um defeito. O partido equilibra muito alguns aspectos ideológicos. São menos radicais do que poderiam ser. É um partido complicado, que tem uma força imensa, espalhado pelos municípios”, completa Dantas.

Na mesma entrevista e ainda no quesito “presidente de um dos maiores partidos do Brasil”, Temer mostra que o diálogo é sua principal arma para tentar unir o PMDB, principalmente em São Paulo. Recentemente, por exemplo, o vice da República praticamente “fechou” uma grande churrascaria no Estado apenas para prefeitos e lideranças paulistas ligadas ao partido com a intenção de pedir apoio à presidente Dilma no segundo turno das eleições. Centenas de convidados compareceram ao evento. Temer tentou reverter a situação do primeiro turno em que muitos prefeitos eleitos pelo PMDB preferiram apoiar a candidatura de Geraldo Alckmin à do pemedebista Paulo Skaf, para o governo de São Paulo.

“As questões são locais. Não tem deputado que participou de uma campanha num estado A ou B que disputava com o PT. Como existe ainda hoje. Ainda tem candidatos que disputam com o PT, mas são problemas localizados. É com uma minoria da bancada que acontece isso”, disse Temer, para a RedeTV.

“O maior problema é que o PMDB é muito diverso, fragmentado. A maior qualidade ou defeito dele é a capacidade de negociar. Quando você vai controlar um partido como o PMDB tem que ter essa qualidade. Michel tem uma grande habilidade política, é experiente. Ele representa o maior partido do País, embora tenha problemas de controlar o PMDB em seu Estado natal, que é São Paulo. Aquilo fugiu do controle dele. Esse é o problema do PMDB não ser unificado”, analisa o cientista político David Fleischer.

Ao fim da entrevista para RedeTV, a jornalista da emissora elenca quatro personalidades da política e pede para Temer falar sobre elas: Luiz Inácio Lula da Silva, Fernando Henrique Cardoso, Dilma Rousseff e Aécio Neves. As mesmas personalidades foram colocadas para Aloysio Nunes. Temer elogia os quatro políticos.

Para ele, “Lula é uma grande liderança nacional”, assim como FHC. Em relação a Dilma Rousseff a resposta foi sucinta: “a próxima presidente da República”. Mas até mesmo o adversário da petista foi elogiado. “Aécio é uma bela figura. Meu amigo. Está disputando muito adequadamente a campanha, mas sou obrigado a dizer que a Dilma tem trabalhos feitos no Brasil, por isso eu recomendo sua recondução”.

Carreira política

Formado em direito pela Universidade de São Paulo (USP) em 1963 e um dos maiores advogados constitucionalistas do Brasil, Michel Temer foi nomeado procurador-geral de São Paulo em 1983 e, no ano seguinte, assumiu a Secretaria de Segurança Pública paulista. Na pasta, criou a primeira Delegacia da Mulher em 1985, com uma comissão que denunciava o espancamento de mulheres.

<p>Temer foi da base do governo FHC na Câmara, candidato a vice-prefeito com Erundina, em São Paulo, e hoje está ao lado de Dilma </p>
Temer foi da base do governo FHC na Câmara, candidato a vice-prefeito com Erundina, em São Paulo, e hoje está ao lado de Dilma
Foto: EBC/Agência Brasil / Agência Brasil

Sempre no PMDB, partido ao qual se filiou em 1981, Temer declarou ao então governador de São Paulo Franco Montoro a vontade de participar da Assembleia Nacional Constituinte em 1986. Após a Constituinte foi eleito deputado federal e reeleito para outros cinco mandatos.

“A carreira dele foi dentro da máquina do PMDB em São Paulo. Galgou várias posições de liderança até ser presidente da Câmara e se tornou presidente do PMDB em 2001. Desde 1994, o PMDB faz coligação, mas é um partido grande e forte no Brasil, com vereadores, prefeitos etc., e é a segunda maior bancada da Câmara. No Brasil, tem um ditado que diz ‘nenhum presidente governa sem o PMDB’. E as coligações continuam”, afirma Fleischer.

Em 1997, para integrar a base de sustentação do governo do tucano FHC, Temer assumiu pela primeira vez a presidência da Câmara (voltou à presidência outras duas vezes), segundo site do PMDB. Em 2004, quando candidato a vice-prefeito de São Paulo, mas a chapa encabeçada por Luiza foi derrotada já no primeiro turno - vencedor daquele pleito seria o tucano José Serra. Temer voltou ao Congresso e, em 2011, licenciou-se para assumir a vice-presidência da República ao lado de Dilma Rousseff (PT).

"Não somos da briga, mas quando nos desafiam a gente encara", diz Dilma:

“A expectativa é a de um sujeito que vai continuar negociando, buscando espaço para o partido dele e convivendo com as dificuldades que representam esse partido. É um PMDB que é situação, mas que tem discursos fortes de oposição”, aponta Humberto Dantas, sobre um próximo mandato de Temer, caso seja reeleito.

Fonte: Terra
Compartilhar
Publicidade
Publicidade