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MS: Delcídio avalia que é vítima de "campanha mentirosa"

Em entrevista exclusiva ao Terra, candidato fala sobre as denúncias de corrupção na Petrobras envolvendo seu nome, relação com Dilma e Lula, além dos projetos para voltar a liderar as pesquisas de voto e se tornar governador de MS

21 out 2014 - 15h03
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O senador Delcídio do Amaral concorre ao governo de Mato Grosso do Sul pelo PT
O senador Delcídio do Amaral concorre ao governo de Mato Grosso do Sul pelo PT
Foto: Ascom do candidato / Divulgação

Ocupando uma cadeira do Senado desde 2003, Delcídio do Amaral (PT) disputa pela segunda vez as eleições para o governo de Mato Grosso do Sul. O “Filho do Pantanal”, como é chamado em sua biografia no site de campanha, nasceu em Corumbá, fronteira com a Bolívia, no ano de 1955, e formou-se em engenharia elétrica, na capital paulista.

Depois de atuar em grandes empresas do setor energético, Delcídio iniciou a carreira política sendo nomeado ministro de Minas e Energia, em 1994, e em seguida assumiu a diretoria de Gás e Energia da Petrobras. A sua atuação na estatal foi alvo de denúncias na CPI da Petrobras e respingou na campanha ao Governo, tornando-se tema abordado exaustivamente pelos candidatos adversários. Na entrevista a seguir, o senador avalia que foi “vítima de uma campanha mentirosa”, com o objetivo de “tirar proveito eleitoral”.

Líder no primeiro turno (42%), Delcídio luta para voltar a ter a maioria dos votos na reta final das eleições (última pesquisa Ibope, dia 20, aponta que o adversário Reinaldo Azambuja (PSDB) tem 51% e Delcídio 49% dos votos válidos). O candidato fala da estratégia de campanha que contou com a participação intensa do ex-presidente Lula e o apoio apenas à distância da presidenta Dilma Rousseff (PT).

Para a segunda disputa ao governo, depois de perder em 2006 para o atual governador André Puccinelli (PMDB), Delcídio tem como projetos modernizar e ampliar o sistema de saúde, combater o crime na fronteira por meio de parcerias com o Governo Federal e promete a redução de impostos para aliviar o bolso da população. Ele também fala sobre a questão indígena, defendendo a indenização aos fazendeiros das terras demarcadas pela União.

Terra - No começo da campanha, o senhor aparecia como favorito nas pesquisas de intenção de voto e falava em ganhar a eleição já no primeiro turno. No entanto, o senador não conseguiu alcançar a maioria absoluta nas urnas no dia 5 de outubro, e a eleição foi para o segundo turno, com as últimas pesquisas apontando vantagem do adversário, Reinaldo Azambuja. O que o senhor avalia que aconteceu durante a campanha para perder o posto de favorito? Houve falha?

Delcídio - Em primeiro lugar, eu nunca afirmei que seria eleito no primeiro turno. Sempre disse que teríamos uma disputa acirrada, em função do grande número de candidaturas. O segundo turno é ótimo para a democracia. Uma oportunidade excelente para o eleitor avaliar o currículo dos dois candidatos e optar pelo que achar melhor. Fui o primeiro colocado no primeiro turno e estou trabalhando duro para que as urnas confirmem a vitória em 26 de outubro.

Terra - Os escândalos de corrupção envolvendo o seu partido, PT, e até o seu nome, como no caso da Petrobras (foi acusado pela CPI de ser um dos responsáveis pela aquisição da refinaria de Pasadena, que causou prejuízos milionários, na época em que era diretor de Gás e Energia da estatal; e receber dinheiro para campanha de empresas ligadas ao esquema da Petrobras) estão atrapalhando a campanha aqui em Mato Grosso do Sul, senador?

Delcídio - Na realidade, eu fui vítima de uma campanha mentirosa, irresponsável e sórdida por parte dos meus adversários para tentar denegrir a minha imagem. Criaram fatos, plantaram reportagens e inventaram depoimentos que nunca existiram. As próprias declarações dos envolvidos comprovam isso. O meu nome não foi citado em nenhum momento pelos investigados. É só conferir os depoimentos vazados pela imprensa. Quando Pasadena foi comprada eu já não era diretor da Petrobras havia 6 anos. Eu ocupei, com muita honra, a Diretoria de Gás e Energia da Empresa de 2000 a 2001 e tive todas as minhas contas aprovadas pelo Tribunal de Contas da União. Tão logo termine a campanha, vou entrar na Justiça pedindo a punição desses criminosos que me caluniaram visando, pura e simplesmente, tirar proveito eleitoral.

Terra - Senador, a sua campanha perdeu peso pelo fato da presidenta Dilma não ter vindo ao Estado? Ou isso na verdade funcionou como estratégia para não prejudicar a campanha, considerando a minoria da preferência dos eleitores que a presidenta tem em MS?

Delcídio -  Sou o maior cabo eleitoral da presidenta Dilma em Mato Grosso do Sul. Peço voto para ela todo dia, em todos os lugares. Infelizmente ela não pode vir ao nosso estado durante a campanha porque precisa priorizar os maiores colégios eleitorais e a gente entende isso. As pesquisas sérias indicam que ela vai vencer a eleição também aqui. É só esperar para ver.

Terra - Foi uma preferência do partido utilizar mais a imagem do ex-presidente Lula durante a campanha (inclusive com a participação dele no lançamento da candidatura)?

Delcídio - O presidente Lula esteve conosco no primeiro turno duas vezes. O carisma e a força eleitoral dele são incontestáveis. E ele sempre nos traz números extraordinários de quanto o Brasil avançou nos últimos 12 anos. Ele volta agora no segundo turno e por mim viria mais vezes.

Terra - O senhor apresenta uma proposta de mudança para a política do Estado, mas escolheu o deputado estadual Londres Machado, que cumpre o seu 10º mandato na Assembleia Legislativa, para ocupar o cargo de vice. Quais mudanças reais o eleitor pode contar, no caso de ser eleito?

Delcídio - O deputado Londres Machado é um parlamentar experiente, profundo conhecedor dos problemas de Mato Grosso do Sul e vai me ajudar muito no relacionamento com os deputados estaduais. Quero ter uma convivência harmônica com a Assembleia Legislativa para evitar que aconteça no estado o que aconteceu na capital, Campo Grande, onde o prefeito Alcides Bernal teve o mandato cassado em função de divergências com os vereadores. Além disso, ele exerce forte liderança na grande Dourados e pode contribuir na discussão de projetos com as administrações municipais. O eleitor sabe que minhas propostas são modernas, exequíveis e tecnicamente embasadas porque foram elaboradas por gente que entende do assunto. Vamos construir um estado tecnológico, digital, ágil, simples, desburocratizado, onde haja respeito pelo cidadão.

Terra - O candidato vem de Corumbá, que assim como outros municípios do Estado faz fronteira com os países vizinhos e enfrenta graves problemas de segurança, como o tráfico de drogas e roubo, principalmente de camionetes. Qual sua proposta para combater o crime nessa região?

Delcídio - Vamos caminhar de mãos dadas com o governo federal. Fazer com que a Polícia Militar, a Polícia Civil e o nosso Departamento de Operações de Fronteira trabalhem de forma integrada com a Polícia Federal, a Polícia Rodoviária Federal, a Força Nacional e as Forças Armadas, combatendo o narcotráfico, o roubo de veículos e o contrabando, e zelando pela segurança da nossa fronteira. Vamos garantir salários justos, armamento adequado e equipamentos modernos para que as nossas polícias desempenhem bem sua função. Além disso, até o final do ano começa a operar o SISFRON, sistema de monitoramento dotado de aviões não tripulados, satélites, radares fixos e móveis monitorando a fronteira. Mato Grosso do Sul é pioneiro nesse projeto. Somos parceiros dessa empreitada que, sem dúvida alguma, vai melhorar muito a segurança na fronteira.

Terra - O Estado virou notícia nacional por conta das disputas de terras entre indígenas e fazendeiros. Qual a sua posição, senador, sobre a questão? Pretende, se for eleito, criar alguma comissão estadual para ajudar a União na solução do impasse?

Delcídio -  Eu acompanho de perto esse assunto há vários anos. Converso com todas as partes envolvidas – produtores , índios, as ONGs e o poder público. Por isso, não tenho dúvida de que a solução é o estado reconhecer que errou ao titular, no passado, terras comprovadamente de ocupação indígena e, agora, indenizar os produtores que, de boa fé, adquiriram essas terras e criaram ali suas famílias, muitas das quais estão na mesma propriedade há mais de 100 anos. Temos que contemplar os dois lados: os índios que precisam ampliar suas áreas e preservar sua cultura, e os produtores, com o ressarcimento pelas benfeitorias e a terra nua. No caso específico dos conflitos que ocorreram nos municípios de Sidrolândia e Dois Irmãos do Buriti, o acordo está bem próximo. O governo ofereceu R$ 80 milhões pelas fazendas e os produtores pedem R$ 124 milhões. As negociações prosseguem e até o final do ano devemos chegar a um valor intermediário que colocará fim a essa disputa.

Terra - A saúde é um problema para a população que vive tanto na Capital como no Interior.  Se eleito, já no primeiro ano de governo, com base na realidade financeira do Estado, o que será possível fazer para melhorar o atendimento e reduzir as filas de pacientes, que muitas vezes morrem enquanto esperam?

Delcídio - Vamos levar médicos especialistas e exames por imagem para 11 hospitais do estado, interligar todas as unidades de saúde por computador para facilitar o agendamento de consultas e internações, fazer um mutirão de cirurgias nas áreas de ortopedia, oftalmologia e gastrenterologia. Ainda vamos construir os hospitais regionais de Três Lagoas , Corumbá e Dourados, além de terminar o Hospital do Trauma em Campo Grande. Também vamos investir em saúde preventiva com unidades móveis, que percorrerão o interior do estado, fazendo consultas e exames.

Terra -  O senhor fala em redução de impostos, como o ICMS de cinco produtos da cesta básica e da conta de luz para quem consome até 200 kwh, o que segundo seu programa corresponde a 60% das famílias. No entanto, o ICMS corresponde a uma das principais fontes de receita para o caixa estadual. Na prática, como reduzir o imposto e ainda assim garantir a implantação das propostas de investimentos na saúde e educação, por exemplo, caso seja eleito?

Delcídio -  Minha equipe econômica estudou isso a fundo e verificou que é perfeitamente possível reduzir a carga tributária sem causar danos às finanças do estado. Os valores que deixaremos de receber com a isenção ou a redução das alíquotas sobre o diesel e a energia serão compensados com o aumento do consumo desses produtos e de outros para os quais a população destinará o dinheiro economizado. Além disso, vai entrar a arrecadação dos impostos sobre o comércio eletrônico e o estado terá uma folga maior com a renegociação da dívida - vamos reduzir o percentual de comprometimento da receita de 15 % para 9 %. 

Terra - Caso seja eleito, quais serão as áreas de atuação prioritárias durante o primeiro ano de governo?

Delcídio - Minhas prioridades são saúde, educação, segurança, geração de emprego e renda e os programas sociais. Vou trabalhar duro no sentido de construir um Mato Grosso do Sul socialmente justo, com economia diversificada, moderno e com oportunidades para todos.  

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Fonte: Especial para Terra
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