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“A mídia bate mais na Dilma”, diz criador do Manchetômetro

Site que compara os espaços destinados aos candidatos na imprensa mostra, segundo o coordenador das pesquisas, que a presidente está sendo prejudicada na cobertura das eleições de 2014

6 ago 2014 - 13h53
(atualizado às 14h52)
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Anos atrás, um grupo de estudantes e profissionais da UERJ (Universidade Estadual do Rio de Janeiro) resolveu criar um projeto de pesquisa voltado ao acompanhamento da cobertura das eleições de 2014. A ideia era simples: analisar alguns dos principais veículos de imprensa do País e verificar se os espaços destinados aos candidatos estavam ou não equiparados. Daí nasceu o Manchetômetro, site que, segundo o coordenador João Feres Jr (PhD em Ciência Política), mostra que Dilma Rousseff (PT) é a presidenciável que mais “apanha” da mídia brasileira.

“Se você olhar nossos dados, vai ver que a mídia tende a privilegiar as manchetes negativas. Existe essa preponderância para todos os candidatos. A proporção é que é diferente. A Dilma tem muito mais notícias negativas em relação às positivas que os outros. Eles são beneficiados, traduzindo em termos mais chulos, por que a mídia bate muito mais na Dilma””, disse ele ao Terra.

<p>Gráfico geral do 'Manchetômetro' atualizado até 05/08/2014</p>
Gráfico geral do 'Manchetômetro' atualizado até 05/08/2014
Foto: Manchetômetro / Reprodução

O pesquisador reconhece, no entanto, que isso não é suficiente para afirmar que a presidente tem sido injustiçada na cobertura da grande mídia. Por ocupar o cargo mais alto do Poder Executivo, é natural que ela esteja mais presente na imprensa que seus concorrentes.

“O que vamos fazer em breve para tentar resolver essa questão é analisar a eleição de 1998, em que Fernando Henrique Cardoso concorreu à reeleição. As situações são parecidas e invertidas: antes era o PSDB concorrendo à reeleição, agora é o PT. Aí poderemos comparar melhor. Se descobrirmos que há uma diferença, vai ficar mais do que provado que é, sim, um viés da mídia. Já existem outros trabalhos que mostram que a imprensa se calou naquelas eleições, que ela publicou pouco sobre política. O que queremos é testar isso com nosso trabalho”, disse.

A análise do Manchetômetro é feita basicamente em três etapas. O primeiro passo da equipe é contabilizar diariamente quantas menções os três candidatos líderes das pesquisas – Dilma, Aécio Neves (PSDB) e Eduardo Campos (PSB) – têm nas chamadas de primeira página de Folha de S. Paulo, Estado de S. Paulo e O Globo. O segundo, contar em quantas notícias eles são citados durante uma edição do Jornal Nacional, na TV Globo. Por fim, deve analisar se aquelas menções foram favoráveis ou contrárias às suas respectivas campanhas. Os resultados, então, são colocados em gráficos e publicados no site. 

“Vou te dar um exemplo. A manchete ‘Governo de Minas Gerais constrói aeroporto em terras do tio de Aécio Neves’ obviamente é negativa para campanha dele. É isso que o integrante do grupo que a analisar vai levar em conta. Somos em 13 pessoas, sendo que 3 são responsáveis apenas por esse trabalho. Esse é um caso simples, eventualmente aparecem outros mais complicados. Nessas situações, o segundo membro faz uma análise, e os resultados são comparados. Se a dúvida persistir, eles submetem a questão ao supervisor para que seja feita a desambiguação. Vale lembrar que temos não só as categorias ‘negativa’ e ‘positiva’, mas também ‘neutra’ e ‘ambivalente’”, explicou João.  

O gráfico geral do site mostra que, do primeiro dia do ano até esta terça-feira (5), Dilma foi mencionada em 195 manchetes negativas e apenas 15 positivas. Aécio, o mais equiparado, esteve em 19 negativas e 19 positivas. Eduardo, por sua vez, ficou com 16 negativas contra 11 positivas. Neutras e ambivalentes não foram disponibilizadas.

Além dessa análise dos candidatos, o grupo realiza diversas outras pesquisas relacionadas à mídia e esfera pública, incluindo uma chamada de “enquadramento da economia” e outra semelhante intitulada “enquadramento da política”.

“Elas vêm de um estudo que elaboramos sobre as manifestações de 2013. Com ele, descobrimos que, desde aquele ano, a mídia tende a produzir um noticiário econômico e político extremamente negativo. Vimos que existe uma tendência de comportamento que enquadra os dois em situação de crise. É como se o Brasil estivesse em crise na economia e em crise com as instituições políticas. Isso se aproxima de uma mentira. Não estava em 2013, nem está agora. É isso que pode ser notado de novo nessas eleições. Pelo menos é isso que o Manchetômetro mostra”, finalizou.

Fonte: Terra
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