A cidade de São Paulo possui hoje uma rede de Saúde estruturada em níveis de complexidade: 441 Unidades Básicas de Saúde (UBS) e 1.271 equipes de Saúde da Família oferecem consultas gerais, visitas domiciliares e monitoramento; nas 120 Assistências Médicas Ambulatoriais (AMAs) e 19 AMAs Especialidades atende-se casos de baixa e média complexidade; e casos graves ou urgentes são levados para hospitais (19 municipais), 12 Prontos-Socorros e quatro unidades de pronto-atendimento.
Apesar da infraestrutura, problemas como a demora no atendimento, na marcação de exames e tratamentos são patentes na reclamação dos eleitores paulistanos: segundo pesquisa Datafolha de junho deste ano, 26% consideram a Saúde o pior problema da capital. Os outros dois temas apontados pela pesquisa como críticos são segurança e transporte.
"A população ainda desconfia muito das AMAs e UBSs, então vai para um Pronto-Socorro, onde sabe que vai ficar o dia inteiro, mas vai sair com um exame", analisa Mário Scheffer, professor de Política, Planejamento e Gestão em Saúde da Faculdade de Medicina da USP. Segundo ele, esse movimento sobrecarrega os atendimentos de emergência, e casos realmente urgentes têm de dividir a atenção com males como febres altas e disenterias.
Na opinião de Scheffer, o próximo prefeito deve priorizar a atenção básica e as equipes de Saúde da Família. "Se funcionarem adequadamente, resolvem 80% dos problemas de saúde", afirma ele. "O problema é que a rede não funciona e as pessoas levam problemas de atenção básica para PS e hospitais. Tem que organizar o sistema, reordenando esses fluxos entre as diferentes portas de entrada e manter a população informada."
A causa desse problema não pode ser imputada ao usuário, defende Marcos Bosi Ferraz, professor do Departamento de Medicina da Escola Paulista de Medicina e diretor do Grupo Interdepartamental da Economia da Saúde da Unifesp (Grides). "A questão não são os níveis (de atendimento), são políticas que estimulem a integração. Preciso dar incentivo para as pessoas não irem ao PS quando têm uma gripe. A pessoa vai no lugar onde ela acha que vai ter o retorno mais rápido, então tenho que abrir a porta da Saúde da Família para que a pessoa se trate", analisa.
Prioridades
Segundo Ferraz, o prefeito deve assumir que não tem recursos suficientes para "dar tudo a todos" e escolher uma prioridade. "Falar que tudo é prioridade não dá, e simplemente dizer que vai aumentar hospital ou estender programa da saúde da família é muito simples, é iludir, mais do que acrescentar valor ao sistema."
Uma análise demográfica, por exemplo, mostra que a cidade está ficando mais idosa. Tomar mais medidas de saúde voltadas ao idoso é uma decisão que caberá ao prefeito. "Em cada leito de hospital, eu posso ou não colocar uma TV de plasma de 42 polegadas. Cada vez mais questões de conforto têm impacto, mas precisa ter limite, porque com isso talvez falte recursos para ter uma maca para outro paciente", exemplifica Ferraz.
A maneira mais democrática de fazer essas escolhas é em diálogo com a comunidade, diz o especialista, o que aumenta a importância dos Conselhos Municipais de Saúde. Segundo Ferraz, essas entidades, que têm papel essencial também na fiscalização de serviços, foram "travadas ou utilizadas com viés seja ideológico, seja político".
Gestão e OSS
Grande parte da Saúde municipal é gerida por Organizações Sociais de Saúde (OSS), entidades sem fins lucrativos com experiência em administração de hospitais e equipamentos de saúde. O modelo surgiu, segundo Ferraz, por causa "da incapacidade do Estado de fazer a gestão eficiente" e também como uma forma de criar mecanismos de incentivos melhor do que na rede pública. "Posso definir metas, níveis salariais baseado em critérios de desempenho e até dar um prêmio para o médico no final do ano", explica.
A parceria tem pontos positivos, mas também traz problemas, como a competição por profissionais com o município e também entre si. "Não é questão de ser contra ou a favor de OSS - a cidade depende desse modelo, não tem como retroceder. Mas precisa retomar o comando único da Saúde. Digo isso porque elas estão à frente de cinco hospitais, de mais de 300 serviços, só que são muito heterogêneas, e elas competem entre si, têm políticas diferentes entre si", alerta Mário Scheffer.
"Não quero entrar no debate ideológico, mas o prefeito que chegar vai precisar fazer uma reavaliação. Tem muitos contratos irregulares. O modelo cresceu rápido demais e sem planejamento. Tem uma diversidade de perfil, capacidade e competência nas OSS. Acho que esse vai ser um grande nó, um grande desafio para o próximo prefeito", analisa.
Francinalda Maria da Silva, 40 anos, Guaianases: "O prefeito deve priorizar o ensino. Ele pode investir na qualidade e melhorar os salários dos professores. Seria uma forma de fazê-los trabalhar mais satisfeitos"
Foto: Adriano Lima / Terra
Santa da Silva Gomes, 67, Santo Amaro: "Caso pudesse ser a nova prefeita da cidade, começaria, sem dúvidas, pela saúde. Acelerar o atendimento, contratando mais profissionais, seria minha primeira ação"
Foto: Bruno Santos / Terra
Ronaldo Ribeiro Pereira, 26 anos, e Fernanda Leite Rodrigues, 32 anos, Cidade Tiradentes: "Tanto trem, metrô ou ônibus se tornaram um caos. O futuro prefeito poderia pôr mais corredores de ônibus para tentar deixar as linhas mais rápidas. Tem gente que demora três horas apenas para chegar ao trabalho"
Foto: Adriano Lima / Terra
Wellington de Barros da Silva, 24 anos, trabalha na zona leste: "Caso eu pudesse ser prefeito, investiria o dinheiro da construção e reforma de estádios para a Copa do Mundo todo na saúde. Num hospital que tem na Cidade Tiradentes, por exemplo, você chega para ser atendido as 13h e só consegue sair de lá as 3h da madrugada. Além disso, o médico não examina o paciente direito"
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Osvaldo Morgonari, 86 anos, Mooca: "O futuro prefeito precisa colocar mais funcionários para atender a população. Precisa de um sistema de organização nos hospitais, com pessoas que saibam o que estão fazendo. Ele deve qualificar o atendimento na saúde pública"
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João Paulo dos Santos, 21 anos, Itaim Paulista: "Acho que precisamos de mais transporte público nas ruas e com menos tempo de intervalo. Atualmente, os ônibus atrasam muito e isso prejudica o horário de trabalho das pessoas"
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Hamilton Vieira, 43 anos, Cangaíba: "A minha sugestão é melhorar a situação dos hospitais que atendem aos finais de semana. Eles estão superlotados, com crianças e idosos pelos corredores. Eu contrataria mais médicos para poder atender melhor, principalmente, a área de pediatria. Já levei meu filho de dois anos de idade para dois hospitais em um mesmo dia e em nenhum tinha especialista"
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Jeferson Tang de Carvalho, 25 anos, Guaianases: "Daria mais oportunidade de estudo para as pessoas carentes, da periferia, que são as mais necessitadas. Onde eu moro o ensino é péssimo se comparado ao do centro da cidade. Na saúde, os postos de atendimento não têm manutenção. Eu aumentaria os salários dos funcionários dessa área para motivá-los"
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Tamires Helena Barreto, 24 anos, Guaianases: "O fluxo de pessoas tem aumentado e a quantidade de transporte continua igual. O futuro prefeito precisa colocar mais veículos nas ruas. Também precisa de mais urbanização e lazer, como parques. Em Guaianases, por exemplo, não tem lugares para as crianças se divertirem"
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José Eugênio Oliveira, 38 anos, Centro: "Construir mais creches e aumentar o número de vagas. Hoje, não podemos depender da Prefeitura, muitos pais pagam creche particular para seus filhos"
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José Aparecido Ribeiro, 52 anos, Casa Verde: "Caso eu fosse prefeito, liberaria o trabalho de mais camelôs. Hoje em dia, os policiais costumam abordar os ambulantes e apreender suas mercadorias sem ao menos consultar se existe nota fiscal"
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Ademilton Bruno de Almeida, 45 anos, Bom Retiro: "A primeira providência que um prefeito precisa tomar será acabar com a Operação Delegada, que foi criada para prejudicar trabalhadores. Os camelôs são pais de família, trabalhadores. Sem oportunidade, onde vamos parar?"
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Fernanda Vazquez, 27 anos, Tatuapé: "O prefeito deve mudar o transporte público, principalmente quando se trata do percurso da zona leste ao centro. As linhas do metrô resolvem boa parte do problema, mas para quem precisa passar entre Guaianases e Itaquera nos horários de pico a situação é bem complicada"
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Esmeralda Novaes Cavalcante, 38 anos, Guaianases: "A prioridade deve ser melhorar a saúde, porque se não temos saúde, não temos nada. Onde eu moro, por exemplo, não tem médico especialista. No transporte, deveria ter um intervalo mais curto entre os ônibus da cidade"
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Alex Fernando Rafael, trabalha na Barra Funda: "Apesar de ninguém gostar de ter que deixar o carro em casa, essa seria uma alternativa para a área do transporte. Ampliar os dias e horários do rodízio de veículos ou colocar pedágios na região central de São Paulo também ajudaria"
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Greyciane Barbosa Borgo, 22, trabalha no Bom Retiro: "Colocaria mais policiais nas ruas"
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Fernando Henrique Medeiros, 28 anos, trabalha no Bom Retiro: "Caso eu pudesse ser o prefeito de São Paulo, faria mais parcerias para aumentar a quilometragem de linhas do metrô e do trem. Na saúde, melhoraria toda a infraestrutura. E na segurança, iria evitar a corrupção entre os policiais"
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Anita Rapport, 72 anos, Moema: "Caso pudesse ser prefeita, assim que sentasse na cadeira cuidaria da educação e da saúde da população. É preciso atender o ser humano como ele merece, e não deixá-lo jogado pelos corredores de um posto de saúde ou hospital. Todos nós pagamos impostos e ninguém recebe retorno disso, principalmente na saúde. Na educação eu exploraria mais a inteligência das crianças"
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José Lira, Itaim Paulista: "Terminar com a corrupção e trabalhar para o benefício de todos. O prefeito deve ter honestidade em primeiro lugar, para depois agir na educação, saúde, segurança ou em qualquer outra área"
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Angelina Filomena Lucci, 60 anos, Lauzane Paulista: "Os hospitais públicos não têm médicos, a pessoa precisa ser atendida, mas é mandada de volta para casa. Nas clínicas especializadas para atender aos idosos, a espera para fazer exames chega a quase um ano. A mesma coisa acontece nos postos de saúde. Caso fosse prefeita, resolveria contratando mais médicos e fazendo mais postos de saúde"
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Natalia Gonzalez, 35 anos, Casa Verde: "Caso fosse prefeita, distribuiria mais verbas para as áreas da saúde e educação, que são a base para o crescimento de uma cidade. Mas, antes, tiraria a corrupção do meio político e diminuiria os impostos, o que já iria render muito dinheiro sobrando para investir em coisas do bem. Também iria lutar para diminuir meu salário e dos vereadores. Tem muita gente ganhando muito e não fazendo nada"
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André Kowaleki, 25 anos, trabalha em Santana: "O que mais desgasta a população é o trânsito, e criar parcerias para ajudar a ampliar a as linhas de trem e metrô resolveria grande parte desse problema"
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Alequissandra Silva, 36 anos, trabalha em Santana: "Caso eu pudesse ser prefeita, tiraria as pessoas que vivem na rua, daria um lar para todos eles e também criaria mais projetos de moradia para as pessoas carentes"
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Thatiana Moreira, 19 anos, vai votar pela primeira vez: "Como prefeita, me preocuparia mais com os jovens, principalmente com o ensino deles. Não deixaria mais as salas de aula lotadas e faria uma reforma nas unidades de ensino. Um lugar limpo, com visual bacana já motiva os adolescentes a estudarem"
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Ivonete de Oliveira, 34 anos, Santana: "Caso eu fosse prefeitura, daria mais atenção às pessoas portadoras de necessidades especiais, principalmente porque tenho uma filha assim e sinto na pele o quanto é difícil. Falta acessibilidade no transporte coletivo e uma porção de outras coisas"
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Epitáfio da Silva, 88 anos, Tucuruvi: "A primeira coisa que um prefeito tem que fazer é se aproximar mais da população; ir aos bairros, saber do que as pessoas mais precisam"
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Daniela de Morais, 19 anos, Limão: "Essa vai ser a primeira vez que vou votar; e como eleitora, eu gostaria que um prefeito priorizasse a segurança e começasse aumentando o policiamento nas ruas"
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Maurício Marques, 36 anos, trabalha em Santo Amaro: "Vou trabalhar todos os dias de carro e sofro muito com o trânsito. Caso o transporte coletivo fosse mais digno, com certeza eu deixaria meu carro em casa"
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Felinda Pires, 56 anos, Santana: "Falta um atendimento melhor nos hospitais públicos. Quando vamos a uma consulta, não somos bem tratados, os funcionários parecem que atendem a gente conforme a roupa que vestimos. Tem que empregar quem realmente está disposto a trabalhar"
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Cid Leite, 32 anos, trabalha em Santo Amaro: "Hoje tem trânsito até para quem anda de moto, mas não consigo pensar numa solução para o problema dos congestionamentos na cidade. As medidas que os políticos prometem são todas de longo prazo e nunca resolvem, de fato"
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Thiago Tavarez, 20 anos , Santo Amaro: "Minha prioridade, se pudesse ser prefeito, seria a saúde, que está um caos. Faltam leitos públicos, médicos e capacitação profissional na área. Começaria por um investimento pesado em tudo isso"
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João Vitor, 31 anos, trabalha em Santo Amaro: "A educação é o que mais precisa de atenção na cidade. Começar cuidando das crianças, com projetos de incentivo ao estudo e critérios mais rígidos de avaliação deveriam ser prioridade"
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Valdirene Oliveira Santos, 40 anos, Santo Amaro: "Necessitamos de cuidados na área da saúde, e o principal seria contratar mais médicos especialistas, porque de nada adianta construir novos postos de saúde e hospitais se não há médicos para atender o povo"
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Maria Aparecida de Sousa, 30 anos, Ibirapuera: "Minha prioridade seria a saúde: diminuiria as filas de espera para as consultas, colocaria mais gente para trabalhar e criaria mais hospitais na periferia"
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Luiz Alves Gomes, 60 anos, Capão Redondo: "Falta muita coisa para a saúde melhorar, mas como prefeito eu construiria mais postos de atendimento à população e contrataria mais médicos"
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Mecias Fernando Tales, 84 anos, Santo Amaro: "Segurança é sempre o principal numa cidade. Como prefeito, antes de tudo, eu criaria programas de incentivo para as pessoas cooperarem com o trabalho dos policiais. De nada adianta ampliar o policiamento se as pessoas não colaborarem para manter uma ordem na cidade"
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Maria Jucélia Gomes, 26 anos, Santo Amaro: "Falta tudo na área da saúde, mas antes de contratar mais profissionais ou qualquer outra ação é preciso capacitar os que já existem"
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Pedro Biapina, 63 anos, Capão Redondo: "A vida de quem usa o transporte coletivo em São Paulo não está fácil. Penso que, caso fosse prefeito, começaria com uma bela reforma nos ônibus"
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Genicio de Souza, 52 anos, Cidade Tiradentes: "Acho que a prioridade deve ser segurança e educação. Na segurança, o futuro prefeito deve mudar as leis, aumentar salários, armamentos e inteligência. Na educação, é preciso investir na qualidade dos professores, porque você entra hoje em uma sala de aula e não encontra nenhum programa de formação, por exemplo"