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Robaina critica Manuela: "não tem moral para falar sobre saúde"

8 ago 2012 - 09h00
(atualizado às 11h13)
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Gonçalo Valduga
Luiz Roese
Direto de Porto Alegre

Um dos principais fundadores do Psol no País, o candidato da legenda à Prefeitura de Porto Alegre, Roberto Robaina, se coloca como uma alternativa diferente dos principais adversários, classificados por ele como idênticos. Com a proposta de privilegiar a população - e não as grandes empresas - o candidato critica a deputada federal Manuela D'ávila por integrar um partido de esquerda e não seguir, na prática, as ideias do PCdoB. "A Manuela é muito parecida com o governo atual, ela só quer a cadeira do José Fortunati (PDT)".

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Crítico ferrenho à forma de o PT fazer política - seu partido entre os anos de 1983 a 2003 - Robaina afirma que a ala do ex-ministro da Casa Civil José Dirceu - um dos réus do julgamento do mensalão no Supremo Tribunal Federal (STF) - garantiu a candidatura de Adão Villaverde na disputa pelo Paço Municipal da capital. Mesmo tendo abandonado a legenda após a expulsão de Luciana Genro e Heloísa Helena, o socialista admitiu que teria prosseguido caso a "ala de José Dirceu e Villaverde não tivesse triunfado".

Apesar de ter 2% na pesquisa de intenção de voto do Datafolha, divulgada em 21 de julho, ele acredita que o pouco tempo de propaganda eleitoral na TV (pouco mais de 1 minuto) será suficiente para conscientizar as pessoas sobre a importância da política. Além disso, Robaina critica os gastos da prefeitura com a Copa do Mundo de 2014, propõe reduzir o Imposto sobre a Propriedade Predial e Territorial Urbana (IPTU) - atualmente de 7% - e garante que, se eleito, promoverá um Fórum Social Mundial Anticapitalista na cidade.

O Terra iniciou na segunda-feira a série de entrevistas com os candidatos a prefeito em Porto Alegre. Foram convidados os pretendentes ao cargo que obtiveram pelo menos 1% na pesquisa Methodus/Correio do Povo, divulgada no dia 17 de julho. Confira os principais trechos da entrevista com o candidato do Psol:

Terra - O senhor ainda é um candidato desconhecido para a maioria das pessoas. Quem é o candidato Roberto Robaina?

Roberto Robaina -

Eu disputei a última

eleição

para deputado estadual e fui o quinto mais votado de Porto Alegre. Foi a mesma votação que o candidato do PT em Porto Alegre (Villaverde). Nós estamos de igual para igual, assim como nas pesquisas. Mas eu não sou muito de pesquisa. Acredito que a política pode fazer com que a situação se movimente e as coisas mudem. Estou muito otimista de que a nossa campanha se desenvolverá. Sou historiador e professor, mas a minha atividade mais importante é a de militante social e político. Fui do PT durante 20 anos, de 1983 a 2003. Saí de lá junto com a Luciana Genro, a Heloísa Helena e o Babá, quando o partido demonstrou que estava traindo o seu projeto original de esquerda. Logo depois, começamos a construção do Psol, do qual sou um dos fundadores. Esta legenda é a obra política que tenho mais orgulho, porque ele representa o esforço de construir um projeto de esquerda, coerente e que não repita a trágica experiência do PT, terminando como um partido igual aos outros.

Terra - O senhor foi candidato a deputado estadual pelo Psol em 2010. Quais outras eleições o senhor já disputou?

Robaina -

Eu disputei a primeira eleição do Psol para o governo do Estado do Rio Grande do Sul (em 2006), quando a Heloísa Helena se candidatou à presidência, obtendo 7% dos votos no País. Foi importante por ser a primeira participação do partido em pleitos. Nós não tínhamos recursos, disputamos contra grandes máquinas, mas recebemos o apoio popular. Nunca fui político de carreira. Para os militantes do Psol, a política não é uma carreira. Não fazemos dela uma atividade para que o indívíduo tenha prestígio, dinheiro e poder. Por isso, o fundamental é que as pessoas participem, o esforço que fazemos na eleição é despertar a consciência das pessoas de que a única forma de resolver os problemas é o povo participando. Política não se resume apenas a ser candidato, é uma atividade para transformar a realidade e superar a democracia falsa que nós temos.

Terra - Por ser uma primeira eleição, o Psol teve dificuldades financeiras?

Robaina -

Infelizmente, no Brasil, os bancos, as empreiteiras e outras grandes empresas financiam as campanhas de modo milionário. Em contraponto, as campanhas dos

partidos

de esquerda têm mais dificuldade. A desigualdade de material é brutal. Mas tudo bem, faz parte do jogo, nós não vamos ficar chorando. Seguiremos disputando porque temos muita esperança de que as pessoas se conscientizem da necessidade de participar da política. Na minha candidatura a governador, fiquei satisfeito porque ganhar do Beto Grill (PSB), hoje vice-governador do Estado. O Psol cresceu mesmo sem recursos e com a falta de espaço na mídia.

Terra - O senhor aponta a responsabilidade social como essência do seu programa de governo, aplicando um modelo que privilegie a população e não as grandes empresas. Como o senhor pretende colocar isso em prática?

Robaina -

Tem coisas gritantes como, por exemplo, o transporte público. Em Porto Alegre, faz quase 25 anos que não existe licitação na área. As mesmas empresas privadas controlam o transporte de ônibus, os preços são altos, não existe controle de tarifa e muito menos de qualidade. Existem leis que preveem multas pelos atrasos, mas isso não é fiscalizado. As empresas privadas lucram com a concessão pública sem que haja controle público. Isso é uma situação que, em um futuro governo, pode ser mudada. As empresas privadas estão operando fora da lei e todos que governaram a capital nos últimos 25 anos foram coniventes em relação a este tema. Na capital, ainda não existe transporte hidroviário. O governo atual prometeu que fará em setembro.

Em função do peso político que tem as empresas de ônibus, nós não temos transporte hidroviário. Essas empresas não têm interesse que a zona sul da cidade seja ligada ao centro pelo rio Guaíba. Falam tanto da necessidade de ligar a população ao rio, mas não se aproveita esse serviço. Ajudaria muito no trânsito caótico que está crescendo na capital. Hoje, as opções do governo são sempre voltadas às empresas privadas. Além disso, há o problema de parasitismo da máquina pública devido aos cargos de confiança (CCs). São cerca de R$ 100 milhões que se gasta com CCs. Parece mentira, mas essa quantia equivale a um valor superior ao que se investe em habitação e assistência social somados. São escândalos.

Terra - A candidata do PCdoB à Prefeitura Manuela D'ávila criticou a gestão da saúde no governo atual, afirmando que o dinheiro é mal utilizado na área. Em seu plano da campanha, ela prevê aumentar o número de equipes de Estratégia de Saúde da Família, dobrar o número de unidades de pronto atendimento e ampliar o horário de atendimento nas unidades básicas de saúde. O que o senhor pensa disso e como a saúde seria bem administrada em sua gestão?

Robaina -

O papel aceita tudo. É evidente que tem que aumentar as equipes de Saúde da Família, assim como está claro que há uma gestão ruim na capital. No atual governo, houve uma fraude de R$ 10 milhões na saúde. A Polícia Federal (PF) e o Ministério Público estão investigando, mas que houve o desvio já é um fato. Não é o Psol que está dizendo, é a PF. Também há a fraude do Instituto Sollus no Programa Saúde da Família e uma terceira, envolvendo uma empresa de vigilância dos postos de saúde, que se estima em R$ 5 milhões. Trata-se de R$ 15 milhões desviados dos cofres públicos que deveriam ser investidos na saúde. Portanto, melhorar a gestão é fundamental. Não é possível que exista uma gestão com esse nível de fraudes. Nesse caso, a Manuela D'ávila não tem nenhuma moral para falar em gestão.

O vice dela, o vereador Nelcir Tessaro (PSD), foi quem impediu na Justiça que a Câmara Municipal investigasse a fraude da Sollus. A Manuela é muito parecida com o governo atual, ela só quer a cadeira do José Fortunati. Caso contrário, não escolheria o Tessaro para vice, já que ela aposta tanto em saúde no seu plano de governo. Combater a corrupção e combater os privilégios significa diminuir as despesas. Hoje em dia, corrupção e privilégios fazem parte das despesas do município. Nós temos uma ideia relacionada com o aumento da receita, que não é uma ideia simples, mas é viável. A progressividade do IPTU. Ele está congelado em 7% há muito tempo. Acho possível reduzir o IPTU das pessoas com baixa renda e aumentar o das grandes propriedades.

Terra - A realização do Fórum Social Mundial está no seu plano de governo, assim como no do candidato do PT, Adão Villaverde. Esse é o único ponto em comum com o PT ou há outras semelhanças?

Robaina -

Nem isso é semelhante. O Villaverde votou pelo aumento dos cargos de confiança e contra o piso do magistério. Ele é da ala que triunfou no PT. Como essa ala venceu, eu saí do PT. Se o grupo do Villaverde não tivesse triunfado, eu estaria lá até hoje. O José Dirceu (ex-ministro da Casa Civil e um dos réus no julgamento do Mensalão) é o grande comandante dessa ala. Isso é um fato e não é de agora, são 20 anos. O Villaverde é íntimo da ala do Zé Dirceu. Depois do mensalão, o pior de tudo é que o PT mostrou que vai seguir a mesma linha, tanto que o Villaverde é o candidato na capital. Quando poderia ter sido o Raul Pont (deputado estadual e ex-prefeito de Porto Alegre), que é muito mais conhecido.

Terra - E o fórum, candidato?

Robaina -

O Villaverde não quer saber de fórum ou discutir uma alternativa ao capitalismo. É a mesma coisa quando ele diz que administrará da mesma forma que o Olívio Dutra em sua primeira gestão como prefeito, em 1988. O Olívio fez um enfrentamento contra as grandes empresas. O PT enfrentou aqui, o Villa não tem mais nada que ver com isso. A experiência do Olívio é uma sombra do passado. O Fórum Social Mundial também já é sombra, o PT não quer fazer evento nenhum. Nós sim queremos. Faremos um Fórum Social Mundial Anticapitalista. Se o Psol ganhar aqui, tenham certeza que a efervescência será muito maior quando o PT ganhou a prefeitura pela primeira vez em 1988.

Terra - O que o senhor pensa dos investimentos para a Copa do Mundo de 2014 na capital?

Robaina -

Se nos derem R$ 800 milhões para gastar, pelo amor de Deus (suspiro). A Copa é boa, eu gosto de futebol, mas não gastaria esse valor. É muito dinheiro. Quase o que a saúde recebe o ano inteiro. Não pode se endividar com essa quantia, ainda mais quando as previsões iniciais eram de R$ 300 milhões. Depois das eleições, é possível que surja um aditivo de gastos. A Manuela, por exemplo, na campanha de 2010 a deputado federal, dizia que a Copa ia trazer empregos e que ela tinha ajudado a trazer o evento para a capital. Agora ela não fala mais nisso, o discurso mudou. Acho ótima a Copa, só não metam a mão no meu bolso para fazê-la. Não é possível que tenham que assaltar os cofres públicos.

Terra - Quanto o senhor pretende gastar durante a campanha?

Robaina -

Eu pretendia gastar muito, só não vou ter dinheiro para isso. Queria gastar 5% do que a Manuela gastará (R$ 6 milhões). Infelizmente, os nossos recursos são pequenos. É uma fraqueza nossa, eu não fico contente com isso. Nós somos otimistas com o nosso crescimento, mas sabemos que a falta de recursos é um limite real. As grandes empresas não querem dar dinheiro ao Psol. Nós não temos a proibição de receber dinheiro de empresários, mas temos dificuldade em fechar parceria porque não fazemos acordo de moeda de troca. Por isso, os empresários não se interessam em nos ajudar. O Fortunati divulgou em seu registro no

Tribunal Regional Eleitoral

(TRE-RS) a quantia de R$ 10 milhões, enquanto a nossa previsão é de R$ 300 mil. A população ajuda a financiar a nossa campanha, gente que colabora de forma muito valiosa.

Terra - O seu tempo de propaganda eleitoral na TV e no rádio é um dos menores entre os candidatos a prefeito. Como fazer para reverter esse quadro? E o senhor acha justo o critério de distribuição do tempo?

Robaina -

Óbvio que é desigual, mas estou muito contente com o que temos hoje. Nós temos muito o que dizer com esse valioso tempo. Poderia ser pior e o Psol não ter nada. O problema mais grave de campanhas eleitorais não é a televisão, e sim, a aceitação pelo financiamento privado. É isso que provoca a desigualdade. Mas nós atuamos nas condições de disputa que temos. Mesmo com 1 minuto e 32 segundos, temos condições de chegar na população. Somos otimistas, confiamos que a população saberá valorizar as pessoas que tem pouco tempo, mas que apresentam posições significativas.

Terra - Qual é o número de municípios que o Psol tem candidatura a prefeito e em quantos o partido tem chance de eleger candidatos?

Robaina -

Devemos ter uns 15 candidatos a prefeito no Estado. Temos chances em todos. Quem disputa sempre tem chances.

Terra - A política de alianças do Psol é bem restrita. Caso o senhor não consiga chegar ao segundo turno, há algum concorrente que poderia ganhar seu apoio?

Robaina -

Se não for, não apoiarei ninguém. Se for o Érico Corrêa (candidato do PSTU), até podemos discutir. Mas Fortunati, Manuela e Villaverde têm o mesmo projeto, exatamente o mesmo. Apoiam a Dilma, apoiam o Tarso. E apoiam o que eles fazem de pior. Todos estão juntos pelo aumento de salário de deputado, de vereador. Assim não dá.

Terra - O senhor acredita que o Psol, como um partido de esquerda, ainda provoque temor na população sobre um modelo de gestão semelhante ao de Cuba, por exemplo?

Robaina -

Isso não existe. O que a população tem é a ideia de que chegando no poder todo mundo se corrompe. Esse é o sentido comum. Os dirigentes do Psol têm uma biografia demonstrando que não é assim, porque temos dirigentes que já chegaram ao poder. O Psol é um partido que defende posições de esquerda, mas antes de tudo a liberdade. Esse temor sobre a esquerda existia antes por culpa de setor da sociedade, composto por banqueiros, latifundiários e grandes empresários, que identificava socialismo como ditadura. Por isso, o nome é Partido do Socialismo e Liberdade. Essa pergunta seria mais procedente à Manuela, perguntem para o PCdoB a razão para eles apoiarem o governo da Coreia do Norte. É que eles escondem, mas se a população fica sabendo disso, reprovará.

Terra - Um grupo de 30 advogados ligados ao PT está tentando impedir que os veículos de mídia usem a palavra 'mensalão' na cobertura do julgamento sobre o caso no Supremo Tribunal Federal (STF). Qual a sua opinião sobre o tema?

Robaina -

Acho um absurdo. Eles têm alguma sugestão de nome? Eu não sei nem o que dizer, o mensalão é um acontecimento enorme. É evidente que existiu. O que posso te dizer é que acho um absurdo.

Terra - A indefinição acerca da candidatura de Luciana Genro (Psol) a vereadora, que pode ser barrada pela Justiça, é algo que atrapalha os planos do partido? Como o senhor vê essa situação?

Robaina -

Atrapalha muitíssimo, nos tira o sono. É um absurdo o que está acontecendo. Um setor reacionário da Justiça contesta a candidatura por ela ser filha do Tarso Genro (governador do RS). A Luciana foi deputada estadual por dois mandatos, depois foi deputada federal e terminou expulsa do PT quando o Tarso era ministro. Portanto, não tem nada a ver com a carreira do pai. É uma situação muito ruim, ela chegou a ser impedida de fazer campanha. A decisão da juíza nos revolta e nos indigna.

Terra - Na última pesquisa do Datafolha, os temas saúde, segurança, trânsito e educação foram escolhidos pelos eleitores como principais problemas ou maiores preocupações na capital. Fale mais sobre seu plano de governo.

Robaina -

Na área da saúde as pessoas estão abandonadas. Equipes de Saúde da Família são poucas, os postos de saúde também precisam aumentar o horário de atendimento. As políticas para o setor são uma tragédia. Qualquer governo tem que priorizar a saúde, nós também iremos. No plano federal, cortaram R$ 5 bilhões. No plano estadual, o governo não cumpre sequer os 12% determinados pela Constituição. Na questão da segurança, a prefeitura têm limitações, ainda mais por não ser responsável pela Brigada Militar (BM). Por sinal, faltam cerca de 2 mil policiais na capital, que o governo do Estado deveria repor e não faz. O PT, nesse caso, também tem culpa no cartório.

Estamos num quadro em que, ou se combate a miséria, ou teremos uma insegurança permanente. O Rio Grande do Sul terminará como o Rio de Janeiro. Com os salários cada vez mais baixos dos servidores públicos, principalmente os da polícia, a corrupção será incentivada. As milícias na capital carioca começaram dessa forma: salários baixos, precarização e deterioração do tecido social. Com investimento social, a gente pode combater os problemas na área da segurança, dando alternativas às pessoas.

No caso da educação, o mais importante é mudar o tipo de governo. Se o governo combater o parasitismo e os cargos de confiança, os professores serão a vanguarda na administração municipal. Eles serão a categoria mais ativa para ajudar a governar a cidade, mais do que para educar as crianças. Os professores são especiais, ganham pouco e fazem muito.

Fonte: Terra
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