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Política ainda é 'machista', diz única prefeita eleita em capitais

31 out 2012 - 07h58
(atualizado em 1/11/2012 às 17h50)
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William Maia

Em busca de um "caminho próprio" após o divórcio, ela decidiu trocar um sobrenome tradicional na política - com o qual ganhou três eleições - pelo nome de solteira, e acredita que isso não deveria ser uma questão. Ex-mulher do senador Romero Jucá e irmã do radialista e apresentador Emílio Surita, do programa Pânico, a deputada federal Teresa Surita (PMDB-RR) foi a única mulher eleita prefeita em capitais nas eleições deste ano. Para ela a política no Brasil ainda é "muito machista", apesar dos avanços ocorridos nos últimos anos e da eleição da primeira mulher presidente do país.

A prefeita eleita de Boa Vista, Teresa Surita (PMDB), é ex-mulher do senador Romero Jucá (PMDB-RR)
A prefeita eleita de Boa Vista, Teresa Surita (PMDB), é ex-mulher do senador Romero Jucá (PMDB-RR)
Foto: Cyneida Correia / Especial para Terra

Confira a situação nas câmaras

Veja os salários dos prefeitos e vereadores das capitais

"Os partidos cumprem o percentual de candidatas sem levar isso muito a sério", diz Teresa, eleita com 39,21% dos votos para o quarto mandato como prefeita de Boa Vista. Ex-mulher do senador Romero Jucá (PMDB-RR) - de quem se mantém próxima politicamente -, ela afirma que as legendas apenas "cumprem tabela" ao preencher a cota mínima de candidatas exigida por lei. "O dia-a-dia da política nos partidos, nas prefeituras e câmaras de vereadores ainda é dominado pelos homens", diz.

Nesta entrevista ao Terra, Teresa fala sobre seus planos para a cidade de 296 mil habitantes - que não teve segundo turno por ter menos de 200 mil eleitores. Ela promete equilibrar as contas públicas - uma das principais críticas de seus adversários na campanha - ainda no primeiro ano de sua gestão.

Teresa Surita, que é irmã do radialista e apresentador de televisão Emílio Surita, do programa Pânico, também aposta em parcerias com os governos federal e estadual para solucionar os déficits da cidade em habitação, saúde e educação, além de promover a regularização fundiária de casas e propriedades rurais, um dos maiores problemas de Boa Vista.

Na campanha, Teresa foi apoiada pelo governador José de Anchieta (PSDB) e por Jucá, principal articulador politico da campanha.

Terra - A senhora foi a única mulher eleita prefeita entre as capitais nas eleições deste ano. A que atribui esse fato? Sente uma responsabilidade maior sob sua gestão em razão disso?

Teresa Surita -

Querendo ou não, é uma responsabilidade maior, porque o resultado da minha administração, sendo a única mulher prefeita entre as capitais, precisa ser bom, é preciso que haja bons resultados. Os partidos fazem o percentual de candidatas sem levar isso muito a sério. A verdade é que, apesar dos avanços, a política ainda é muito machista. Por mais que nós tenhamos pela primeira vez uma mulher presidente, o dia a dia da política nos partidos, nas prefeituras e câmaras de vereadores ainda é dominado pelos homens. Os partidos tentam cumprir o percentual de candidatas, mas sem a perspectiva real de resultado.

Terra - Esta será a quarta vez que a senhora comandará a Prefeitura de Boa Vista. Quais são seus planos e o que pretende fazer diferente em relação às gestões anteriores?

Teresa Surita -

Estou muito feliz. Embora seja a quarta vez que me elejo, acredito que essa eleição tenha sido a mais difícil, e essa próxima administração será o meu maior desafio. A cidade cresceu demais e a pobreza aumentou, mas esse resultado é uma prova de que eu fiz um bom trabalho. Não é fácil ser eleita prefeita quatro vezes. E essa foi a primeira vez em que me candidatei depois de ter me separado do Romero (Jucá), apesar de ele ainda estar ao meu lado, é meu aliado. Tenho muito claro qual é o meu plano de governo. Não houve negociação de cargos para a construção das alianças, todas as indicações, mesmo aquelas que decorram de um arranjo político, obedecerão a critérios técnicos. Já estamos com o processo de transição em andamento e a composição do secretariado está quase fechada. Quero que Boa Vista seja um exemplo de administração pública nas mais diversas áreas.

Terra - Por que, depois de uma carreira política consolidada como Teresa Jucá, decidiu utilizar nas urnas o nome de solteira?

Teresa Surita -

Porque me separei, e entendi que precisava seguir com o meu próprio caminho, ainda que permaneça próxima ao meu ex-marido. Acho que isso ser uma questão recorrente é um exemplo da visão que o Brasil tem das mulheres na política.

Terra - Apesar de ter sido eleita com uma vantagem ampla de votos, a senhora teve pela frente uma campanha dura, com trocas de acusações, direitos de resposta e até conflitos com parte da imprensa local. Como a senhora avalia a campanha?

Teresa Surita -

Nós ganhamos com uma ampla vantagem, mas para isso tivemos que enfrentar uma campanha de um nível muito baixo. Nossos adversários se utilizaram de práticas que configuram crime eleitoral. Chegaram a distribuir CDs e panfletos que diziam que eu distribuiria nas escolas o "kit gay", como fizeram em São Paulo com Haddad. É muito triste que ainda se faça campanha desse jeito, com mentiras apenas para denegrir a imagem das pessoas.

Terra - A situação fiscal de Boa Vista foi uma das principais críticas dos seus adversários, que disseram que a cidade estava inadimplente. O que a senhora pretende fazer para regularizar as contas da cidade? Tentará renegociar a dívida da cidade com o Governo Federal?

Teresa Surita -

Para toda dívida que precise ser negociada, nós vamos buscar essa renegociação. A situação de Boa Vista não é diferente de centenas de outros municípios que também têm problemas com suas dívidas. Mas acredito que, quando há planejamento, um plano de governo com ações definidas, e criatividade para buscar recursos, é possível investir e equilibrar as contas. E é isso que eu pretendo fazer em Boa Vista dentro de um ano.

Terra - Seu partido, o PMDB, integra a base do governo federal. Como pretende atrair recursos para Boa Vista?

Teresa Surita -

Vou buscar com o governo federal e o governo estadual todas os convênios e parcerias possíveis. Nós tivemos uma queda nos repasses do Fundo de Participação dos Municípios, por isso precisamos ainda mais desses convênios. E no nosso Estado há um agravante, nós não temos indústria, a nossa atividade econômica é muito reduzida. Isso faz com que esses convênios sejam ainda mais importantes e eu pretendo fazê-los, como o Minha Casa Minha Vida, na área da habitação popular, os inúmeros programas do Ministério da Saúde e da Educação, áreas em que Boa Vista é carente e precisa avançar. Há muito a ser feito.

Terra - Outro problema grave em Boa Vista é o da regularização fundiária. Há muitas propriedades, tanto na área rural quanto na urbana sem escrituras e documentos. Como pretende enfrentar essa questão?

Teresa Surita -

No que depender da Prefeitura, vou trabalhar para ter a regularização fundiária em 100% do município. A União está transferindo a titularidade dos territórios para o Estado, e teremos essa parceria com o governo estadual para regularizar essas propriedades. Essa é a primeira vez que haverá uma sintonia, uma parceria forte entre governo do Estado e Prefeitura na história de Roraima. A regularização fundiária é fundamental porque dá segurança ao desenvolvimento econômico.

Fonte: Terra
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