PUBLICIDADE

Política

Sem estrelas, siglas apostam em distribuição de votos para vereador

23 jul 2012 - 14h14
(atualizado às 14h15)
Compartilhar
Exibir comentários

Conseguir vagas na câmara de vereadores é uma tarefa que depende menos da votação que cada candidato recebe e mais do quanto o partido ou a coligação ganha. Isso por causa do quociente eleitoral, que distribui as cadeiras para as alianças ou legendas - e aí sim, dentro delas, entram os indivíduos na ordem de mais votados. Mas a tática para atingir esse quociente é diferente para partidos de grande e de pequeno porte.

Veja o cenário eleitoral nas capitais

Veja os salários de prefeitos e vereadores nas capitais

Entenda como funciona a Justiça Eleitoral

As legendas maiores usam "estrelas" ou "puxadores de voto", personalidades capazes de atrair um número de eleitores muito maior do que a média. Já os partidos pequenos preferem preparar uma lista de candidatos com pesos (potencial de votos) muito semelhantes, para garantir que a sigla consiga uma cadeira mesmo que nenhum de seus candidatos esteja entre os mais votados. A matemática é simples: dez candidatos que consigam mil votos cada, somando 10 mil para a coligação, significam o mesmo na conta eleitoral que um puxador de voto atingindo sozinho os 10 mil - o importante é chegar ao número.

Em 2008, considerando-se as votações nas dez maiores capitais (em número de eleitores, excetuando-se Brasília), 75 vereadores foram eleitos via quociente eleitoral, o que representa 17,7% das 423 vagas somadas. Mais do que isso, em nove delas há legendas que não teriam entrado na câmara se a eleição não fosse proporcional. Rio de Janeiro, Curitiba e Manaus têm cinco partidos nessa situação, e na capital paranaense há oito candidatos que não estão entre os 38 mais votados da cidade. O quociente, independente da tática para arregimentar votos - se com ou sem um puxador -, não discrimina cores ou números: além dos partidos pequenos, grandes nomes como PSDB (em Porto Alegre), PMDB (em Curitiba) e PT (no Rio de Janeiro, em Manaus e em Curitiba), por exemplo, também só chegaram à câmara graças a ele.

Candidatos com chances iguais

"Nos partidos grandes, os 10 mais votados vão bem, depois cai de 15 mil votos cada para 6 mil, 7 mil, (um movimento) que a gente chama de 'o rabo ajuda a eleger a ponta'", diz o presidente regional do PTN-RJ, Jorge Esch. "Em partido pequeno, como todos os candidatos têm o mesmo potencial, ninguém puxa mais, é difícil até avaliar quem vai se eleger", continua. No Rio de Janeiro e em Porto Alegre, a coligação do partido emplacou uma e três vagas com o quociente, respectivamente, embora nas duas cidades a legenda em si não tenha colocado representantes na câmara.

O membro da executiva estadual do PSB-RS, Carlos Orling, exemplifica a tática da chapa "homogênea" com Porto Alegre, onde o quociente em 2008 foi de 21 mil votos. Para o partido ter as duas cadeiras que almeja na câmara, precisaria de 42 mil votos. "Se tivermos 30 candidatos a vereador com mil votos (cada), ninguém se destaca, mas (a legenda) faz quase um quociente e meio (31,5 mil). Se os outros candidatos fizeram mais ou menos 500 votos cada, a sigla faz o outro meio (quociente) e fecha duas vagas."

A escolha desses candidatos, por outro lado, não é tão simples, pois é difícil prever quantos eleitores apoiarão cada pretendente. Os que já participaram de um pleito levam vantagem, por terem uma espécie de 'prova concreta' dos números. "No caso de um ex-candidato a deputado que fez 25 mil votos só na capital, pelo perfil a gente imagina que ele tem potencial para repetir os votos e ser eleito", explica o secretário nacional do PSL, Roberto Siqueira. O partido elegeu Dirceu Moreira, em Curitiba, com quase 2,6 mil votos, e deixou Sandoval, do PTB, que teve quase o triplo com 7,2 mil, de fora.

"Procuramos identificar alguém que exerça liderança, seja classista, do movimento negro, movimento de mulheres, de alguma comunidade, e aí procuramos convencer essa pessoa a concorrer pela nossa legenda", conta Orling, do PSB. No partido, está no estatuto que ganham prioridade os candidatos que comprovadamente forem engajados com sindicatos profissionais, associações de bairros, grupos de tradição (como os CTGs gaúchos) e afins.

O PTN também leva em conta esses vínculos, e dá um passo adiante na hora de considerá-los. Com um sistema desenvolvido pelo próprio partido, cada pré-candidato cria um "conselho", onde os apoiadores se cadastram e participam das discussões sobre o plano de governo do pretendente à câmara. "A ideia é acabar com aquele candidato que chega pedindo uma vaga (no partido) e diz que é de associação de moradores, que vai ter 6 mil votos, e quando chega nas urnas ele teve 300 votos; agora no PTN ele vai ter que mostrar que tem trabalho na comunidade, para ela se agregar a ele", detalha Esch.

Coligações

As coligações, assim como a chapa homogênea, exercem influência fundamental no atingimento do quociente, uma vez que nesse caso somam-se os votos obtidos por todos os candidatos da aliança, independente do partido. A tática, no caso dos partidos menores, costuma ser "coligar com quem é do seu tamanho", resume a coordenadora de coligações do PPS-RS na capital gaúcha, Márcia de la Torre. Em Porto Alegre, em 2008, o partido conquistou três vagas por quociente. Com 64.503 votos totais, a coligação com PR, PCdoB, PTdoB e PMN emplacou Elias Vidal (PPS) com 3.381 votos, deixando de fora Thiago Duarte (PDT), que somou 6.100 votos.

"Quando um partido pequeno coliga com um grande, aquele vai ser engolido", concorda o presidente nacional do PHS, Paulo Roberto Matos. Em 2008, o PHS, coligado com o PTN, colocou Marcelo Piui na câmara carioca com 3,2 mil votos, deixando o tucano Luiz Carlos Ramos, que fez 17.658 (mais de cinco vezes mais), de fora do legislativo municipal. A ideia de coligar com legendas do mesmo porte é que, com a mesma perspectiva de número de votos, os candidatos de todos os aliançados tenham uma possibilidade real de entrar na câmara.

"Não adianta coligar com um PSDB, PMDB, PT, porque eles têm candidatos com potencial muito alto, aí seríamos apenas 'escadinhas', a chance de eleger um dos nossos seria muito pequena", ilustra Ciqueira, do PSL. A coligação entre partidos pequenos também faz "crescer o numero de bons pré-candidatos que vêm para o partido, porque eles visualizam uma chance real de eleição", completa o vice-presidente regional do PTC-RJ, Gabriel Rodrigues Lopes. No Recife, em 2008, o partido fez quatro vagas na câmara, três delas pelo quociente eleitoral.

Lopes acrescenta que a tática de tentar candidaturas "puras" - sem coligações - ou com partidos menores, também é guiada pela questão da visibilidade. "Não é interessante ficarmos sempre na dependência de um partido maior", argumenta. Orling, do PSB, aponta que observar apenas a legenda não é suficiente. "Não é o tamanho do partido, é o potencial individual de cada candidato", continua, "se em um partido há quatro pré-candidatos que vão disparar, não vale a pena".

Esch, do PTN, pondera que a participação de uma legenda de mais peso pode ajudar em relação aos custos da campanha. "Vamos sair sozinhos nas proporcionais, mas temos a chance de fazer uma boa coligação na majoritária e ela nos ajudar com recursos, material de campanha", ilustra. A perspectiva da legenda no Rio de Janeiro é chegar a duas cadeiras, com sérias intenções de atingir a terceira.

Márcia, do PPS, contrapõe o argumento afirmando que "a campanha é mais barata se é preciso fazer menos votos". Ela se refere ao fato de que, com o quociente, um candidato individualmente pode ter um número menor de eleitores e ainda assim garantir a vaga na câmara. "São candidatos com potencial de 1,5 mil, 2 mil votos, e a campanha é de rua, de porta em porta nos bairros, a população sabe quem é o vereador de um bairro ou de uma classe", explica.

"Fazer mil votos em Porto Alegre (um colégio que em 2008 contou com quase 760 mil votos válidos) não é fácil, para 36 cadeiras são quase 500 candidatos", resume. Já Siqueira, do PSL, discorda. Lembrando-se do desempenho da coligação em Guarulhos nas últimas eleições, ele observa: "não fizemos a terceira cadeira por cerca de 600 votos, em uma cidade com 700 mil eleitores isso não é nada". A cidade da grande São Paulo, onde há 34 vagas, teve quociente de 21.950 em 2008.

Votos de legenda

Os votos de legenda, quando o eleitor escolhe o partido em vez do candidato - digitando dois números em vez dos cinco para vereador -, também fazem a diferença. Em Porto Alegre, nas últimas eleições, mais de um quarto dos votos (16.466) da coligação do PPS foram em legenda, 90% dos quais para o PCdoB. As três cadeiras conquistadas foram para os socialistas, enquanto os comunistas ficaram com as três vagas de suplentes.

Todos os partidos consultados pelo Terra garantem que terão estratégias especiais para estimular o voto de legenda. À parte o que cada um fará para gravar os seus dois dígitos na cabeça do eleitor, alguns também farão coligações, para as proporcionais, com partidos que têm candidatos nas majoritárias. "A disputada majoritária traz grande visibilidade e repercussão, e isso reflete na proporcional", explica Lopes, do PTC.

O secretário de comunicação do PPS-SP, Maurício Huertas, ilustra com a situação de seu partido. Ele diz que a sigla "nunca foi forte nos votos de legenda", mas que a chegada de Soninha Francine, ex-vereadora e que se candidatou à prefeitura paulistana em 2008, fez a agremiação ganhar força: no último pleito municipal, foram 61,6 mil votos no partido. "Quando tem um candidato a cargo majoritário é mais fácil ter voto de legenda, a tendência é que se o eleitor for votar na legenda vai repetir o (número do) cabeça de chapa", explica.

Fonte: Terra
Compartilhar
Publicidade
Publicidade