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Política

Nárcio, do PSDB-MG: "insatisfeito pode se queixar ao bispo"

1 nov 2010 - 15h37
(atualizado às 16h20)
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Juliana Prado
Direto de Belo Horizonte

Se o tucanato paulista e o mineiro já não dividiam o melhor dos mundos durante a campanha de José Serra à Presidência da República, o tempo ameaçou fechar com a derrota do candidato para Dilma Rousseff (PT). As rusgas entre os tucanos dos dois principais colégios eleitorais do Brasil foram escancaradas na noite de domingo (31), assim que os números foram confirmados.

O coordenador do programa de governo de Serra, Xico Graziano, atacou o ninho mineiro, ao questionar, em seu Twitter, o tamanho da derrota do candidato do PSDB no Estado. "Perdemos feio em Minas, por que será?". A provocação nada velada ao ex-governador Aécio Neves (PSDB), que foi insistentemente cobrado a se empenhar mais na campanha de Serra, era o primeiro sinal aberto do crescente estranhamento entre as duas alas tucanas.

A primeira reação veio minutos depois da provocação de Graziano. Coube ao presidente estadual do PSDB-MG, Nárcio Rodrigues, retrucar o ataque, chamando o coordenador paulista de "arrogante" e entrando na briga, enquanto Aécio acompanhava de longe e recolhido os desdobramentos do que poderia ser o início de uma crise interna.

O presidente do PSDB, Sérgio Guerra, vestiu a farda de bombeiro ainda na noite de ontem, depois da fala em que Serra reconheceu a derrota. "Xico Graziano é um companheiro de grande qualidade, mas essa manifestação dele não tem o nosso apoio, nem o do partido e nem da campanha", disse Guerra. "Não é a questão de perder feio em relação a companheiros que fizeram uma campanha dura a presidente da República. Não tem sentido. Não vamos fazer essa contabilidade de quem ganhou feio ou quem ganhou bonito".

Nesta segunda-feira (1), Nárcio Rodrigues voltou ao assunto, em entrevista ao Terra, para minimizar os estragos que este tipo de discussão possa trazer para o PSDB (confira íntegra abaixo). No entanto, ele não abandonou o discurso duro contra a postura adotada pelo tucano paulista, a qual classificou como "ofensiva" por não reconhecer o envolvimento de Aécio na campanha. Mesmo tentando passar uma imagem de que o partido está pacificado, alfinetou: "se alguém estiver insatisfeito, que vá se queixar ao bispo".

Outro dirigente mineiro a entrar como bombeiro para esfriar o mal-estar é o secretário geral do PSDB, Rodrigo de Castro. Para o deputado federal, responsável pela coordenação de Serra em Minas, não existe cisão. Mas, em entrevista após o anúncio da derrota de José Serra, também mandou recado: "O fundamental hoje é termos um partido unido. Não se faz um projeto presidencial pensando em hegemonia de um determinado estado em relação ao outro".

A seguir, confira a entrevista com o presidente do PSDB-MG, Nárcio Rodrigues:

Terra - Como fica a situação agora entre o partido em Minas e São Paulo depois deste desentendimento e troca de acusações?

Nárcio Rodrigues - O grande aprendizado desta eleição é saber que ninguém perde por acaso. O PSDB já perdeu três eleições, duas com Serra e uma com o Geraldo Alckmin. O mais importante agora é tirar lições, nos aproveitando do fato de termos eleito oito governadores. Temos que revisar nossas bandeiras e buscar ampliar nossas alianças. Não há necessidade de mudarmos nossas alianças, como com o DEM, por exemplo. Afinal, você não pode descartar um companheiro. O que é preciso é uma maior união de forças.

Terra - Mas um endurecimento nas relações internas e as conseqüentes cobranças sobre Aécio Neves, podem piorar o clima no PSDB...

Nárcio Rodrigues - Acho que deve ser feito um balanço olhando-se para a frente e não apontando o dedo para criar culpados por uma derrota que tem vários fatores para explicá-la. O Alckmin e o Serra têm a noção da importância do PSDB de Minas Gerais e do Aécio. São manifestações isoladas (as declarações de Graziano). O fato é que o Aécio não pode ser tratado como subproduto. Ele é uma liderança importante e tem que ser tratado como tal. A partir de agora, como senador, ele trará para a cena nacional sua capacidade de articulação. O Aécio pôs todo seu prestígio a serviço do Serra. Só espero que São Paulo não faça com que Aécio se arrependa de ter feito isso. Ele merece é gratidão.

Terra - O sr. comunicou ao ex-governador Aécio que iria responder ao Graziano por meio de nota?

Nárcio Rodrigues - A iniciativa foi minha e é claro que eu comuniquei a ele. No entanto, avisei depois que já tinha feito, alertando que a história ia estourar... O fato é que começa a gerar desconfiança, sim, essa atitude dos paulistas. Por mais que nos engajemos, sempre parece que estamos "escorregando". Mas agora, com Aécio eleito senador, ele estará longe dessas picuinhas regionais. É inevitável que se torne uma liderança nacional.

Terra - O PSDB de Minas ainda acredita que se o candidato tivesse sido Aécio, e não Serra, o cenário hoje seria outro?

Nárcio Rodrigues - O Aécio saiu naturalmente da disputa à vaga de candidato à presidência. Entendemos que aquela hora era a do Serra e ele respeitou isso. Foi uma prova de maturidade.

Terra - O sr. não acha necessário que entre em cena um bombeiro para evitar maiores danos?

Derrotado, José Serra parabenizou Dilma e disse que "batalha começa agora"
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Foto: Fernando Borges / Terra
Nárcio Rodrigues

- Bom, nós não temos dívidas de cartório. Estamos com a consciência tranquila. Se tiver alguém insatisfeito, que vá se queixar com o bispo. É uma ofensa dizer que Aécio não se esforçou. Será que vamos começar a criar fogo amigo, a atirar contra nós mesmos?

Fonte: Especial para Terra
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